Por Ricardo Vacaro
A pauta ESG (Environmental, Social, and Governance) tem ganhado destaque no mundo empresarial. Contudo, a implementação eficaz dessa agenda possui desafios significativos para enfrentar as questões urgentes como aquecimento global, mudanças climáticas e desigualdade social.
Premissas Fundamentais
Este artigo é guiado por três premissas centrais:
- Sustentabilidade e Sucesso Empresarial: não existe empresa bem-sucedida em um mundo insustentável.
- Interdependência: o valor gerado por uma empresa deve ser compartilhado entre todos os stakeholders, incluindo colaboradores, clientes, fornecedores, comunidades locais e a sociedade em geral.
- Regra de Ouro: baseada em tradições culturais e religiosas diversas, essa regra nos orienta a "nunca fazer aos outros o que não gostaríamos que fizessem a nós".
Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável
Foi a partir de crenças como estas que no final da década de 1980, início da década de 1990, ganhou força entre as empresas o movimento de Responsabilidade Social Empresarial ou Corporativa.
Há diversas tentativas de definição do que é sustentabilidade. Uma das primeiras foi proposta em 1987 pela Comissão Brundtland da ONU: "suprir as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades".
John Elkington, na década de 1990, introduziu o conceito de Triple Bottom Line (TBL), focando nos pilares social, ambiental e econômico (pessoas, planeta e lucros) muito adotada pelas empresas neste período.
Há ainda uma bastante charmosa contida na frase apócrifa, "o suficiente para todos para sempre", escrita num muro de Joanesburgo, durante COP 2011.
Sustentabilidade e ESG
Sustentabilidade da vida no planeta Terra é uma visão. O Desenvolvimento Sustentável é uma estratégia para se chegar lá, como por exemplo, os 17 ODS – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, a famosa Agenda 2030, da ONU. E o ESG é uma tática.
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ESG: Definição e Evolução
O termo ESG surgiu em 2004 com o documento do Pacto Global da ONU "Who Cares Wins" (Quem cuida ganha) com o subtítulo “Conectando Mercados Financeiros para um Mundo em Transformação”. Embora frequentemente considerado uma evolução da sustentabilidade, ESG é um recorte com perspectiva empresarial, focando em ambiental, social e governança.
Governança Corporativa
Nesta ideia, Governança é a novidade. O IBGC define governança como "o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas".
Mudanças Climáticas
O efeito estufa, exacerbado pela emissão excessiva de gases, leva ao aquecimento global, evidenciado pelo aumento das temperaturas médias nos últimos 15 anos. Combater as mudanças climáticas requer a redução dessas emissões, conforme estipulado no Acordo de Paris de 2015, que visa limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC até 2100.
Secas, enchentes, incêndios florestais, furacões destrutivos estão em ascensão pelo globo e deixam um rastro negativo de perdas humanas e econômicas.
Em 2020, o Fórum Econômico Mundial apontou pela primeira vez as mudanças climáticas como o principal risco global no longo prazo e a degradação ambiental aparece como uma ameaça existencial para a humanidade.
Impactos ambientais e sociais do crescimento populacional
Com uma população mundial de quase oito bilhões, o consumo de recursos naturais está além da capacidade de regeneração do planeta. A Índia, recentemente, ultrapassou a China como o país mais populoso, e a maioria de seus habitantes vive na pobreza. Se o padrão de consumo dessas populações aumentar, necessitaremos de 3 a 4 planetas para sustentar esse movimento. No entanto, só temos um, e que por sinal, é um sistema fechado.
A pergunta que não quer calar: há saída no futuro?
Possivelmente sim, há um caminho para evitarmos o pior. Este caminho exige muitos esforços de governos, das empresas e das pessoas.
Serão necessárias iniciativas que combinam muitos fatores tais como: mudança tecnológica, mudanças radicais em Política Pública, nova consciência dos consumidores, inovação radical em produtos e serviços e nova organização da sociedade que impulsione e valorize novos estilos de vida.
Sustentabilidade no Setor de Limpeza Profissional
O setor de limpeza profissional tem avançado com novas tecnologias que aumentam a produtividade e reduzem os custos e riscos à saúde. Contudo, ainda há muito a evoluir em relação à agenda ambiental. A manipulação inadequada de produtos químicos e o descarte de resíduos são desafios que necessitam de uma abordagem mais sustentável.
Segundo a ABRELPE, o Brasil gera 2.000 Maracanãs, ou seja, 81,8 milhões de toneladas de resíduos anualmente, com 39% sendo descartados de forma inadequada. Esses resíduos consumiram R$30,5 bilhões de recursos públicos em 2020.
Para ser mais específico, no Brasil, em 2022, foram despejados, segundo a ABIPLA – Associação Brasileira da Indústria de Produtos de limpeza, aproximadamente 6 milhões de toneladas de produtos químicos de limpeza, domésticos e institucionais e 1,4 milhão de toneladas de papéis sanitários, segundo o Instituto IBÁ – Instituto Brasileiro de Árvores.
São números extraordinários. Só para efeito de comparação, se fôssemos transportar este volume através de um trem de carga, equivaleria a um comboio com aproximadamente 100.000 vagões, com 1.000km de extensão, suficientes para ligar São Paulo a Brasília sem sair do lugar.
O impacto ambiental da produção de matérias-primas e produtos acabados, bem como seu transporte e consumo, exige o mínimo e adequado descarte na natureza, bem como a adoção de práticas de economia circular para mitigar esses efeitos.
Conclusão
Após 25 anos do conceito de Triple Bottom Line, John Elkington propôs um recall, enfatizando que o sucesso deve ser medido pelo bem-estar das pessoas e a saúde do planeta, além dos lucros. A adoção de práticas sustentáveis é imperativa. A continuidade desse compromisso é vital para enfrentar os desafios ambientais e sociais que ameaçam nossa sobrevivência. Todos nós estamos convocamos para seguir com convicção nesta jornada, pois as consequências da inação são prejudiciais para todos.
Ricardo Vacaro é Diretor Geral na RL Higiene - [email protected]