Expo 2025 - Credenciamento
 

Como São Paulo pode se preparar para as mudanças climáticas?

Diretor da Divisão de Saneamento do Instituto de Engenharia analisa alternativa de cidades-esponja para grandes centros urbanos.

Por Natalia Gonçalves

Como São Paulo poderia se preparar para as mudanças climáticas?

Entre março de 2023 e 2024 houve a remoção de 1,4 milhão de m³ de sedimentos do Rio Tietê. Foto: Carlos Nardi


O processo de urbanização de muitas cidades brasileiras contribuiu para a impermeabilização do solo. Em São Paulo, por exemplo, houve a canalização de córregos e rios que impedem a vazão natural das águas. Desde 2012, grandes obras são previstas no Plano Diretor de Drenagem do Município de São Paulo para receber cheias.

Uma das principais prioridades da prefeitura, conforme atualização do documento em 2022, é a criação de piscinões. Para José Eduardo Cavalcanti, Diretor da Divisão de Saneamento do Instituto de Engenharia, essa solução é uma das formas de conter grandes precipitações de chuva em cidades com pouca área verde, o caso de São Paulo e de grandes centros urbanos. 

“Em cidades menores, ainda dá para fazer canais paralelos e não deixar que haja ocupação nas margens dos rios”, observa Cavalcanti. Em entrevista exclusiva à InfraFM, o especialista fala sobre possíveis alternativas diante das mudanças climáticas, com destaque para o conceito de cidades-espoja. 

Como São Paulo poderia se preparar para as mudanças climáticas?


Quais são os desafios das cidades-esponja no Brasil? 
José Eduardo Cavalcanti -
Bom, o termo Cidades-Esponja foi cunhado há algum tempo e propõe como as cidades podem pensar meios de escoar melhor as águas, seja superficialmente ou através da infiltração no solo, por isso se chama cidade-esponja, no sentido de que as águas seriam absorvidas como esponja. Isto é, uma forma de você reter as águas para que elas sejam controladas e lançadas de uma forma que não cause inundações, alagamentos, deslizamentos, movimentação de massa, como ocorreu em São Sebastião ou no Rio Grande do Sul. Agora, essas cidades-esponja teriam que ser em cidades menores.

Uma cidade como São Paulo, que é uma cidade totalmente impermeabilizada, não dá para você fazer infiltrações na área urbana. A infiltração é uma das providências que o criador do conceito, o arquiteto Kongjian Yu, preconiza para essas cidades esponjas, mas não é só infiltração, afinal o solo não tem tanta capacidade assim de absorver água porque ele acaba saturando. É natural, não há como o solo aguentar. Se você botar água na esponja cheia, a esponja não absorve mais. 

Mas esse arquiteto chinês, criador do conceito de cidades-esponja, propõe uma coisa mais ampla: ele propõe espaço para as águas ficarem estocadas enquanto não são lançadas nos rios maiores ou nos mares, né? Que são uma espécie de piscinões.

Todo rio, na realidade, tem dois leitos. O leito menor, que é o leito que você vê quando não está chovendo, e o leito maior, também conhecido como águas espraiadas. Por exemplo, no Rio Grande do Sul, temos o Guaíba e ele se espalhou numa área que é o leito maior dele. Nesse leito maior, foram construídas habitações e até cidades. Com grandes chuvas, o rio ocupa o espaço dele e inunda tudo. O Kongjian Yu propõe que se faça canais paralelos aos rios para que essas águas se espraiem nesses canais e depois, com calma, sejam lançadas. Essa é a realidade do que ele está propondo.

Assim, um dos maiores desafios no Brasil é a nossa educação sanitária e ambiental, pois se joga muito lixo nas ruas. Os piscinões de São Paulo, por exemplo, ficam atolados de lixo. Em países como o Japão, que também tem piscinões, eles são feitos em túneis subterrâneos e as águas são bem mais limpas e depois podem ser aproveitadas. Lá na França, foi construído um piscinão enorme junto ao Rio Sena, justamente para pegar as primeiras águas de chuva e depois, através de bombeamento, essa água ser lançada no Rio Sena com calma.

As cidades-esponja podem ser alternativas diante dos fenômenos climáticos? Se sim, por quê?
José Eduardo Cavalcanti - Podem. Numa cidade que tem carência de água e de repente cai uma tremenda chuva, esses reservatórios podem ser utilizados depois como reservatórios urbanos e depois ser realizado o reuso dessa água. No Brasil, no entanto, é preciso primeiro olhar para a educação sanitária e ambiental da população. Se você olhar os piscinões aqui na região metropolitana de São Paulo, você vê que ele está cheio de lixo, porque as pessoas aproveitam para jogar nas enchentes, por exemplo, o sofá que não serve mais.

Esses piscinões, de qualquer forma, têm quebrado o galho para algumas enchentes não serem piores, mas não têm muito deles. Em São Paulo, como falei, o solo tem uma limitação. 

Como São Paulo poderia se preparar para as mudanças climáticas?
José Eduardo Cavalcanti - A construção de mais piscinões é uma alternativa, mas também seria necessário aumentar a capacidade de bombeamento do Rio Pinheiros para jogar uma parte das águas na Represa Billings. Aqui em São Paulo existe uma série de providências que podem ser tomadas, mas as mais fáceis e urgentes são os piscinões. Uma enchente, como aconteceu lá no Rio Grande do Sul, certamente vai causar muito prejuízo aqui em São Paulo.


Veja também

Conteúdos que gostaríamos de sugerir para a sua leitura.

Envie os nossos conteúdos por e-mail. Utilize o formulário abaixo e compartilhe os link deste conteúdo com outros profissionais. Aproveite e escreve uma mensagem bacana.

Faça uma busca


Congresso 2025 - Políticas de Aquisição

Mais lidas da semana

Operações

Carregamento de veículos elétricos em condomínios divide opiniões

Como equilibrar os custos e as preocupações dos condôminos de forma justa e transparente. Leia artigo exclusivo.

Carreira

Fábio Pace Adamo assume Real Estate Management da Volvo

Com mais de 20 anos de experiência, profissional assume gestão em nível nacional.

Mercado

Soluções de economia de água com o fim do desconto da Sabesp

Tecnologias e estratégias inovadoras tornam sustentável o consumo de água.

Workplace

Pinterest transforma escritório em oportunidade de novos negócios

Daiane Silva, Workplace Manager da multinacional, fala sobre gestão focada em clientes externos e cultura flexível.

Sugestões da Redação

Revista InfraFM

Diversidade de ideias no 10º Fórum InfraFM Hospitais & Ambientes de Saúde

Evento abordou sustentabilidade, cases de sucesso, otimização de gestão e outros temas em voga no setor.

Revista InfraFM

Guardiões do movimento

Assegurando o bem-estar dos colaboradores ao longo dos 14 mil quilômetros de ferrovias, que cortam nove estados brasileiros.

Revista InfraFM

Oportunidades e inovações no World Workplace 2024 da IFMA

Transformando o setor de FM com foco em tecnologia e sustentabilidade

Operações

Monitoramento em tempo real otimiza produção em 18% na Visteon Amazonas

Ricardo Tanko Vasconcellos, Quality Manager da multinacional, fala sobre importância da sinergia entre áreas para um processo contínuo de melhorias.

Operações

Retrofit gera mais de R$3 milhões de economia para operação de shopping

Gerente de operações do Shopping Praça da Moça e coordenador de Operações do Grupo AD falam sobre desafios e resultados das implementações.

 
Dúvidas sobre os EVENTOS?
Fale com a nossa equipe pelo WhatsAPP