Por Léa Lobo
A DuPont é uma empresa global pública multi-indústria, sediada nos Estados Unidos, que fabrica materiais altamente especializados. São mais de 20.000 funcionários que trabalham em mais de 50 países com um propósito compartilhado: empoderar o mundo com inovações essenciais para prosperar. Em 2019 houve uma transformação estratégica na DuPont, momento em que se transformaram em uma empresa líder em várias indústrias, alinhada ao portfólio e inovação para criar um maior valor e impacto.
Atualmente, trabalham em conjunto com os clientes para atender às necessidades de água limpa, eletrônica, proteção pessoal, construção, veículos elétricos e materiais especializados para cuidados de saúde, aeroespacial e outras indústrias.
Na DuPont, focam em como produtos, operações e pessoas podem contribuir positivamente para resolver os desafios do mundo atual. Com mais de 200 anos de história, a empresa tem uma longa trajetória no Brasil, tendo atuado ao longo do tempo em diversos setores industriais, como química, agricultura, eletrônica, construção e saúde. Alguns de seus produtos mais destacados incluem Nomex® e Kevlar® na indústria química, materiais eletrônicos avançados, produtos de construção como Corian® e Tyvek® e soluções para cuidados de saúde.
A transformação da empresa resultou na mudança da sede corporativa da DuPont para um novo prédio em Alphaville, na cidade de Barueri/SP, consolidando sete sites com infraestrutura adequada para os laboratórios da empresa. Agora, tudo está integrado em um único edifício, que recebeu as certificações LEED Gold e WELL Platinum.
Quem vai nos contar sobre este projeto é a líder de Facilities Services & Real Estate Brasil, Daniela Galante. Arquiteta, que possui 15 anos de experiência na área de gerenciamento de facilities e está na DuPont há 5 anos. A profissional se destaca por liderar projetos sustentáveis, como a certificação Leed Gold e Zero Energy. Gerenciando equipes multidisciplinares, sua atuação abrange operações, sustentabilidade e participação em processos de fusões/aquisições. Como parte do Conselho diretor da empresa no Brasil, garante que a atuação da área esteja sempre alinhada com os objetivos estratégicos da empresa. Atualmente, Daniela também é líder de DE&I Latam.
O objetivo com a entrevista com a Daniela Galante é fornecer ao leitor informações valiosas sobre o processo e os desafios enfrentados por este projeto BTS (built-to-suit), bem como sobre como a nova sede está impactando positivamente os negócios da DuPont, acompanhe:
Como surgiu a decisão de mudar a sede da DuPont para um novo prédio em Alphaville/SP?
Na DuPont organizamos nossa estratégia global em torno de três pilares fundamentais: inovar para o bem; proteger as pessoas e o planeta; e capacitar as pessoas para prosperar. Dentro destes três pilares, nove objetivos continuam a moldar o nosso portfólio de inovação, a nossa estratégia operacional e o nosso compromisso com as nossas
pessoas e comunidades.
A nossa jornada de transformação empresarial está interligada com a nossa jornada de sustentabilidade, fortalecendo o nosso portfólio de negócios e focando o nosso investimento na inovação para uma escala impactante. Para o Brasil, a mudança anunciada no final de 2017 adicionou empresas que necessitavam de mais laboratórios e escritórios, criando a necessidade de um novo espaço. O projeto One Roof reuniria escritórios e laboratórios de Alphaville, São Paulo, Cotia, Paulínia, Campinas, Hortolândia/SP e Esteio/RS em um único local na região de Alphaville. Esse projeto criaria sinergia para os negócios através de um ambiente colaborativo e instalações de ponta.
Por que optaram por um projeto BTS?
Por se tratar de um projeto com necessidades muito específicas devido às instalações de laboratório, ficou claro que o desenvolvimento de um novo edifício a quatro mãos com a Tishman Speyer seria a melhor solução, tanto em custo como em resultado.
Qual foi a visão por trás da busca pelas certificações LEED Gold e WELL Platinum?
