Por Léa Lobo

O Hospital Israelita Albert Einstein é sinônimo de excelência médica, inovação tecnológica e responsabilidade social. Fundado em 1955 pela comunidade judaica de São Paulo, e inaugurado em 1971, tornou-se um dos centros de saúde mais respeitados da América Latina. Reconhecido por seu alto padrão assistencial em especialidades como cardiologia, oncologia e neurologia, o Einstein foi o primeiro hospital fora dos Estados Unidos a obter a certificação da Joint Commission International.
Em 2024, consolidou-se entre os 30 melhores hospitais do mundo segundo a revista Newsweek — feito inédito para uma instituição latino-americana. Por trás desse reconhecimento, há uma estrutura sólida que vai muito além do atendimento clínico: um complexo sistema de engenharia, operações prediais e gestão de ativos que garante o funcionamento impecável da instituição.
À frente dessa engrenagem está Junia Gontijo, Diretora Executiva de Engenharia, Real Estate e Infraestrutura do Einstein. Com vasta experiência em multinacionais como Citibank e Walmart, Junia é responsável por integrar inovação, sustentabilidade e cuidado humanizado na infraestrutura física do maior hospital privado do país. Nesta entrevista exclusiva à Revista InfraFM, ela revela como sua equipe transforma os bastidores da engenharia hospitalar em uma força estratégica para o futuro da saúde.
Como você enxerga o papel da infraestrutura hospitalar como parte da experiência do paciente e da estratégia organizacional do Einstein?
A infraestrutura hospitalar é mais do que uma base física; ela é um elo essencial entre a excelência clínica e a experiência do paciente. No Einstein, ambientes bem planejados, seguros, confortáveis e tecnologicamente preparados influenciam diretamente na recuperação dos pacientes, no bem-estar das famílias e na eficiência das equipes assistenciais. Além disso, sustentam nossa capacidade operacional e garantem a disponibilidade de sistemas críticos.
Quais são os principais pilares da sua gestão nas áreas de Engenharia, Real Estate e Facilities?
Trabalhamos com sete pilares: excelência operacional, inovação, tecnologia, segurança, sustentabilidade, centralidade no paciente e humanização. Eles norteiam desde o projeto até a manutenção predial, sempre integrando funcionalidade com sensibilidade. Nossa reputação se sustenta também na qualidade da infraestrutura física entregue com altíssimo padrão.
Como vocês equilibram tecnologia, sustentabilidade e humanização na operação predial?
Esses pilares não competem — eles se complementam. Utilizamos automação, sensores inteligentes e climatização de alta eficiência, tudo pensado para operar com precisão e baixo desperdício. Ao mesmo tempo, priorizamos conforto térmico, iluminação adequada, segurança e bem-estar. Também investimos em prédios certificados, uso racional de água e energia e gestão responsável de resíduos.
Quais são os maiores desafios para manter a operação fluida 24/7?
A maior responsabilidade está na confiabilidade dos sistemas críticos. Redundância, monitoramento em tempo real e manutenção preditiva são essenciais. Mas o diferencial está nas pessoas: equipes preparadas para agir com agilidade e visão sistêmica. Padronização e cultura de excelência são nossos alicerces.
Como está estruturada a área de infraestrutura e como ela se integra às áreas assistenciais?
Nossa diretoria é multidisciplinar e atua em toda a cadeia de gestão de ativos. Adotamos uma estrutura matricial com coordenações especializadas — desde real estate até hotelaria e sustentabilidade. Trabalhamos com comitês integrados, plataformas digitais e foco total na jornada do paciente, o que nos permite alta resposta e alinhamento com os padrões de qualidade da instituição.
Qual iniciativa recente representa uma disrupção na forma de gerir infraestrutura hospitalar?
Criamos o Centro de Comando Operacional de Sistemas Críticos (CCO – Missão Crítica), uma plataforma que integra energia, climatização e utilidades em tempo real. Também avançamos em modelos preditivos com análise de dados, uso de realidade aumentada em treinamentos e migração para autoprodução de energia limpa. Isso garante economia, eficiência e redução de 21% nas emissões de gases de efeito estufa.
Como manter a excelência em serviços invisíveis ao paciente?
Capacitação é pilar essencial. Nossas equipes são altamente treinadas, fazem simulações e cursos especializados. Além disso, investimos em reconhecimento, liderança humanizada e programas internos de inovação. O invisível aqui é estratégico: são esses profissionais que sustentam a excelência sem aparecer, mas fazem toda a diferença.
Como a área de Facilities se prepara para crises como pandemias, desastres ou falhas críticas?
Temos um Plano de Resposta a Emergências robusto, simulações periódicas e equipes 24/7 com alta prontidão. O Programa Estruturado de Simulados de Catástrofes nos permite testar e aprimorar reações em situações extremas, em conjunto com órgãos públicos. A resiliência faz parte do nosso DNA.
O modelo de gestão hospitalar brasileiro valoriza suficientemente a infraestrutura como ativo estratégico?
Estamos avançando, mas ainda falta compreender infraestrutura como investimento, e não como custo. É essencial que engenheiros e gestores de Facilities estejam nas mesas de decisão. Também precisamos de políticas públicas que incentivem inovação e sustentabilidade nesse setor.
Que legado você gostaria de deixar à frente dessa operação? E que conselho daria a outros profissionais da área hospitalar?
Gostaria de deixar um legado de integração real entre pessoas, tecnologia e sustentabilidade — mostrando que infraestrutura é protagonista silenciosa no cuidado em saúde. Meu conselho é: busquem excelência não só técnica, mas humana. São as pessoas, nos bastidores, que garantem segurança, conforto e continuidade. Esse é o verdadeiro valor da nossa missão.
Enfim, esta entrevista com Junia Gontijo revela o que poucos veem, mas todos sentem: a infraestrutura hospitalar é, sim, parte da cura. No Hospital Israelita Albert Einstein, inovação, cuidado e estratégia caminham juntos — e têm no Facility Management uma base firme para sustentar o futuro da saúde no Brasil.