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David Douek fala sobre pioneirismo na construção sustentável brasileira

Empresário percebeu mudança no setor imobiliário ao final dos anos 2000. Confira entrevista exclusiva sobre construção de carreira, especializações em Green Buildings e práticas sustentáveis.

Por Léa Lobo

David Douek fala sobre pioneirismo na construção sustentável brasileira

Antes mesmo de concluir as graduações em arquitetura e urbanismo e administração de empresas, David Douek já trabalhava em empresas ligadas ao desenvolvimento imobiliário nos anos 1990. Em 2006, ele ouviu pela primeira vez sobre o movimento de construção sustentável protagonizado pelo United States Green Building Council (USGBC) e percebeu a oportunidade em se tornar um dos pioneiros, no Brasil, a atuar na construção de edificações sustentáveis.

“Com o objetivo de retornar ao país munido de recursos suficientes para defender a bandeira da sustentabilidade, viajei para os Estados Unidos para estudar edifícios verdes na Colorado State University e obter a credencial LEED AP, uma raridade no país na época”, comenta Douek.  A partir dessa iniciativa, o especialista negociou um acordo de colaboração e transferência de know-how com a Architectural Energy Corporation, consultora norte-americana voltada para o desenvolvimento de ativos imobiliários mais sustentáveis e eficientes. Naquele momento, David fundou a OTEC.

Hoje em dia, a OTEC apresenta um grande portfólio de cases de eficiência energética e conquista de certificações internacionais para clientes, mas no final dos anos 2000 enfrentou grande ceticismo do mercado brasileiro. “Era tudo muito novo, não havia dados, existia somente um edifício certificado LEED no país e muita dúvida sobre o futuro. Até mesmo as provas para LEED AP, que hoje podem ser realizadas aqui no país, estavam disponíveis apenas nos EUA”, lembra Douek.

Durante o 3º Fórum InfraFM Indústrias & Sites Remotos, realizado nos dias 3, 4 e 5 de junho em São Paulo, David Douek será presidente de mesa. Segundo ele, as realizações profissionais ao longo dos anos, como o pioneirismo no mercado imobiliário, tinham como fundamento a perspectiva que a sustentabilidade seria um futuro inevitável para o setor. Em entrevista exclusiva à InfraFM, Douek  compartilha insights sobre construção de carreira, visão de mercado, especializações em Green Buildings e práticas sustentáveis. 

Quais foram os desafios iniciais ao estabelecer a empresa e como você os superou?
A frase atribuída a Thomas Jefferson, “quanto mais eu trabalho, mais sorte eu tenho”, diz muito sobre a forma com que conduzimos a atuação da OTEC. Acredito que não há desafios que sejam intransponíveis se houver energia dedicada a este fim. 

Isso posto, a principal dificuldade na época da fundação da OTEC era a carência de preparo dos mais diversos elos da cadeia de suprimento da construção civil para se adequar às necessidades de se construir de forma sustentável. Para preencher essa lacuna enquanto prestávamos os nossos serviços de consultoria, nos dedicamos a educar fabricantes, prestadores de serviços e outros membros da cadeia produtiva do setor imobiliário. Com essa abordagem de construção de conhecimento, fomos agraciados com a oportunidade de contribuir com projetos pioneiros no país, como o primeiro centro de cultura e o primeiro estádio certificados LEED do país, assim como o primeiro LEED EB O&M Platinum e outros tantos, os quais, estou certo, inspiraram o desenvolvimento de outros empreendimentos exemplares mundo afora.

Como sua formação acadêmica em administração, arquitetura e engenharia influenciou a abordagem multidisciplinar da OTEC?
Para responder a esta pergunta, é importante termos em mente, primeiramente, que o principal papel de uma consultoria na sociedade é o de aconselhar e o de auxiliar empresas na implantação de soluções para os desafios que surgem em suas jornadas.

No mundo complexo e sistêmico em que vivemos, as questões a serem resolvidas raramente surgem de forma isolada. Há, portanto, a necessidade de equacionar as respostas de forma integrada e multidisciplinar.

Como fundador e diretor da OTEC, entendo que essa capacidade depende amplamente das qualidades individuais dos membros da equipe, mas, igualmente, da capacidade de combinação desse conhecimento tão diverso. Essa é a causa e o efeito de uma busca constante pelo saber das mais diversas disciplinas.

Poderíamos comparar a minha visão sobre a importância do saber multifacetado com a necessidade que um bom regente tem de conhecer a contribuição de cada músico e de seu instrumento para o desempenho de uma orquestra sinfônica. 

