Por Regina Célia Silva
Em um bairro cobiçado de São Paulo, o Condomínio Paulista Home Resort, localizado na Rua Frei Caneca, no Bela Vista, combina áreas de lazer amplas com três torres residenciais imponentes, prometendo uma vida harmoniosa para mais de 1.000 moradores. No coração deste labirinto de concreto e jardins, atuo eu, Regina Célia Silva, a síndica, cujo trabalho diário vai além da manutenção física das estruturas que compõem o meu universo de atuação.
Antes de ser síndica, acumulei várias experiências profissionais em corretoras, bolsas de valores e bancos de investimentos, além de ter trabalhado na indústria e em empresas nacionais, multinacionais e prestadoras de serviços. Formada em Economia e Administração, com pós-graduações em Administração com ênfase em Hotelaria e cursos para atuar como síndica profissional, enfrento diariamente o desafio de manter o valor do complexo residencial e dos apartamentos, além de harmonizar as relações entre um mosaico geracional de moradores. Os mais jovens, sempre conectados e demandando soluções tecnológicas, os baby boomers, que valorizam a segurança e a tranquilidade, e uma ampla diversidade cultural que abrange desde o artista boêmio até o executivo de multinacional, todos compartilhando os mesmos espaços com expectativas distintas.
No contexto da gestão, contamos com 40 funcionários entre orgânicos e terceirizados nas áreas de segurança, piscinas, bombas, limpeza, ar condicionado, coleta de orgânicos e recicláveis, jardinagem, elevadores e academia, além das devidas áreas técnicas. O condomínio também possui três salões de festas, espaço gourmet, salão infantil, spas, quadras poliesportiva e de squash, saunas, brinquedoteca, salão de jogos adulto e infantil, lan house, espaço pet, garage band, cinema e piscinas interna e externa.
Numa manhã típica, reviso os relatórios de manutenção: elevadores para modernizar, piscinas para aquecer e um sistema de segurança que requer constante atualização. E claro, as contingências. Um exemplo: a falta de energia que ocorreu em novembro do ano passado se repetiu em março, quando a região central de São Paulo, onde está localizado o condomínio, teve que lidar com inúmeras quedas de energia causadas por altas temperaturas e obras de outras distribuidoras de recursos, segundo a Enel. A demora de cerca de sete dias para restaurar completamente a energia no local é um desafio que não é diretamente responsabilidade da síndica, mas afeta significativamente a comunidade.
Porém, é na gestão da comunidade que meus desafios se intensificam. O grupo de WhatsApp do condomínio, criado para facilitar a comunicação, muitas vezes se transforma em palco para disputas e reclamações que variam desde barulho em horários inapropriados até uso indevido das áreas comuns. Recentemente, uma rescisão contratual, decidida em Conselho, tornou-se um campo de batalha ideológico. Navegar por essas águas turbulentas, equilibrando desejos e ponderações, enquanto tento não favorecer um grupo em detrimento de outro, é uma tarefa desafiadora.
As assembleias são outro momento de tensão. Preparo cada encontro como quem planeja uma trégua em território disputado, apresentando os fatos com clareza, mediando as discussões com paciência e firmeza nas decisões que beneficiam a coletividade.
Ao final de cada dia, refletindo sobre os desafios enfrentados, sinto uma mistura de exaustão e realização. Cada pequena vitória contribui para a manutenção da paz no condomínio e valoriza não apenas o patrimônio físico das torres, mas também a rica tapeçaria humana que lá habita. Compreendo que minha verdadeira tarefa não é apenas gerenciar um condomínio, mas liderar uma pequena cidade, com todos os seus desafios e belezas.
À medida que o sol se põe sobre as torres do residencial, retorno ao aconchego do meu lar, onde esperam por mim outras responsabilidades. Sou mãe de Lucas e Laura, e recentemente também me tornei responsável pelo cuidado da minha mãe, Eliza de 95 anos. Cada um com seus próprios desafios e descobertas, exigindo de mim um equilíbrio diferente, único, mas igualmente delicado. Além disso, ao lado do meu marido, um médico cirurgião dedicado, cuido da gestão de seus consultórios e contratos com prestação de serviços em hospitais, lidando com um universo repleto de urgências e necessidades especiais.
Essa multiplicidade de papéis às vezes me sobrecarrega, e é nos momentos de quietude, geralmente tardios, que reflito sobre a minha jornada. Lembro-me de que, apesar das expectativas altas e das responsabilidades enormes, não sou uma heroína. Sou apenas uma mulher, fazendo o meu melhor diante das demandas que a vida coloca à minha frente.
Como síndica, mãe, filha, esposa e parceira de negócios, aprendi que não tenho todas as respostas, e está tudo bem. Não há manuais para a complexidade dos dias que enfrento, nem fórmulas mágicas que resolvam cada conflito ou preencham cada lacuna. O que tenho são minhas experiências, minha intuição, a vontade de fazer o bem e o que acho correto. Admitir que não somos perfeitos e que não podemos fazer tudo sozinhos é, talvez, o primeiro passo para realmente conseguir administrar todas essas vidas que se entrelaçam à minha. É também um lembrete para que eu possa buscar apoio quando necessário, dividindo minhas cargas e multiplicando as alegrias.
Ao compartilhar essa história, espero que ressoe com outros que se veem no meio de suas próprias torres e desafios. Que possam, também, encontrar conforto na ideia de que, mesmo sem sermos heróis ou heroínas, cada esforço conta e cada dia é uma nova chance para aprendermos e crescermos, juntos.
Assim, enquanto preparo o jantar, procuro com afinco descobrir os relatos dos meus filhos sobre o dia, quando eles conversam comigo, sinto uma profunda gratidão. Grata por cada pequeno sucesso, por cada erro do qual aprendi, e pela oportunidade de amar e liderar com humanidade. E, amanhã, um novo dia nascerá, e com ele, novos desafios e novas possibilidades. E assim é a vida de uma também Facility Manager!