Por Léa Lobo
Nesta entrevista, o leitor acompanha experiências e perspectivas do Diretor Executivo da FASA Gestão, Francisco Abrantes, que possui uma carreira rica e diversificada na área de Facility & Property Management e tem desempenhado papéis significativos, tanto a nível nacional quanto internacional. Suas contribuições para o setor e seu envolvimento em organizações são notáveis. Além disso, seu livro e seu compromisso com o desenvolvimento da profissão demonstram seu profundo envolvimento e paixão pelo setor.
É inspirador ver como Francisco Abrantes vê o futuro da área de FM como uma evolução para se tornar estratégica e focada na experiência do usuário. Essas tendências refletem a importância crescente de proporcionar ambientes de trabalho eficientes e agradáveis, especialmente em um mundo em constante mudança. Acompanhe nossa entrevista:
Com mais de 35 anos de experiência no setor, qual foi o principal motor de sua trajetória em empresas nacionais e multinacionais?
Difícil apontar um único “motor” que tenha alavancado a minha carreira. Poderia enumerar muitos! Talvez ressaltar o trabalho em equipe como o grande diferencial. Como líder, saber extrair o melhor de cada um da equipe e com isso obter resultados acima da média, que surpreendam o cliente e, consequentemente, o seu empregador como um todo é algo bem tangível. Me ocorre evidenciar também um traço importante nos profissionais da área de FM e que me orgulho muito de ter como skill, que é o dinamismo, não se acomodando e buscando sempre por novidades.
Como Diretor Executivo/COO da FASA Gestão Ltda, quais são os principais desafios e recompensas de fornecer soluções para empresas em diversos setores no Brasil?
Me orgulho muito de ser o fundador dessa empresa que vem prestando serviços para o mercado de FM e afins desde 2012, ininterruptamente. Sobreviver no mercado brasileiro não é fácil. Quantas empresas ao longo desses 12 anos já fecharam, algumas por não suportarem a concorrência ou por não oferecerem soluções que as fizessem se diferenciar no mercado; outras, contudo, por não suportarem o emaranhado legal e tributário do nosso querido Brasil. Empreender no Brasil não é fácil! A recompensa é enorme, começa quando você ganha um contrato e segue quando você finaliza o projeto e vê que agregou valor aos processos do cliente.
Você mencionou um contrato de longo prazo relacionado à gestão no setor de mineração em áreas remotas, incluindo a Floresta Amazônica. Quais são as particularidades de gerir projetos em regiões tão distintas e ambientalmente sensíveis?
Sim, o contrato que me levou a fundar a empresa no final de 2012 foi de uma mineradora que estava iniciando operações no sudeste do estado do Pará, dentro de uma área remota, distante 230km da cidade mais próxima, com 100% do acesso via estrada de terra. Lembro-me até hoje eram 28 pontes (se podemos chamar algumas de pontes!!). Todas, sem exceção, eram feitas de troncos de árvores. Em muitas dessas pontes, os passageiros tinham que descer para guiar o motorista, além de reduzir o risco, caso alguma eventualidade acontecesse com o veículo durante a travessia. Gerir uma operação em área remota requer um planejamento arrojado e bem detalhado, precisa-se pensar em tudo, desde o remédio para dor de cabeça até o combustível para os geradores, passando pela compra e armazenamento adequado de todos os insumos para a cozinha, por exemplo. Alojamento, apoio administrativo, transportes e por aí vai. Tive essa grande experiência, quando dentro do meu portfólio tive a maior mineradora do Brasil como cliente. Administrávamos uma cidade com +1.200 casas, 02 hotéis, ETA, ETE, rodoviária, templos (sim há uma área reservada para esse tipo de atividade, com inclusive, uma loja maçônica), centro comercial, serviço de coleta de lixo, centro de reciclagem, gestão da frota de ônibus enfim foi um grande aprendizado para, posteriormente, colocar em prática numa mineradora em início de operação.
Sua experiência em empresa da área de prestação de serviço como a JLL Brasil como Diretor de Operações certamente foi valiosa. O que você diria que foi o maior aprendizado dessa fase da sua carreira?
Foi riquíssima. Agradeço muito por ter tido essa experiência. Até então, só tinha tido experiência como contratante e na JLL pude ver o outro lado da mesa, administrando inúmeros contratos que me deram uma visão ampla e bastante estruturada sobre gerenciamento de contratos, CRM, compliance, formação de preço, entre outros.
Sua atuação internacional é notável. Há alguma diferença significativa na gestão de empresas e instalações no Brasil em comparação com outros lugares do mundo?
