O escritório como espaço acústico para atender ao modelo híbrido de trabalho.
Artigo da Arqta. Dra. Claudia Andrade e do Eng. Acústico Bruno Amabile.Por Claudia Andrade e Bruno Amabile
A pandemia de COVID–19 trouxe mudanças incontestáveis na forma da realização do trabalho possibilitando as pessoas de trabalharem de forma remota ou presencial nos escritórios. O novo modelo híbrido exige das empresas a criação de um escritório mais voltado para a conectividade, socialização e atividades colaborativas. Assim o ambiente passa a ser, sobretudo, um espaço acústico que deve garantir a qualidade sonora dos diversos ambientes disponíveis, sejam eles abertos, colaborativos, de integração, regeneração ou espaços silenciosos para concentração e privacidade que podem ser escolhidos de acordo com as atividades desenvolvidas pelos colaboradores.
Sabe-se que as organizações buscam obter ao máximo a capacidade produtiva de seus colaboradores e o espaço físico é um meio importante para isso sendo considerados diversos fatores para tal, como iluminação adequada, mobiliário ergonômico e layout eficiente. No entanto, um elemento muitas vezes negligenciado, mas de extrema importância, é a acústica.
A acústica, o estudo do som e sua propagação, desempenham papel fundamental na criação de um ambiente de trabalho adequado. Ela está relacionada não apenas a qualidade sonora, mas também ao conforto e ao bem-estar dos funcionários. Ambientes corporativos com acústica inadequada podem levar a uma série de problemas, como distração, além de sintomas fisiológicos e psicossomáticos, aumento do estresse e diminuição da produtividade. A exposição constante a ruídos indesejados, como vozes altas, telefone tocando, barulho de impressoras ou ruídos provenientes de áreas compartilhadas, pode levar a erros, falta de foco e diminuição do desempenho individual e coletivo pois quando as pessoas não conseguem pensar e se concentrar para fazer seu trabalho por causa do barulho ou das distrações, elas se tornam mais retraídas e menos propensas a colaborar.
Figura 1 - Layout conceitual por zonas de atividades e descrição das atribuições de cada uma delas. |
Além disso, a privacidade é um aspecto crucial nos ambientes corporativos. A falta de isolamento acústico adequado pode resultar em vazamento de informações confidenciais e comprometimento nas comunicações entre os colaboradores. Isso pode afetar negativamente a segurança da informação e a confiança dentro da organização. Por outro lado, um ambiente com acústica bem projetada e controlada pode proporcionar conforto e criar um clima favorável ao trabalho, estimulando a criatividade, a concentração e a interação entre os membros da equipe.
Este artigo resulta de pesquisa realizada em duas etapas. A primeira dedicou-se a definição das zonas de atividades, de acordo com o conceito de Escritório Flexível, que foram divididas em seis. As de colaboração e de integração em maior parte; as áreas de estações de trabalho abertas compartilhadas e as para trabalho com foco e privacidade, em menor parte pois, esses trabalhos de cunho individual, podem ser realizados a partir de casa e não presencialmente.
A primeira criou um layout conceitual referencial, levando-se em consideração não somente as zonas de atividades, mas também o nível potencial de ruído a ser produzido. Nas pontas, encontram-se as áreas produtivas individuais e que necessitam de maior privacidade (áreas de vizinhança e de foco). Próximo a elas, foram posicionadas as salas fechadas para servir como barreira acústica, evitando ao máximo que fontes de ruído e distração pudessem causar desconforto as áreas produtivas. Na área central, ficaram as áreas de maior ruído, como as áreas colaborativas abertas, as áreas de integração (café, por exemplo) e uma área de jogos semiaberta para regeneração e a de descompressão fechada até o teto.