Reminiscência de um futuro conhecido

Em seu artigo, Gessé Campos Camargo convida o mercado a pensar sobre o futuro conhecido e ainda desconhecido do nosso setor.

Por Gesse Campos Camargo

Reminiscência de um futuro conhecido

Temos visto com frequência na grande mídia artigos sobre profissões que não existirão no futuro, e um deles chamou minha atenção por listar Gestores Administrativos e Serviços Corporativos. Profecia, futurologia, ou pura especulação? As mudanças nas organizações empresariais, visando a modernização ou uma melhor resposta aos desafios em face das demandas de mercado, costumam alterar as fórmulas de gestão, extinguindo, redistribuindo ou transferindo funções menores ou ineficazes. Isso não se limita a acomodações provocadas por uma nova visão de governança corporativa, mas está intrinsecamente relacionado a outras mudanças no ambiente externo das empresas.

A pandemia de COVID-19 foi o grande impulsionador que trouxe novas demandas para pessoas, empresas e a sociedade em geral. Após sua fase mais aguda, deixou uma nova realidade nas atitudes e práticas tanto das pessoas quanto das empresas. Uma das mudanças mais evidentes foi a forma como o local de trabalho foi percebido, que agora podemos rotular como “Workplace,” um elemento fundamental do mercado representado pelo Real Estate.

Com isso em mente, vou me aprofundar nas implicações para a Gestão de Facilities e Local de Trabalho (F&P Management), que são derivadas da nova realidade das empresas. Já se faz necessário destacar a mudança na perspectiva de “Workplace” para “Workforce,” que tem sido um tema nos Congressos da IFMA nos EUA. Ou seja, não importa mais onde o local de trabalho está, mas sim onde as pessoas estão trabalhando. A grande questão é: como os profissionais desse mercado estão se preparando para sobreviver a essa “profecia” a que me referi anteriormente?

Vamos analisar algumas questões. Se é verdade que já estávamos nos questionando sobre que tipo de conhecimento, ciência e experiência são indispensáveis para os profissionais de FM lidarem com as novas necessidades, como eles estão interagindo com as discussões que estão constantemente ocorrendo em congressos e com as práticas emergentes em todo o mundo? Como eles estão acompanhando as adaptações e evoluções que essas práticas estão apresentando, considerando que ainda não estão consolidadas?

Uma reflexão importante é sobre o papel do “espaço,” que antes era entendido apenas como um local físico, mas que agora passou por uma transformação significativa com a chegada do “espaço digital.” Isso levanta desafios que os Facility & Workplace Managers precisam enfrentar, seja em seus escritórios ou em suas redes de contatos, exigindo uma nova atitude, conceitos e ações para sobreviver.

Existem outros desafios críticos à frente, como as funções do futuro no mercado de FM, incluindo o papel da governança, que se tornou crucial. Ser operacional, tático ou estratégico nas empresas de hoje faz toda a diferença. Os profissionais de FM estão decidindo como planejar, organizar, implementar, coordenar, controlar e desenvolver o setor, ou estão apenas influenciando seus colegas e superiores? Até quando a decisão de compra de serviços ou recursos será de responsabilidade de outro departamento que busca o menor preço em licitações antiquadas?

Qual é a competência e perfil dos parceiros (ou fornecedores) que o FM tem escolhido ao longo de sua história passada, presente e futura? Qual é o papel dos especialistas nas diversas atividades sob sua responsabilidade? Eles desempenham um papel importante na identificação das reais necessidades, com base em suas experiências com outros grandes clientes? Que indicadores e metas estão sendo definidos em conjunto, de modo que os resultados atendam naturalmente às expectativas de ambas as partes? Ou ainda estamos presos à velha fórmula do menor preço e do menor reajuste ao longo dos anos? Será que falta no setor a adoção do conceito antigo do “success fee,” que obriga as partes a compartilharem sucessos e fracassos? Os parceiros estão sendo desafiados a compartilhar benefícios financeiros, satisfação e a longevidade dos contratos como parte de sua remuneração?

Não podemos ignorar os desafios apresentados pelas tecnologias de conectividade, inteligência artificial e realidade aumentada, que estão se tornando cada vez mais presentes em nosso dia a dia. Nosso setor está acompanhando essa evolução? Nossos hardwares, softwares e profissionais estão atualizados? Nossos funcionários e supervisores ainda estão realizando tarefas manuais, ou estão se adaptando à interação entre máquinas, softwares e notificações que aprimoram os processos? No mundo atual, em que até o cidadão comum não consegue sobreviver sem um celular repleto de aplicativos, como estamos nos preparando para um setor que inevitavelmente enfrentará desafios semelhantes?

É evidente que o autor do artigo citado no início nos alerta para desafios significativos. Se não superados, esses desafios podem resultar na eliminação de ineficiências e inaptidões, inclusive entre os responsáveis por essas atividades. A pergunta que fica é: estamos cientes dessas questões e estamos nos preparando para enfrentá-las de forma eficaz?

 


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