Somos membros da RE100, uma iniciativa global que reúne empresas líderes comprometidas em comprar 60% da sua eletricidade de fontes renováveis nas suas operações até 2030.
Aumentamos o nosso uso de energia renovável globalmente, incluindo RECs, em 2021 para 15% e assinamos um acordo de energia renovável de longo prazo, aqui no edifício já usamos, para aproximadamente 25% das necessidades totais de eletricidade da DuPont a partir de 2023. O processo de transformação da nova DuPont abriu oportunidades em todas as regiões e nos possibilitou reafirmar nosso compromisso com a proteção do planeta, criando um design sustentável para a nova sede no Brasil.
Como foi o processo de planejamento para esse projeto? Quais foram os principais objetivos estabelecidos?
O projeto foi desenvolvido dentro da metodologia FEL – Front End Loading, que prevê portões de autorizações à medida em que se avança no grau de maturidade do projeto, o que está dentro das melhores práticas de gestão. Outras características relevantes foram a gama de modalidades do tipo de contratações utilizadas. Uma parte significativa da contratação para o fit out foi na modalidade de Empreitada Global, entre outros contratos de fornecimentos diretos à DuPont para os principais equipamentos da planta de utilidades. Essa complexidade demandou muita habilidade e controle por parte da gerente do projeto, sempre respeitando quatro principais objetivos: prazo, qualidade, custo e, acima de tudo, segurança.
Quais critérios foram considerados ao escolher o local e o projeto de construção?
A DuPont está em Alphaville, na cidade de Barueri/SP, desde 1981, então a ideia foi permanecer na região. Com o objetivo de termos um edifício de alta performance e sustentável, a escolha do complexo no qual estamos inseridos foi fundamental por já apresentar alguns recursos que facilitariam esse processo, além de estar próximo aos acessos da Rodovia Castelo Branco e do Rodoanel, fato importante, pois o novo site reuniria pessoas vindas de cidades do interior.
Como a equipe abordou os requisitos para obter as certificações LEED Gold e WELL Platinum?
Globalmente, alcançamos uma redução de 10% em nossas emissões globais de GEE de escopo 1 e 2 em comparação ao ano anterior, o que nos permite continuar cumprindo nossa meta de redução de emissões de GEE para 2030 de 30%. Além disso, concluímos nosso inventário de Escopo 3, identificando oportunidades prioritárias para reduzir nossa presença na cadeia de valor.
Nesta linha, o projeto focou em ter um edifício eficiente e de alta performance (melhor aproveitamento de todos os recursos: arquitetura passiva, materiais, água.) as certificações vieram como consequência do trabalho e dos resultados obtidos pelo prédio. Os parâmetros de projeto foram ambiciosamente estabelecidos acima das melhores normas internacionais (Ashrae, por exemplo).
Quais foram os principais elementos de design e construção que contribuíram para alcançar essas certificações?
A simulação computacional do prédio proporcionou a otimização da estrutura e de todos os sistemas utilizados, a coleta e tratamento de águas pluviais e efluentes para reuso também contribuíram bastante. A provocação feita pela empresa de consultoria contratada, Petinelli, aos projetistas de iluminação para sair de 11w para 6w por m2, e mesmo assim garantir a quantidade de lúmens necessária, por exemplo, foi desafiadora porém alcançada.
O projeto de interiores foi desenvolvido em parceria com a Athié Wohnrath e, desde o início, já tinha como foco principal o bem-estar do usuário. Tratamos em projeto os temas para atender aos dez pilares da certificação WELL, como um design que estimulasse o movimento, que garantisse o máximo possível de iluminação natural e que tivesse a temperatura de cor correta nas luminárias, comunicação visual informativa, entre outros.
Quais foram os desafios mais significativos encontrados durante o projeto e como foram superados?
