Por Léa Lobo
Em um mundo cada vez mais conectado e dependente de sistemas eficientes de transporte público, a manutenção desempenha um papel crucial na operação diária e na confiabilidade dos serviços oferecidos à população. Esta entrevista explora a importância da manutenção no contexto da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que serve a Região Metropolitana de São Paulo, um dos maiores e mais dinâmicos centros urbanos do Brasil. Nosso entrevistado, Wilson Nagy Lopretto, Gerente Geral de Manutenção, nos oferece uma visão detalhada sobre os desafios, estratégias e inovações implementadas na CPTM para assegurar um transporte de qualidade, seguro e confortável. Acompanhe:
Conte-nos um pouco sobre sua formação e trajetória profissional?
Sou Engenheiro Eletricista, modalidade Eletrônica, com MBA em Excelência na Gestão. Atuo em sistemas de alta capacidade de transporte de passageiros e trabalhei nas áreas de Operação, Planejamento, Projeto e Manutenção. Fui Coordenador de Operação do CoMET – Comitê Multinacional de Sistemas de Metrôs de Alta Capacidade do Mundo, vinculado à Imperial College London. Atuo como Secretário Executivo da Comissão Metroferroviária da ANTP e como Coordenador do Comitê de Manutenção da ALAMYS – Associação Latino-americana de Metrô e Subterrâneos.
Quais são os maiores desafios enfrentados na manutenção de uma rede ferroviária urbana tão extensa e vital para a mobilidade?
O maior desafio é garantir a disponibilidade de nossos ativos, mantendo-os operacionais, de modo a atender com segurança os nossos passageiros. O sistema CPTM é composto de 57 estações, distribuídas ao longo de 5 linhas, sendo 196 quilômetros de extensão, 498 quilômetros de via eletrificada, 136 trens operacionais, 20 subestações, 152 escadas rolantes e 73 elevadores.
Quais foram as lições aprendidas de outros sistemas de transporte público ao redor do mundo que foram implementadas na gestão de manutenção da CPTM?
A troca de informação entre as grandes operadoras e fornecedoras de sistemas metroferroviários do mundo é constante. Através de fóruns internacionais, como a ALAMYS e CoMET, e feiras, como a NT Expo – Negócios nos Trilhos e a InnoTrans – Feira Internacional de Tecnologia de Transportes, é fomentado o compartilhamento das melhores práticas, tecnologias e serviços especializados. As redes sociais são também grandes centros de troca de informações.
O transporte de passageiros nesse modal metroferroviário é vital para a mobilidade urbana das cidades dada sua grande capacidade de transportar pessoas com rapidez, utilizando uma energia limpa e com baixo ruído. E para tal finalidade a manutenção é um fator preponderante, contando com processos que são frequentemente atualizados com foco na rapidez de execução, confiabilidade e com custos sustentáveis. Graças à tecnologia atual, hoje é possível um acompanhamento do estado dos equipamentos em tempo integral e de forma a se antever a problemas que poderiam trazer atrasos nas viagens dos passageiros. Isto melhora a estratégia das ações e viabiliza uma alocação de recursos otimizada.
Na CPTM, uma das ações que melhor simboliza as melhores práticas junto a esse avanço tecnológico é a integração do Centro de Controle Operacional (CCO) e o Centro de Controle da Manutenção (CCM). Essa integração é vital para garantir uma rápida atuação das equipes, melhor distribuição de tarefas e priorização das ações junto ao CCO para otimizar as estratégias operacionais e minimizar os impactos. Também no CCO estamos incluindo um Centro de Monitoramento de Ativos, algo muito comum e praticado em outros países como Espanha, Estados Unidos, Japão e Brasil no Metrô-SP. O foco é permitir esse monitoramento contínuo dos ativos para realização de manutenções preditivas.