Já tive oportunidade de trabalhar em 3 empresas com projeção global e uma com acionistas internacionais e de participar efetivamente da gestão do IFMA em duas épocas (2011-13 e 2022-24), além de já ter sido representante do GlobalFM para o Brasil, quando fui VP e posteriormente Presidente da Abrafac. Primeiramente, romper as fronteiras territoriais e culturais é uma abertura mental enorme para o profissional. Identificar as melhores práticas, relacionar-se com líderes regionais e globais no seu segmento, propiciando um aprendizado constante e acesso às melhores práticas é uma realidade que, de primeira mão, te assusta, mas depois te encanta. Tive muita sorte de ter trabalhado nessas empresas, especialmente quando ainda nem se falava em FM, da forma como se fala agora no Brasil. Estamos falando do século passado (rsrs). Posso dizer que hoje em dia não há mais nenhuma diferença no que se pratica no Brasil em relação ao que se pratica lá fora de mais moderno. Há ainda uma aderência maior das empresas americanas, asiáticas e europeias ao conceito de FM, que ainda enfrenta certa restrição em certas empresas genuinamente nacionais, por aqui. Mas nada que seja tão grande como era, por exemplo, quando iniciei na primeira empresa americana em 1997. O rollout da estrutura americana da área de REF (Real Estate and Facility) nunca foi completamente feito no Brasil – houve a famosa tropicalização. Aliás, a beleza da área de FM é justamente isso, não ser rígida. Se pegarmos 10 empresas, certamente teremos vários modelos da área de FM, ampliando o famoso guarda-chuva ou mandala para áreas bem distintas.
Como membro fundador da Abrafac e tendo ocupado vários cargos importantes, como você vê a evolução da associação e seu papel no desenvolvimento do setor no Brasil?
Sinto-me realmente orgulhoso de ter participado das discussões preliminares (algumas usando as instalações da empresa onde eu trabalhava na época), depois de ter sido o primeiro Tesoureiro da Associação, na primeira Gestão eleita em 2004. Na segunda Gestão compus chapa como VP e na terceira Gestão fui eleito como presidente, comemorando os 5 anos de existência da entidade. Após minha passagem pela gestão executiva, percebi que o melhor a fazer pela entidade era abrir espaços para novas lideranças e desde então estou no Conselho, sendo eleito pelos associados, ininterruptamente. Já fui presidente por duas ocasiões do Conselho Fiscal e por último Presidente do Comitê de Ética do Conselho de Administração. A Abrafac ajudou a organizar a profissão, tirando-a definitivamente do porão das empresas e trazendo-a para lugar de destaque. Ao longo desses anos, capacitamos inúmeros profissionais através dos nossos eventos e ampliamos significativamente o networking dos profissionais do segmento. Hoje temos uma profissão reconhecida pelo CBO – Classificação Brasileira de Ocupações do Ministério do Trabalho e Emprego, certificação profissional, grande troca com as outras associações ao redor do mundo, via GlobalFM etc.
Seu envolvimento com a FAMU nos Estados Unidos mostra seu alcance internacional. Como essa experiência influenciou sua perspectiva profissional?
Tive a honra de ser convidado pelo past-chairman do IFMA Tom Mitchel para integrar o comitê de profissionais do curso de graduação em FM da FAMU Florida Agricultural and Mechanical University, baseada em Tallahassee, por onde fiquei de 2014 até 2018. Essa experiência me influenciou a escrever o livro Gerenciamento de Facilities e Properties que lancei em 2017, com contribuições de professores da FAMU.
Seu livro “Gerenciamento de Facilities e Properties” é uma referência na área. O que o motivou a escrever este livro e como ele se encaixa no cenário atual de gestão de instalações e propriedades no Brasil?
Primeiramente agradeço a deferência em considerá-lo referência na nossa área. Fico muito lisonjeado com isso e muito orgulhoso de ver esse “filho” contribuindo para que muitos possam encontrar respostas para suas dúvidas e se capacitarem para os desafios profissionais. Esse livro é fruto da minha experiência profissional, das pesquisas que realizei, do convívio que tive dentro do IFMA e das relações que desenvolvi dentro da FAMU. Conta ainda com contribuições de inúmeros amigos ao redor do mundo, trazendo uma visão bem ampla sobre as tendências e melhores práticas dentro da nossa área. Devo ressaltar e aproveitar a oportunidade para te agradecer Lea Lobo, por ter prefaciado essa obra. É uma honra ter você nesse livro!
O IFMA é uma organização globalmente reconhecida. Como sua participação nesta organização tem beneficiado sua carreira e vice-versa? Qual é a importância do IFMA para o Brasil?
Tive a honra de ser o primeiro latino-americano a participar do Global Board do IFMA durante os anos de 2011 a 2013. É a instância máxima dentro da estrutura organizacional do IFMA. É composto pelo past-chair, chairman, first vice-chair, second vice-chair e dos diretores. Fui um desses diretores. Todos os assuntos, operacionais, táticos e estratégicos são aprovados por esse grupo. O orgulho maior foi ser novamente convidado em 2022 a participar do Global Board, agora como second vice-chair na linha de sucessão para ser o chairman do IFMA em 2024. Você não imagina a alegria que esse convite me proporcionou. É o ápice da profissão, um marco para o profissional. Contudo, não pude seguir adiante com ele. No início deste ano, renunciei ao cargo, assumindo o compromisso de ficar até o final da gestão 2023 com as responsabilidades de second vice-chair (que se encerrou em junho passado). Apesar disso, me pediram para seguir como diretor até 2024, auxiliando na transição para o novo nomeado para a posição que estou deixando. Os compromissos são muitos, com reuniões quase que diárias (houve semana com 5 reuniões distintas), além de viagens frequentes para os EUA e esporadicamente para a Europa. Não tenho todo esse tempo disponível. Tenho compromissos profissionais que demandam minha constante presença aqui no Brasil. Como second vice-chair, eu era o chefe do comitê financeiro e representante do IFMA dentro da Fundação. Como first vice-chair, as responsabilidades só aumentariam, envolvendo-se diretamente com os chapters e councils, por exemplo. Foi uma decisão difícil, mas não podia dar sequência sabendo que as demandas só aumentariam. A importância do IFMA para o Brasil é enorme. Foi e é o nosso benchmarking, até o nosso logo se assemelhava ao logo antigo do IFMA. É uma associação com +24.000 associados, com escritórios de representação na Europa, Índia e China. Desenvolve conteúdos, treinamentos e seminários que auxiliam no dia a dia do profissional ao redor do mundo.