O primeiro desafio foi fechar o contrato BTS com todas as nossas demandas atípicas, resultando em meses de trabalho para desenvolvimento do projeto do edifício em conjunto com a Tishman Speyer. Para construir um edifício de alta performance e certificado, sem custo adicional, foi necessário motivar e estimular todos os envolvidos a buscarem soluções “fora da zona de conforto” e inovadoras. O maior desafio, na minha opinião, foi a finalização dos projetos e todo o período do fit out durante a pandemia de Covid 19, conseguimos superar com planejamento estratégico, alinhamentos diários com todos stakeholders, disciplina e muito cuidado com as questões sanitárias durante a obra.
Houve alguma inovação ou solução única implementada para atender aos objetivos de sustentabilidade?
Instalamos um equipamento com as membranas de ultrafiltração da DuPont que nos dá uma barreira a mais e garante que a nossa água seja livre de vírus e bactérias, essa tecnologia vem sendo aplicada em diversos projetos de saneamento e produção de água potável em todo o país; automação de todos os sistemas disponíveis no edifício, o que faz com que tenhamos um controle maior e que permite ajustes precisos de acordo com a ocupação, por exemplo. Priorizamos a iluminação natural, usando sistema Dali com tecnologia capaz de variar automaticamente a iluminância conforme a intensidade de luz externa. Usamos materiais da própria DuPont como Corian nas áreas de café e restaurante, asséptico, que facilitou muito o processo de limpeza e lâmpadas UV e roda entálpica nos sistemas de HVAC. Além disso, enviamos 100% dos resíduos orgânicos para compostagem.
Quais são os principais benefícios ambientais decorrentes da certificação LEED Gold e WELL Platinum?
Quando comparados a edifícios de mesmo porte, somos 32% mais eficientes em consumo de energia e 67% em consumo de água potável com a água de reuso, além do uso de energia renovável. Com o WELL, garantimos um ambiente saudável e seguro para os ocupantes.
Como o projeto contribui para a redução da pegada de carbono da DuPont?
Diminuímos o footprint com a unificação de sete sites em um, conseguimos redução do consumo de energia atendendo aos requisitos da certificação LEED e realizamos um trabalho de otimização dos meios de transportes. Esses fatores contribuíram para o início da operação reduzindo emissões. Além disso, monitoramos as emissões de GHG escopo 1 e 2.
Como a certificação Well Platinum impactou o bem-estar dos funcionários na nova sede?
Como empresa, estamos comprometidos com uma meta contínua de zero lesões, doenças ocupacionais e incidentes e obtivemos um forte desempenho de segurança entre as 10% principais empresas similares. A certificação WELL é uma garantia de que nossa operação é eficiente e saudável. WELL tem soluções estruturais que vão desde um posto de trabalho ergonômico, amplo e bem iluminado, até soluções mais holísticas como, por exemplo, programa de incentivo à atividade física, palestras e materiais sobre saúde mental e nutrição.
Quais são as características do prédio que promovem um ambiente de trabalho saudável e produtivo?
100% dos postos de trabalho com exposição a luz natural, temperatura de cor específica nas luminárias a fim de promover bem-estar e produtividade, disposição do layout de maneira que as pessoas são obrigadas a se movimentar pelo andar, jateamento de celulose na laje para melhor conforto acústico, lactário, área de foco (quiet zone) e bicicletário. Além disso, o restaurante e a lanchonete atendem aos mais diversos requisitos, tais como, prioridade para alimentos saudáveis como frutas, verduras e legumes e menor exposição de alimentos industrializados como refrigerantes e ricos em açúcar e gordura.
Como a colaboração entre diferentes partes interessadas, como arquitetos, construtores e equipe da DuPont, desempenhou um papel fundamental no sucesso do projeto?
Selecionamos parceiros de 1ª linha para atender a cada demanda. A colaboração foi construída ao longo do processo, fomos incluindo novas equipes, novos integrantes e o time foi criando identidade. A sinergia desenvolvida, atipicamente à distância, foi base para o bom desempenho dos projetos e início dos trabalhos in loco, minimizando retrabalho e mudanças de escopo.
