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Prédios Verdes

Motivos que levam edifícios verdes a não performarem conforme o esperado

Por Léa Lobo

SMACNA Day - Prédios Verdes

Foto: Divulgação

No dia 05 de setembro de 2024, a SMACNA Brasil organizou o Smacna Day em São Paulo, onde especialistas compartilharam insights sobre as melhores práticas para sistemas de climatização em edificações. Um dos destaques do evento foi a palestra de Thiago Portes, diretor da Comis Engenharia, que discutiu as causas por trás do desempenho abaixo do esperado em edifícios verdes. Portes apresentou uma visão ampla, focando em falhas que ocorrem tanto no projeto quanto na operação desses empreendimentos sustentáveis.

Portes iniciou a apresentação definindo o que caracteriza um edifício verde. Ele explicou que esses empreendimentos têm como objetivo minimizar os impactos ambientais ao longo de seu ciclo de vida, abrangendo benefícios econômicos, sociais e ambientais. Edifícios verdes, quando bem projetados e operados, oferecem vantagens como a redução de emissões de carbono, valorização do imóvel e melhorias na qualidade do ar. "Essas edificações são pensadas para otimizar o uso de recursos, como energia e água, e oferecer maior conforto para os ocupantes", disse Portes.

Apesar das certificações de sustentabilidade como LEED e ACQUA, Portes enfatizou que muitos edifícios verdes não atingem o desempenho esperado. Ele destacou que essas certificações, embora sejam importantes para orientar e comprovar que o empreendimento atende aos requisitos de sustentabilidade, não garantem que o prédio funcionará adequadamente ao longo de sua vida útil. "A realidade é que muitos prédios certificados acabam tendo falhas de desempenho em diversos indicadores, como consumo de energia, qualidade do ar e conforto térmico", alertou.

A palestra trouxe à tona os principais fatores que impactam negativamente o desempenho de edifícios sustentáveis, divididos em três categorias: fatores técnicos, humanos e externos.

Fatores técnicos: falhas no projeto

Um dos fatores técnicos mais críticos apontados por Portes é a falha no projeto. Ele mencionou casos em que empresas com pouca ou nenhuma experiência em projetos de grande porte foram contratadas para desenvolver sistemas complexos. "Há situações em que empresas de automação residencial assumem a responsabilidade por prédios corporativos certificados, o que é um erro grave", disse ele.

Outros problemas frequentes incluem o superdimensionamento de sistemas, que pode resultar em desequilíbrios no consumo de energia e dificuldades na operação. "Um sistema de ar-condicionado superdimensionado, por exemplo, pode levar a problemas de controle de umidade e aumento no consumo de energia", explicou.

Portes também apontou a falta de integração entre os sistemas como um desafio comum. "Por vezes, sistemas de automação e climatização não se comunicam corretamente devido à falta de compatibilidade entre os equipamentos instalados", completou.

Fatores humanos, comportamento e operação inadequada

Portes mencionou que, mesmo com sistemas avançados, se os usuários não forem treinados adequadamente, o desempenho do edifício pode ser comprometido. "Se o controle de temperatura é deixado nas mãos dos usuários, muitas vezes surgem conflitos de interesses. Uns preferem temperaturas muito baixas, enquanto outros querem temperaturas mais altas", comentou.

Além disso, a falta de treinamento adequado para equipes de operação e manutenção também é um fator relevante. "Muitos edifícios têm sistemas avançados, mas a equipe de operação não está qualificada para lidar com essa complexidade. Isso acaba levando a ajustes manuais que comprometem a eficiência dos sistemas", afirmou.

Fatores externos, mudanças climáticas e regulamentação

Portes abordou também os fatores externos que afetam a performance dos edifícios, como mudanças climáticas e alterações nas regulamentações. "Ondas de calor, por exemplo, podem sobrecarregar sistemas de ar-condicionado que não foram projetados para essas condições extremas", disse. Ele mencionou a importância de projetar edifícios resilientes, capazes de se adaptar a essas mudanças.

Além disso, ele alertou para a complexidade normativa em diferentes regiões do Brasil, que pode afetar a execução de projetos sustentáveis. "As regulamentações variam de estado para estado, e isso pode gerar desafios adicionais durante a fase de implementação", concluiu.

Exemplos práticos de falhas em edifícios verdes

Portes compartilhou exemplos práticos de problemas encontrados em edifícios certificados, como a instalação de materiais inadequados e a obsolescência tecnológica. Ele citou um caso em que um sistema de automação proprietário foi instalado em um prédio, mas a linha de produtos foi descontinuada pouco tempo depois, deixando o cliente sem suporte e com um sistema obsoleto.

Outro exemplo foi a instalação de um sistema de ventilação natural em um edifício no centro da cidade, que, na prática, não funcionou devido à localização e características do ambiente. "O prédio foi certificado com ventilação natural, mas, em menos de dois anos, foi necessário instalar sistemas de ar-condicionado improvisados para garantir o conforto dos usuários", explicou.

A importância do comissionamento

Portes também destacou a importância do comissionamento adequado dos sistemas. Ele criticou a prática de "comissionamento LEED", em que empresas fazem apenas visitas superficiais e preenchem documentação para atender os requisitos da certificação, sem realizar testes completos. "O comissionamento real envolve a garantia de que todos os sistemas do edifício estão funcionando conforme o projetado e deve ser realizado de forma contínua", enfatizou.

Por fim, a palestra foi um alerta sobre os desafios enfrentados na construção e operação de edifícios verdes. Ele reforçou que, para que esses empreendimentos realmente atinjam o desempenho desejado, é necessário um planejamento detalhado, a contratação de profissionais qualificados e o investimento contínuo em manutenção e operação eficiente. "O conceito de edifício verde vai além de obter uma certificação; envolve garantir que a construção seja sustentável ao longo de todo o seu ciclo de vida", finalizou.



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Marco Crespo

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