Você tem uma formação acadêmica diversificada. Como esses estudos influenciaram sua abordagem de gestão?
Sou psicanalista pelo IBPC – Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica (mas não atuo na área). Isso foi por curiosidade e para abrir minha mente para outros assuntos e, no caso, em específico, para a mente humana. A Filosofia veio depois; aliás, foi uma pós-graduação que gostei tanto que me fez optar pela graduação. Sim, faço uma graduação online em Filosofia atualmente. A área de FM é dinâmica, flexível e bastante carente de relacionamento interpessoal. Temos predominantemente profissionais oriundos das áreas de administração (minha formação original), engenharia e arquitetura. Creio que essa diversidade agrega valor e faz com que a entrega dos serviços não seja meramente algo técnico e objetivo. Podemos ir além, criando relacionamentos e experiências.
Por fim, olhando para o futuro, quais são seus planos e objetivos para os próximos anos, tanto em nível pessoal quanto profissional?
Em princípio, pretendo continuar atuando na área e como voluntário na Abrafac e no Grupas aqui no Brasil, e como conselheiro para assuntos latino-americanos no IFMA. Houve uma alteração no Estatuto da Abrafac e agora ex-presidentes não precisarão mais concorrer nas eleições, fazendo parte direto do Conselho de Administração. É a primeira vez, desde a fundação, que não sou eleito pelos associados.
Pode nos falar um pouco da vida familiar e social? Seus hobbies? Pessoas e coisas que são importantes na sua vida.
Sou muito grato à minha família: mãe, esposa, filhos e agora neto. Ser avô está sendo uma experiência mágica, tanto pelo pequeno Pedro, que enche a casa de alegria, como também por ver a sua filha sendo mãe, tendo os mesmos cuidados que você via na sua mulher. É lindo! No campo social, tenho muitos amigos e participo de outros grupos. Trabalho voluntariamente em 2 Projetos Assistenciais. Um é o Grupo Fraternidade Cristã, onde estou há 29 anos, e o outro é o Movimento do Bem, do qual sou membro-fundador e que já tem 8 anos de estrada de ajuda ao próximo. Recentemente, nossa amiga Fátima Sousa me convidou a fazer parte, como conselheiro, de uma ONG que ela está fundando. Em breve, abrir-se-á um novo campo para o trabalho em prol dos menos favorecidos.
Deixe sua mensagem para os profissionais do nosso mercado.
Lá se vão 58 anos de idade!! Gostaria de encerrar essa participação, registrando o orgulho e satisfação que tenho de ter participado como palestrante do primeiro evento da INFRA em SP. Se não me engano, foi antes da fundação da Abrafac, por volta de 2002-03. Adicionalmente, deixar uma mensagem sobre o que penso a respeito do futuro da nossa área. Nossa profissão passará por transformações enormes, como tantas outras; não é um privilégio somente nosso. Contudo, a área de FM tende a consolidar-se como estratégica dentro das organizações. As novas demandas organizacionais demandarão um profissional mais tático e estratégico. Os espaços se modificarão, os conceitos de gestão se modernizarão, o formato do trabalho será alterado, as estruturas deixarão de ser individualizadas caminhando para o compartilhamento, as tecnologias e suas novas features atuarão sempre disruptivamente, a mobilidade e a qualidade de vida, aliada à sustentabilidade, puxarão (como sempre) as novas tendências produzindo novas demandas etc. Com tudo isso, a convivência dentro dos espaços sofrerá modificações que farão com que, de ofertantes de infraestrutura e serviços, a área de FM passe a ser ofertante de experiências. Os usuários (gosto de falar clientes internos) serão levados a vivenciar novas experiências no ambiente de trabalho, tanto das já hoje conhecidas e praticadas, como, por exemplo: ergonômico, estético, olfativo, relacional, biofilia, como também em outros campos que se abrirão com a chegada de novas tecnologias e práticas. Já temos empresas bem-atentas sobre essa tendência e que já possuem dentro de suas organizações o Chief Happiness Officer - CHO, literalmente o Diretor da Felicidade. A área de FM contribuirá, em grande escala e efetivamente, para que essa área obtenha seus resultados e sucesso.