Por Mateus Murozaki
Desde os anos 70, estuda-se a possibilidade de plantações controladas existindo em edificações, provendo alimentação fresca para regiões urbanas. Ao longo das décadas seguintes, estudos continuariam sendo feitos até o ano de 2009, quando os primeiros sistemas de hidroponia foram introduzidos.
Desde então, o assunto cresceu exponencialmente, com as fazendas verticais se tornando um assunto quente no mercado mundial. As vantagens são muitas: como mencionado acima, regiões que dependem de abastecimento de verduras, vegetais e legumes vindos de fazendas distantes ganham uma opção interna, o que diminui não apenas custos de transporte, mas também emissão de CO2.
Além disso, com o total controle da horta, os alimentos dispensam o uso de agrotóxicos e agentes semelhantes, enquanto ainda sendo livres de grandes imperfeições causadas por fenômenos naturais como tempestades ou ventos fortes demais.
Com tudo isso em mente, não é de se impressionar que o conceito das fazendas verticais tenha atraído tanta conversa e atenção na década passada, com diversas empresas no ramo de alimentação investindo no modelo desde 2016.
Hoje, porém, qual o veredito?
Na visão de Paulo Bressiani, fundador da Fazenda Cubo, sua operação de horta vertical é apenas um elemento na sua missão de “aproximar o plantar do comer”. O profissional abriu sua própria fazenda indoor após um ano de extensa pesquisa e, desde então, vem diversificando seus métodos de produção, em parte por crer que as fazendas verticais por si só não são a solução de tantos problemas como muitos creditavam na metade da década passada.
“Eu acho que esse tema está passando por uma reavaliação muito grande. Fazendas verticais, mesmo no exterior, estão em um momento muito delicado, com algumas das maiores empresas do setor declarando falência ou mudando o senso de suas atividades e isso porque você ainda tá lidando com seres vivos, num sistema dinâmico que tá sempre mudando, sempre tem novos desafios. Então, você acaba colocando muita energia para tentar reproduzir o que a natureza faz por si só”, afirma o profissional.
Ele aponta que esse é um empreendimento que funciona apenas em nichos específicos (como mercados de alta gastronomia), com produtos de alto valor agregado, principalmente aqui no Brasil e, mesmo assim, não é garantia de sucesso. Como exemplo, informa que mesmo em uma cidade como Nova Iorque, que necessita de abastecimento de produtos saudáveis vindos de milhares de quilômetros, as fazendas indoor tiveram dificuldade de garantir uma forte presença na região. Uma fazenda do tipo requer grande investimento pois é uma operação complexa.
O gasto energético, de acordo com Bressiani, é particularmente alto e faz com que não seja a mais sustentável das operações. Apesar disso, o gasto de água é 90% menor do que o da agricultura convencional. Na visão do fundador, a maior força das hortas indoor em relação à ESG é a de levar alimentação consciente aos consumidores nos grandes centros urbanos, assim como despertar a conexão das pessoas com a origem dos alimentos delas.
Há, porém, um grande problema que tais empreendimentos resolvem: a ineficiência da cadeia produtiva. Para uma simples folha de alface chegar ao prato do consumidor, ela percorre um grande caminho. As fazendas verticais, por atenderem clientes nas proximidades, garantem que não só os produtos cheguem com uma eficiência muito maior, como também em melhor estado.
A visão de Bressiani é a de que, apesar de terem claras vantagens em relação aos métodos tradicionais de agricultura, as fazendas verticais também apresentam uma série de desafios próprios que as impedem de serem a tão vendida solução para as questões da agricultura tradicional.
É esse equilíbrio de prós e contras que o faz considerar essa parte apenas como uma ferramenta. Desde que iniciaram as operações, a Fazenda Cubo introduziu outros dois sistemas de cultivo: uma estufa de hidroponia inaugurada em 2021 e duas novas estufas de cultivo regenerativo em 2024. Todos os métodos apontam para o mesmo valor de alimentação natural e saudável sem o uso de agrotóxicos e com a entrega diretamente da colheita para mesa.
Cada um dos locais é devidamente monitorado para evitar qualquer tipo de contratempo e garantir que tudo corra como o planejado. O fundador comenta que nunca sofreu, por exemplo, com faltas de energia que estão se tornando cada vez mais frequentes.
“Curiosamente, apesar de a fazenda vertical ser mais dependente de energia elétrica, porque sem energia ela não funciona, ela é menos suscetível a falta de energia no sentido de que, se ela fica sem luz por um dia, por exemplo, vai ficar tudo desligado, as plantas vão ficar no escuro, então elas não vão crescer nesse período, mas elas também não vão morrer”, explica.
Conforme a paisagem urbana em nosso país se expande em ritmos acelerados, é comum que cada vez mais soluções surjam para contornar os problemas que aparecem em decorrência disso. O resultado encontrado por Bressiani, porém, não foi exatamente o esperado, mas sua visão crítica em relação ao conceito do próprio negócio fez com que se tornassem uma empresa de renome e financeiramente auto-sustentável.
“Eu acho que a gente está no momento de ter a oportunidade de falar sobre isso, da fazenda vertical como uma ferramenta dentro de outras ferramentas, dentro de um leque de soluções, para a gente compor uma solução para produzir alimentos e abastecer um mundo com uma população cada vez maior como a gente vive, de uma forma que seja sustentável e até mais do que sustentável, regenerativo”, conclui o agricultor e executivo.