O erro comum na concepção de espaços de trabalho

Muita prioridade se dá ao visual, mas quais os efeitos de ignorar a parte acústica?

Por Mateus Murozaki

O erro comum na concepção de espaços de trabalho

Foto: Canva.com/pixelshot

O quão essencial é a concentração para o seu trabalho? Imagina-se que seja fundamental, não é mesmo?

Com isso em mente, é essencial que os escritórios prezem por estratégias de workplace que visam a conservação do foco individual de cada trabalhador, seja através de um design arquitetônico inteligente ou utilizando elementos de design específicos. A acústica impera nesse sentido. Nada pode comprometer mais o ritmo de trabalho de um profissional do que a distração causada por sons indesejados, sejam externos ou internos.

Para além da questão do foco, o ruído também pode ser prejudicial a longo prazo, como apontamos em uma matéria anterior. Por mais inofensivos que possam parecer, pequenos sons constantes que são expostos a uma pessoa por um longo período de tempo e com frequência podem sim trazer danos ao sistema auditivo.

Leia também: O escritório como espaço acústico para atender ao modelo híbrido de trabalho

Trazendo o essencial ao primeiro plano

De acordo com Marco Aurélio Rodrigues de Paula, fundador e CEO da GRM Acústica, os cuidados acústicos na construção e concepção de um ambiente de trabalho quase sempre acabam ficando em segundo plano, atrás do esmero visual, o que acarreta em problemas sérios.

O profissional comenta que "as pessoas compram com os olhos e vendem com os ouvidos", no sentido de que não importa o quão belo e bem acabado seja um ambiente, em algum momento os olhos vão se acostumar e o encanto vai embora, enquanto os ouvidos captam defeitos de maneira cada vez mais clara.

Esses problemas, de acordo com o CEO, têm alguns vieses: o primeiro é o ruído externo de carros, pessoas, animais e outras fontes de barulho próximas. Isso afeta principalmente aqueles que moram e trabalham em grandes centros urbanos, como capitais.

O segundo é o som que navega entre unidades, como um prédio onde uma sala recebe o barulho dos apartamentos laterais, superiores ou inferiores. Isso causa uma perda de privacidade baseada na ideia de que você também pode ser ouvido pelos vizinhos.

Esse é um problema que afeta principalmente profissionais cujas funções necessitam de intimidade, como consultórios médicos, advogados ou psicólogos. Pode também impactar internamente, principalmente em escritórios com times diferentes que dependem de comunicação.

"Eu tive um trabalho muito grande que foi na antiga Peixe Urbano, que fazia vendas coletivas. Eles tinham aquele conceito de escritório aberto. O que acontecia? O pessoal do call center dividia o mesmo espaço com o pessoal do suporte, que dividia o mesmo espaço com o pessoal do desenvolvimento. O que acontecia? Todo mundo se ouvia. Então, quem estava em treinamento atrapalhava quem estava trabalhando. Quem estava na sala de reunião acabava sendo invadido pelo ruído também da área comum. E o pessoal da sala de reunião grande não conseguia nem fazer uma teleconferência, porque o som entrava e, eventualmente, algum som saía também, atrapalhando a privacidade", comenta o CEO.

Esse descaso, de acordo com o profissional, vem de questões orçamentárias, que, como citado antes, priorizam a parte estética e deixam a acústica como terceira ou quarta prioridade. Isso acontece até mesmo em ambientes onde o som está em primeiro plano, como igrejas, teatros e auditórios.

Eloe aponta que, para remediar isso, é preciso ter noção da necessidade de cada escritório e então planejar de acordo. Haverão equipes de vendas? Máquinas que fazem sons altos? Existem espaços de socialização? Então é sempre preciso pensar em como o barulho que esses ambientes produzem podem afetar os demais. Paredes de drywall, painéis acústicos e elementos que absorvem o som, como plantas, são boas opções para ajudar a controlar a propagação de ruído.

Cenário em mudança

Marco Aurélio comenta que, além de esforços que ele e outros players da área de acústica estão fazendo para que o assunto seja propagado, há outra questão que vem chamando a atenção do mercado: a aposentadoria especial.

O setor de indústrias, em especial, é particularmente perigoso pois conta com máquinas barulhentas que podem causar danos severos nos tímpanos de seus operadores e pessoas ao redor. Por conta disso, não é incomum que empresas do setor acabem perdendo R$2 milhões ao longo de cinco anos só em custos da aposentadoria especial de ex-colaboradores.

Por conta disso, é imperativo que as medidas de proteção física levem em conta a audição dos funcionários. Reparar máquinas pode sair caro, mas, a longo prazo, é capaz de economizar um valor expressivo para as empresas.

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