Por Mateus Murozaki
Foto: Canva.com/Paralaxis |
Pequenas mudanças podem fazer uma diferença impactante nas operações. Pense em quanto sua equipe de limpeza gasta em água e produtos químicos só para limpar banheiros, corredores e saguões que não estão tão sujos, e como, às vezes, áreas que necessitam de limpeza acabam sendo ignoradas por equipes que as limparam há pouco tempo.
Essa situação, como muitas outras, se resume a dados, tanto o levantamento quanto na análise destes, e nas decisões que são tomadas a partir daí. Não é loucura dizer que toda operação deve ter como base os dados obtidos ao longo do tempo, pois são eles que pavimentam os caminhos para a eficiência.
Um caso interessante é o do Aeroporto Internacional de Viracopos, localizado em Campinas, que obteve sua maior nota na pesquisa de satisfação da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Em uma escala de 1 a 5, a nota média de limpeza de banheiros ficou em 4,52 no primeiro semestre do ano, impactando positivamente a nota geral do local.
"De todos os itens de infraestrutura que podem impactar o usuário, a limpeza do banheiro é de longe o principal. Então, acaba afetando muito a nossa percepção, pois, como usuário, é um impacto muito grande na avaliação de qualidade", comenta Leandro Simões, CEO da EVOLV Tecnologia, empresa especializada em soluções de IA e IoT nas áreas de Facilities e manutenção.
A startup está presente em cerca de 15 aeroportos no Brasil, com Viracopos sendo um deles. Foram instalados sensores nas portas do banheiro que monitoram o fluxo de pessoas, disparando alertas e avisos das áreas de maior demanda de limpeza. Simões se refere a isso como "limpeza on-demand", um sistema que proporciona uma melhor experiência ao usuário, já que este raramente vai encontrar um banheiro descuidado. Além disso, representa um aumento considerável na eficiência da operação, resultando em redução de custos e desperdício de água e produtos de limpeza.
"O interessante é que geralmente a gente começa com o tema da limpeza, que é um tema muito relevante para os aeroportos, e aí quando o cliente começa a usar essas tecnologias de IoT, ele começa a expandir, como um outro exemplo no aeroporto de Recife, que começou com a limpeza, só que hoje a gente entrou na área de manutenção", comenta o CEO. As soluções implementadas incluem chillers e monitores de pressão, temperatura e umidade.
Além da presença em aeroportos ser significante, a EVOLV vê também grande potencial em hospitais, onde a parte de manutenção e o trabalho de gerenciamento de operação são mais críticos. Em 2022, a startup ganhou o prêmio da HIS por um case do Hospital Delphina Aziz, onde até a área de nutrição conta com monitoramento para garantir que as bandejas de comida e carrinhos estejam na temperatura correta.
O impacto da quarta revolução industrial nas operações
"Todo mundo fala de carro conectado, de ChatGPT, é o hype do momento, mas quando você vai no chão de fábrica, o que tá se aplicando ainda é muito pouco". Simões comenta isso em relação ao potencial da IA e IoT em operações, que ele considera enorme. A Indústria 4.0, ou Quarta Revolução Industrial, colocou em evidência machine learning, IA e tecnologias integradas dentro de empresas do mundo todo, mas, de acordo com o profissional, o setor que menos estava servido era justamente o de Facilities, fazendo com que a área saísse atrás na corrida por modernização. A EVOLV nasceu disso, visto que a equipe que encabeçou o projeto já vinha de experiências com telecomunicação.
Voltando ao início, tudo se resume a dados, e, agora, é muito mais fácil obtê-los e planejar os próximos passos com base neles. A grande dificuldade de implementar tecnologias 4.0 na operação era a necessidade de um hardware em uma ponta que conectasse com os softwares em outra ponta. Para mitigar possíveis riscos, a EVOLV utilizou da experiência em telecomunicação para desenvolver uma rede que conecta ambos de maneira exclusiva. Dessa forma, o hardware que coleta os dados consegue se comunicar com o software que os recebe sem atritos no meio do caminho, garantindo assim uma operação eficiente e estável.
O próximo passo da empresa é facilitar e remover obstáculos da base das operações. Um exemplo disso é um crachá de reconhecimento que, quando captado pelo sensor, instantaneamente registra o local, hora e pessoa responsável pela limpeza que esteve ali. Isso elimina, por exemplo, papéis que devem ser assinados para confirmação de presença ou os muito utilizados QR Codes.
O CEO comenta, por fim, a importância dessa e de outras ideias voltadas para facilitar o trabalho do colaborador na base: "O futuro desse mercado é a gente conseguir fazer coisas com muita tecnologia por trás, mas muito simples e sem fricção para a turma da ponta, né? É o que a gente se empenha em fazer, então, hoje, por exemplo, embora a gente tenha a solução de IoT, algoritmo de aprendizado que a gente tem aqui no celular, rodando por trás na plataforma, para a equipe que limpa o banheiro na ponta, não muda nada o que eles já faziam".