Como a equipe envolveu os funcionários da DuPont no processo de mudança para a nova sede?
A partir da data de assinatura do contrato do BTS, iniciamos um processo de Change Management, que seria fundamental para manter a motivação pelo período de dois anos. Elegemos champions para fazerem a interface com a população, diversas pesquisas sobre expectativas em relação ao novo espaço e a serviços e mockups de mobiliário para avaliação. Promovemos workshops, presenciais inicialmente e remotos na maior parte do processo. Esse trabalho acabou por tomar uma proporção além do planejado e foi parte importante dos esforços em manter os ânimos elevados durante o período da pandemia.
Quais foram os resultados mais notáveis do projeto após a mudança para a nova sede?
Temos um design tão focado em colaboração e bem-estar do usuário que, mesmo com as premissas geradas no pós pandemia, nenhuma alteração foi necessária, o layout já atendia às novas demandas. O feedback de visitantes e clientes é incrível, as instalações de escritórios e laboratórios que temos aqui são de primeira linha e seu design permite que as áreas de negócio apliquem e demonstrem as mais diversas e inovadoras soluções do vasto portifólio da empresa.
Quais lições a equipe do projeto aprendeu que poderiam ser úteis para outras empresas que buscam projetos sustentáveis?
Principalmente desafiar o status quo e o “sempre foi assim”, engajar os especialistas dos projetos complementares provocando-os a ir além e desenvolver soluções arrojadas. Foi dessa forma que alcançamos resultados surpreendentes e, consequentemente as certificações, sem aumento de capital.
Como a DuPont planeja manter e aprimorar seu compromisso com a sustentabilidade no futuro?
Criamos métricas de sustentabilidade que são monitoradas regularmente. As definições de metas anuais de negócio e individuais, devem incluir itens que estejam alinhados com os objetivos estratégicos globais de sustentabilidade, além de engajamento em ações e atividades de DE&I.
Existem planos para expandir ou replicar esse modelo de prédio em outras localizações da empresa?
Deste projeto saiu um “spin off” chamado HPB (High Performance Building), uma iniciativa que se propõe a aplicar todo o conhecimento diferenciado obtido no projeto para todos os novos empreendimentos e edifícios existentes da DuPont globalmente. Iniciamos com um piloto na sede da DuPont em Wilmington, Delaware, que deve ter seus primeiros resultados nos próximos meses.
Destaque outros projetos sustentáveis, como o EnergyZero.
Eu sempre digo que nós “gostamos da brincadeira” e agora estamos sempre atrás de algo novo. Estamos trabalhando no projeto LEED ZERO, já alcançamos a certificação Zero Energy, estamos em processo de implantação do Zero Waste, que visa o descarte em aterro de até, no máximo, 10% do volume total de resíduos gerados pela operação e iniciamos as tratativas para o Zero Emissions.
Como a alta diretoria da DuPont percebe o valor do projeto da nova sede e, principalmente, da área de FS&RE (Facilities Services & Real Estate)?
A alta diretoria deu total suporte ao projeto da nova sede e não mediu esforços para que esse edifício fosse sustentável, eficiente e inclusivo, fazendo jus a dois dos valores da empresa “Proteção ao planeta”, “Respeito às pessoas” e às boas práticas de ESG. Faz parte dos objetivos estratégicos da empresa cumprir com as metas de 2030 da ONU e o nosso projeto contribuiu, e continua contribuindo, diretamente para isso. Esse projeto, inclusive foi menção honrosa em um importante prêmio global da DuPont – Engineering Excellence Award 2023.
Como área, podemos contribuir fazendo uma gestão eficiente dos recursos e instalações, excelência operacional é fundamental. Ao trabalharmos alinhados com os objetivos estratégicos da empresa, aumentamos a competitividade, contribuímos para a atração e retenção de talentos e promovemos um ambiente de trabalho sustentável, eficiente, diverso e inclusivo.