Por Natalia Gonçalves
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Antes de falar da importância de desenvolver programas para incentivar a liderança feminina nas empresas, para Lilian Rauld, é preciso entender o cenário no qual as mulheres estão inseridas atualmente. Rauld é gerente de Diversidade, Equidade e Inclusão da Sodexo, empresa que conta com 84% da liderança composta por mulheres, sendo que metade do time de Liderança Regional do Brasil é formado pelo gênero feminino.
"Durante décadas de luta, as mulheres conseguiram avançar em muitos aspectos. Hoje, ocupamos cadeiras que pertenceriam somente a homens há 50 anos. No entanto, seguimos enfrentando um cenário de desvalorização no mercado de trabalho, seja em termos salariais, pelos vieses, os estilos de liderança, de flexibilidade, de dupla ou até tripla jornada de trabalho entre outros. Quando falamos de liderança, os números mostram que a sociedade ainda tem que avançar", afirma Lilian.
De acordo ao relatório de Tendências Gestão de Pessoas 2024, realizado pela Great Place to Work, as ações de Diversidade e Inclusão nas empresas são majoritariamente trabalhadas em mulheres (69,8%). Contudo, as empresas que aparecem no último Ranking GPTW Mulheres, de 2022, contam com apenas 26% de mulheres na alta liderança, embora o grupo represente 52% do corpo de funcionários das organizações participantes.
Segundo Rauld, as iniciativas de apoio à mulher contribuem para o desenvolvimento de carreiras profissionais e crescimento dentro das organizações. "Não falo sobre ter favoritismo para as mulheres, mas sobre oferecer oportunidades equalitárias para o profissional, independentemente do seu gênero. Acredito que cada um de nós é um importante agente nessa transformação, que promove o desenvolvimento humano e permite essa equidade de oportunidades para todos", pontua.
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Qual é a real importância de Comitês de Diversidade?
Em cargos técnicos, conforme Otavia Bortoti, General Counsul e DPO da Atlas Schindler, a presença de mulheres ainda é tímida, principalmente devido a formação. De acordo com pesquisa do Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura (Confea), de 2022, as mulheres representam 19,3% dos engenheiros no Brasil. Neste sentido, os Comitês de Diversidade cumprem a função de impedir que vieses particulares interfiram na avaliação dos profissionais e o crescimento deles dentro das empresas.
Antes da criação do Comitê de Inclusão e Diversidade da Atlas Schindler, em 2017, a empresa tinha somente 11 técnicas em campo. Em janeiro de 2024, esse número é de 90 profissionais, um aumento de 718% em sete anos. Apesar do crescimento de técnicas em campo, elas ainda representam 3% da área. Contudo, a expectativa é de crescimento, principalmente, devido ao programa de capacitação da companhia em parceria com o SENAI.
Na Ascenty, provedora de serviços de data centers, a área de Diversidade, Equidade e Inclusão criou um Conselho Consultivo de Mulheres, junto aos demais comitês da companhia. Silvia Godoy, gerente administrativo de Data Centers da multinacional, ressalta a baixa presença de mulheres em departamentos de tecnologia. “Portanto, trabalhamos para que as mulheres sejam cada vez mais ouvidas e valorizadas, em todos os níveis hierárquicos da empresa”, afirma Godoy.
Enquanto a presença de mulheres é majoritária em funções administrativas (63%), em tecnologia o grupo representa 20%, segundo Relatório de Diversidade no setor TIC de 2021. “Valorizar as mulheres, que hoje somam mais de 52% da população do Brasil, é uma forma de equalizar o nosso futuro com ações presentes, trazer mais mulheres para trabalhar na operação, ter mais mulheres em cargos de gestão e executivas, já é parte da realidade da Ascenty, e deveria ser realidade em todas as empresas”, destaca Godoy.
Um ambiente psicologicamente seguro
Em 2020, durante o isolamento social e o aumento de casos de violência doméstica, a Sodexo criou o Programa Fadas Madrinhas. Além de acolher colaboradoras que sofrem ou sofreram violência doméstica, a iniciativa oferece treinamento com uma advogada especialista em violência contra a mulher e uma psicóloga forense. No total, 100 colaboradores são Fadas Madrinhas e realizam o acompanhamento das vítimas.
“O atendimento pode ocorrer por WhatsApp ou SMS no primeiro momento, após a mulher enviar uma mensagem para a fada madrinha, com o conteúdo de um benefício que não existe, de forma a não chamar a atenção do agressor para este contato. Em 2023 realizamos 50 atendimentos de colaboradoras e duas mulheres foram salvas de risco iminente, sendo transferidas de cidade”, compartilha Lilian Rauld, gerente de Diversidade, Equidade e Inclusão da companhia.
Para Rauld, um dos aspectos mais importantes para fortalecer a diversidade, assim como aumentar a inovação e confiança dentro das empresas, é criar e fomentar um lugar psicologicamente seguro para se trabalhar. “Todos nós temos o compromisso de levar conhecimento sobre a importância da diversidade, equidade e inclusão para as pessoas e de criar ambientes acolhedores, onde todos tenham liberdade de ser quem são”, afirma a especialista.
No início do Projeto do Fadas Madrinhas, poucas mulheres contatavam os voluntários da iniciativa, por insegurança e medo de julgamentos. Após uma série de ações de conscientização sobre o tema e o reconhecimento do sigilo do programa, o número de atendimentos aumentou consideravelmente. “A segurança e confiança tornam viável esses e outros programas ou iniciativas”, enfatiza Rauld.
Mulheres em Facility Management
No Brasil, ainda não existe o dado de quantas mulheres ocupam cargos na área de Facility Management. Para Aline Navarrete, Head de Facilities, Workplace e Real Estate na Serasa Experian, além de desempenhar o papel de cuidar da infraestrutura das construções, os Facilty Managers também desempenham um papel crucial na promoção da equidade de gênero ao criar ambientes de trabalho inclusivos e garantir instalações seguras e acessíveis.
“Nos últimos anos tivemos um aumento notável das contratações femininas no nosso Facilities, quebrando o estereótipo em áreas historicamente masculinas”, observa. Segundo a profissional, as contratações de mais mulheres em áreas tidas como masculinas favorecem a promoção da diversidade: “impulsionando a evolução positiva na nossa área e nos projetos que atuamos”.
Na Serasa Experian, existem programas e iniciativas voltados para a pauta de equidade de gênero, como o WiE (Women in Experian), que realiza diversas ações de acolhimento, troca e desenvolvimento. Em 2023, foram mais de 14 ações, com mais de 2.675 pessoas impactadas. “Minha experiência no programa tem sido enriquecedora, proporcionando oportunidades de aprendizado, crescimento profissional e networking com a alta liderança”, destaca Navarrete.
“Uma das plataformas que utilizo e somos parceiros é a Todas Group, que é focada no desenvolvimento das mulheres, com diferentes temáticas, como: autoconhecimento, protagonismo, autoralidade, posicionamento estratégico, entre outros. Por meio dessa parceria a Serasa Experian já contribuiu para o desenvolvimento - com certificado - de mais de 300 mulheres”, diz Navarrete.