Por Carlos Eduardo
Foto: Canva.com/ José Moraes |
O início de 2025 trouxe um cenário alarmante para o setor de elevadores no Brasil: em apenas 24 dias, já foram registrados 5 acidentes e 2 mortes. Esses números são um reflexo direto das falhas sistêmicas que persistem no setor, apesar das tristes lições deixadas por 2024. É impossível ignorar a gravidade de uma situação que, além de comprometer a segurança, transforma o transporte vertical em um símbolo de negligência.
No ano passado, levantei dados sobre os acidentes em elevadores que ocorreram em 2024 e compartilhei amplamente esses números por meio de diversos meios de comunicação no Brasil. Foram contabilizados 58 acidentes, 40 mortes e 108 pessoas diretamente envolvidas, fiz esse levantamento com base em informações noticiadas pela mídia. É importante destacar que esses números podem ser ainda maiores, considerando que muitos acidentes não são divulgados ou devidamente reportados. Esses dados já haviam demonstrado a urgência de mudanças. Agora, 2025 começa repetindo os mesmos erros, evidenciando que as medidas necessárias ainda não foram implementadas de maneira eficaz.
As principais causas do aumento de acidentes
Os acidentes no setor de elevadores não são eventos isolados ou meras fatalidades inevitáveis. Eles são consequência de uma série de problemas estruturais e operacionais que comprometem a segurança e colocam vidas em risco. Entre os principais fatores estão:
1. A obsessão pelo menor preço
Síndicos, construtoras e órgãos públicos frequentemente priorizam o preço mais baixo na contratação de serviços de manutenção. Valores absurdamente baixos, entre R$ 80,00 e R$ 150,00, tornam impossível realizar manutenções completas e seguras, colocando a segurança em segundo plano.
2. Proliferação de empresas irregulares
Muitas empresas atuam sem registro no CREA ou sem atender aos requisitos técnicos necessários. A falta de qualificação dessas empresas leva a manutenções precárias e compromete a segurança dos usuários.
3. Técnicos sobrecarregados
A guerra de preços no mercado faz com que até mesmo empresas sérias aumentem o número de elevadores atribuídos a cada técnico. Essa sobrecarga resulta em inspeções apressadas e superficiais, deixando falhas críticas sem solução.
4. Falta de fiscalização efetiva
A fiscalização no setor é insuficiente tanto em quantidade quanto em qualidade. Muitos fiscais não possuem o treinamento técnico necessário para avaliar adequadamente os equipamentos, enquanto empresas irregulares continuam operando livremente.
5. Equipamentos obsoletos e mal modernizados
Muitos elevadores em operação no Brasil (70%) possuem mais de 20 anos e estão longe de atender aos padrões de segurança atuais. Modernizações mal planejadas ou feitas de maneira improvisada agravam ainda mais o risco de falhas.
6. Deficiência na qualificação dos engenheiros
Muitos engenheiros realizam projetos e assinaturas de ART sem a devida elaboração de memoriais de cálculo ou análises técnicas completas. Essa prática contribui para erros estruturais e falhas de segurança, especialmente em casos de “elevadores que caem”.
Os impactos da negligência
Cada acidente registrado não é apenas um dado estatístico, mas sim uma vida impactada, uma família destruída. As tragédias poderiam ser evitadas se o setor priorizasse a segurança em vez de adotar práticas que visam unicamente a redução de custos.
Os casos de falhas de freios, flambagem estrutural e falta de modernização são exemplos claros de como a negligência pode ter consequências devastadoras. Mais do que uma falha técnica, esses acidentes refletem uma falha moral e ética no tratamento da segurança dos usuários.
O que precisamos mudar em 2025?
Se quisermos que 2025 não seja apenas uma repetição de 2024, é necessário adotar medidas urgentes e coordenadas para transformar o setor. Entre as principais ações estão:
1. Prioridade para a qualidade e segurança
Síndicos, construtoras e gestores públicos devem escolher empresas baseadas na qualidade técnica, e não no menor preço. Contratos de manutenção devem garantir a segurança dos usuários, com auditorias e avaliações frequentes.
2. Fortalecimento da fiscalização
O número de fiscais treinados precisa aumentar, assim como a aplicação de punições severas para empresas que operam fora das normas.
3. Modernização dos equipamentos
Elevadores antigos precisam ser modernizados para atender aos padrões técnicos atuais. Isso inclui atualizações nos sistemas de segurança e manutenção regular.
4. Capacitação dos profissionais
Engenheiros, técnicos e gestores do setor devem buscar constante atualização para atender às normativas de segurança com rigor. A prática de apenas “assinar” ARTs deve ser abolida.
5. Conscientização dos usuários
É necessário educar os usuários sobre a importância de investir em segurança. Economizar na manutenção de um equipamento que transporta vidas é uma atitude irresponsável.
A segurança não pode esperar
Os primeiros acidentes de 2025 já são um alerta para todos os envolvidos no setor de elevadores. Não podemos continuar tratando vidas como meras estatísticas. Cada um de nós tem um papel crucial na construção de um sistema que priorize a segurança acima de qualquer outra consideração.
Elevadores são, e sempre devem ser, um símbolo de eficiência e segurança. Para que isso volte a ser uma realidade, é necessário um esforço coletivo que una engenheiros, técnicos, gestores, síndicos e órgãos públicos em torno de um único objetivo: proteger vidas.
Que 2025 seja lembrado como o ano da transformação, e não como mais um capítulo trágico na história dos elevadores no Brasil. Porque vidas não têm preço, e a segurança não pode ser negociada.
Sobre o autor
Proprietário da ON Soluções em Engenharia, Engenheiro Mecânico, Engenheiro de Segurança do Trabalho, Mestrando em Engenharia de Desenvolvimento Sustentável pela UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), Técnico em Mecânica e Eletrônica. Tem 14 anos de experiência, na área de transportes verticais, na qual, trabalhou nas três maiores fabricantes de elevadores e escadas/esteiras rolantes do mundo. Top Voice do LinkedIn, que leva conteúdos na área de transportes verticais. Também é membro do Comitê Nacional da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), de estudos, atualizações e revisões de normas técnicas, pertinentes a Cabos de Aços, Elevadores, Plataformas de Acessibilidade, Escadas e Esteiras Rolantes.