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Saúde mental entra no radar das fiscalizações trabalhistas

Em 2024, o Brasil ultrapassou 470 mil afastamentos por transtornos mentais

Por Natalia Gonçalves

Saúde mental entra no radar das fiscalizações trabalhistas

Brasil registra 472 mil afastamentos por transtornos mentais em 2024, número mais alto da última década, segundo o Ministério da Previdência Social. Foto: Canva.com/ champpixs



A saúde mental deixou de ser um tema periférico nas empresas brasileiras e passou a ocupar um lugar central nas discussões sobre clima organizacional, produtividade e sustentabilidade do trabalho. O número de trabalhadores afastados por transtornos como ansiedade, depressão e burnout cresceu significativamente nos últimos anos, apontando para uma crise silenciosa no ambiente corporativo.

Somente em 2024, o Ministério da Previdência Social registrou 472 mil licenças por transtornos mentais, o maior número em pelo menos uma década. O dado acompanha outras pesquisas que revelam a sobrecarga emocional dos trabalhadores. Um levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que 43% dos profissionais se sentem sobrecarregados, enquanto 31% relatam sofrer pressão excessiva por metas.

Diante desse cenário, o Ministério do Trabalho e Emprego atualizou a Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que estabelece os fundamentos do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR). A nova versão da norma, que entra em vigor em 26 de maio de 2026, passa a incluir os riscos psicossociais entre os fatores obrigatórios de avaliação, exigindo das empresas uma abordagem estruturada para lidar com questões como estresse ocupacional, assédio moral e sobrecarga emocional.

Para o psicólogo e especialista em saúde organizacional Filipe Colombini, não é possível enfrentar esses desafios com ações pontuais. “Não basta colocar um tapete de mindfulness ou oferecer um café. É preciso construir uma cultura genuína de cuidado, que integre a saúde mental à estratégia da empresa, da liderança ao operacional”, afirma.

Colombini lembra que a separação entre saúde física e mental é apenas didática. “Tudo está interligado. Uma empresa saudável é feita por pessoas saudáveis física e emocionalmente”, explica.

Entre os pontos centrais para atender às exigências da nova norma estão:
- Capacitação contínua das lideranças;
- Espaços seguros de escuta e canais de compliance;
- Monitoramento do clima organizacional;
- Benefícios de saúde mental, como subsídios à psicoterapia;
- Promoção de relações saudáveis e ambientes colaborativos;
- Prevenção a comportamentos nocivos e discriminação.

O papel da liderança é destacado como elemento estratégico. “Quando capacitadas, as lideranças desenvolvem habilidades fundamentais como escuta ativa, empatia, comunicação não violenta e gestão de conflitos, o que os torna agentes reais de promoção do bem-estar emocional das equipes”, pontua Colombini. “Sem esse preparo, qualquer iniciativa tende a se tornar superficial ou incoerente com a prática cotidiana da organização.”

O especialista também destaca a importância de romper com padrões culturais que ainda associam a busca por apoio psicológico a fraqueza. “Isso ainda está muito presente, principalmente entre lideranças masculinas. Mas saúde mental é força. E empresas que não entendem isso estão fadadas a perder produtividade, talentos e reputação”, observa.

Exemplo prático: Grupo Acelerador adota pacote amplo de bem-estar
Algumas empresas já se antecipam às exigências da NR-1. O Grupo Acelerador, liderado por Marcus Marques, estruturou um conjunto de ações voltadas ao bem-estar físico, emocional e social dos colaboradores. O pacote inclui jornada flexível, apoio psicológico, academia 24 horas, programas de educação, convênios integrais de saúde e incentivo à celebração de conquistas e momentos pessoais.

Com essas iniciativas, a empresa reduziu em 18% a rotatividade de funcionários em um ano. “A expectativa é ampliar ainda mais esses resultados em 2025”, afirma Marques. O investimento total em capacitação foi de R$ 3,57 milhões, destinados a treinar 218 colaboradores em mais de 5.700 horas.

“Acreditamos que alta performance só é sustentável quando as pessoas têm suporte para suas necessidades reais, dentro e fora do trabalho”, diz Marques. Entre os programas estruturais estão o Acelera Terapia, com R$ 500 mensais de apoio psicológico, e o Acelera Educação, com R$ 300 mensais para formação acadêmica.

A empresa também aposta em uma cultura de autonomia e desenvolvimento, com incentivos à mobilidade interna, participação nos lucros e programas que valorizam sugestões dos colaboradores.

Estresse atinge mais jovens no mercado de trabalho
Um levantamento do Conselho Regional de Administração de São Paulo (CRA-SP) mostra que os profissionais da geração Z são os mais afetados pelo estresse no ambiente corporativo. Entre os entrevistados com idades entre 20 e 30 anos, 72,2% afirmam sentir-se frequentemente estressados, e 44,4% relatam sintomas como insônia, ansiedade e cansaço extremo.

A pesquisa aponta que a carga excessiva de trabalho, a burocracia nos processos e a falta de reconhecimento são os principais fatores citados pelos profissionais de diferentes faixas etárias. Para o presidente do CRA-SP, Alberto Whitaker, o cenário exige atenção do setor de recursos humanos. “É a primeira vez que temos tantas pessoas diferentes trabalhando juntas, em um mesmo ambiente. Essa diversidade requer um olhar mais cuidadoso do RH, que precisa escutar e entender, de forma genuína, o que cada profissional requer para se sentir bem”, conclui.


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