Outra ação relevante e praticada no diariamente são as preleções, pois o alinhamento com as equipes é uma excelente prática para manter todos sintonizados com as metas da área e da empresa, evitar riscos e buscar alternativas para os desafios encontrados. Também o cuidado com a Qualidade, com atenção aos indicadores de desempenho para encontrar oportunidades de melhoria e zelar pelas boas práticas já adotadas, além de estar atenta a atualização de procedimentos e documentações técnicas. Hoje a CPTM já possui ISO 9001 em diversas gerências da sua Diretoria de Operação e Manutenção.
Poderia nos dar uma visão geral das estratégias e ações preventivas que a CPTM tem implementado para manter a circulação dos trens?
Assim como na aviação, os trens dispõem de diversos recursos de atuação pelos maquinistas com o objetivo de isolar um problema e continuar a viagem normalmente. Motor, freio, pantógrafos, portas, ar-condicionado, sistema de sinalização, podem ser isolados porque dispõem de redundância, permitindo que a viagem siga sem interferência.
Dentre as estratégias da manutenção, há revisões periódicas nos trens a cada quilometragem definida, garantindo a confiabilidade das viagens. Também há a utilização de monitoramento contínuo dos trens e demais sistemas, com alarmes configurados que informam a equipe técnica quando algum componente precisa de atenção.
Como a capacitação das equipes contribuem para a eficiência na prevenção e no rápido restabelecimento do serviço em caso de paradas?
A compreensão do funcionamento do sistema e a capacitação no uso de recursos para sua manutenção é fundamental para manter uma alta disponibilidade e confiabilidade dos sistemas. As falhas precisam ser recebidas e atendidas rapidamente para evitar impactar a circulação e o passageiro. Sendo assim, os treinamentos desenvolvem a capacidade técnica bem como a postura da equipe para estar sempre pronta para atuar.
Como a CPTM trabalha a comunicação com os passageiros em casos de paradas ou atrasos?
São emitidos Avisos ao Público nas estações e trens comunicando e orientando os passageiros sobre a situação atual e direcionando-os para garantir o melhor fluxo no transporte público.
De que maneira a CPTM avalia o impacto das paradas dos trens na vida dos trabalhadores que dependem do serviço diariamente?
A CPTM transporta mais de 1,5 milhão de pessoas por dia e sabe da importância que tem na prestação desse serviço. Por isso, faz parte da missão da Companhia executar o trabalho com excelência, pois cada minuto impacta diretamente na vida dessas pessoas. Com isso, nossas estratégias de manutenção sempre buscam garantir a disponibilidade do sistema à população.
De que maneira a sustentabilidade é integrada nas práticas de manutenção?
A adoção de práticas preditivas é uma das principais ações voltadas à sustentabilidade na manutenção, pois busca garantir a operacionalidade dos sistemas aproveitando os recursos de forma otimizada, ou seja, a manutenção preventiva é realizada em momentos ótimos, quando o equipamento precisa ser atuado. Além disso, também adotamos a substituição de componentes antigos por mais sustentáveis, como a substituição de lâmpadas fluorescentes por lâmpadas de LED, que além de serem mais econômicas, exigem menos manutenção e duram mais.
Como a CPTM gerencia os riscos associados à manutenção de sua frota e infraestrutura?
CPTM adota o uso de gerenciamento de riscos em seus projetos, onde todas as ações possuem um mapa de risco em que cada tipo de criticidade possui seu devido plano de ação ou mitigação de riscos.
Pode nos contar sobre algum caso e/ou contingências que vão além da ação da equipe de manutenção?
Chuvas, descargas atmosféricas e vandalismo são os principais agentes externos que nem sempre estão sob controle. Contudo, cada um deles possui formas de mitigação como uso de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas e inspeções de segurança de rotina.
Esta entrevista destaca o compromisso da CPTM com a inovação e a melhoria contínua de seus serviços de transporte. Este olhar detalhado para os bastidores da operação e manutenção fornece uma perspectiva valiosa sobre como a infraestrutura crítica de transporte é gerenciada.