Poderia falar sobre suas especializações em Green Buildings, investimentos imobiliários e operações de Mercado Financeiro e como elas agregam valor ao seu trabalho?
Muitos de nós, que atuamos no setor imobiliário, enxergamos o ativo imobiliário como um fim. Sob outras óticas, o imóvel é um meio. Para estes últimos indivíduos ou organizações, o imóvel é uma forma de estabelecer uma operação, uma marca, majorar as oportunidades de colaboração e, até mesmo, de comunicar uma mensagem de marketing.

Sob a ótica de investimento, nem sempre a contribuição que o ativo imobiliário representa para o negócio é explicita. A título de exemplo, imaginemos uma organização que, ao avaliar uma empresa como investimento exija dela evidências de comprometimento socioambiental. No caso, o investidor não está necessariamente preocupado com a gestão do ativo imobiliário, mas sim com o impacto que o gerenciamento dele promove em variáveis como emissões de gases de efeito estufa, consumo de água e energia e condições de saúde e segurança para os usuários, métricas que ele possivelmente utiliza para a sua avaliação.

Novamente, como discutimos anteriormente, o conhecimento de outros mercados orienta na avaliação da materialidade do gerenciamento imobiliário e, no nosso caso, na priorização das estratégias de governança ambiental, social e corporativa, o ESG.

Como suas credenciais LEED FELLOW, LEED AP, WELL AP, Fitwel Ambassador, EDGE Expert e Active Score AP contribuem para as práticas sustentáveis e de eficiência energética em seus clientes?
Há muito tempo tenho claro o valor das certificações. Indiscutivelmente, estão entre as melhores formas de comunicar as boas práticas das organizações ou de empreendimentos imobiliários. Isso ocorre porque, ao obter a chancela de uma terceira parte, o indivíduo conquista a possibilidade de divulgar os seus feitos com o respaldo da credibilidade dos órgãos certificadores, instituições consolidadas e respeitadas no mercado.

Se a certificação por si só, já é um grande feito, o caminho até a sua conquista é repleto de outras vantagens. Gosto de separá-las em diretas e indiretas. No caso de empreendimentos imobiliários, dentre as diretas cito a redução de custo operacional, o ganho de eficiência hídrica e energética, a redução do absenteísmo, a melhoria da qualidade do espaço interno e a redução das emissões de gases de efeito estufa. Já, indiretamente, há oportunidades de aprimoramento de processos gerenciais, coleta e tratamento de dados, valorização profissional e engajamento dos colaboradores.

Há que se considerar que as organizações possuem diferentes necessidades quanto à comunicação dos seus pilares de governança ambiental, social e corporativa. Hoje, há diferentes certificações para transmitir diversos posicionamentos, o que demanda conhecimento do amplo arcabouço de recursos disponíveis no mercado.

A título de exemplo, imaginemos que uma organização que deseje, por meio de seus ativos imobiliários, demonstrar comprometimento ambiental, inclusive com a redução de emissões de gases de efeito estufa, bem como social. Para atingir tais objetivos é possível montar uma estratégia de tripla certificação, recorrendo à LEED do USGBC, à WELL do International WELL Building Institute (IWBI) e à Zero Carbon Certification do International Living Future Institute (ILFI). Ao obtê-las, os empreendimentos estarão fortemente respaldados para divulgar de forma prática e objetiva as suas ações de governança ambiental, social e corporativa, sem deixar dúvidas quanto ao seu engajamento.

Tendo clara essa visão, o meu conhecimento sobre diversas certificações atende às demandas corporativas e socioambientais das organizações.

Como a experiência internacional influenciou o desenvolvimento de negócios estrangeiros, como o software DesignBuilder, no Brasil?
Se considerarmos que a fundação da OTEC possuiu, como um dos seus pilares, a transferência de know-how de uma empresa norte-americana, as trocas culturais sempre constituíram parte importante da nossa operação. Assim, quando surgiu, pouco após 2007, a oportunidade de representar o Designbuilder Software no Brasil, absorvemos de forma natural a comercialização do recurso.

Criado no Reino Unido, o DesignBuilder Software permite, por meio da simulação computacional, avaliar o impacto de estratégias de projeto no desempenho termo-energético e visual das edificações. Adicionalmente, é uma fantástica ferramenta de gestão, na medida em que permite orientar a alocação inteligente de CaPex e o controle de OpEX.

Sempre recorreremos à melhor forma de aprimorar a qualidade do serviço prestado aos nossos clientes.


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