Por Léa Lobo
No dia 04 de setembro de 2024, a SMACNA Brasil organizou o Smacna Day em São Paulo, um evento focado em apresentar as melhores práticas e tecnologias de climatização para edificações hospitalares.
Entre as palestras de destaque, Raymond Khoe, diretor da MHA Engenharia, trouxe uma análise profunda sobre as soluções de eficiência energética aplicadas a hospitais e clínicas de grande complexidade. Sua apresentação focou em como um sistema de ar condicionado adequado pode maximizar a eficiência, reduzir custos e melhorar a segurança em ambientes hospitalares.
Raymond Khoe iniciou sua palestra ressaltando que hospitais de grande complexidade, clínicas e centros médicos, apresentam desafios únicos no que diz respeito à climatização e eficiência energética.
As principais demandas incluem controle simultâneo de temperatura e umidade, confiabilidade, expansibilidade, facilidade de manutenção, qualidade do ar e pressurização dos ambientes além da necessidade de sistemas redundantes e de fácil manutenção. “Hospitais são obras contínuas. Nunca há um ponto final em sua evolução,” destacou, apontando a necessidade de expansibilidade e flexibilidade nos projetos.
Segundo Khoe, o primeiro passo para garantir eficiência energética é o desenvolvimento de um projeto adequado. Ele destacou que um bom projeto deve atender não apenas às normas, mas também aos requisitos específicos de cada hospital. Khoe compartilhou um exemplo de um hospital que, por conta de eventuais pandemias, solicitou que o sistema de ar condicionado de um andar de internação específico pudesse ser convertido rapidamente em UTI com a utilização de fancoletes hospitalares. “Isso é um exemplo de flexibilidade de projeto que responde a necessidades emergenciais,” explicou.
Ele também falou sobre o uso de ferramentas modernas, como o Building Information Modeling (BIM), que permite a visualização completa das instalações de ar-condicionado e facilita a compatibilização do projeto e o planejamento de expansões e manutenções futuras.
Outro ponto alto da palestra foi o uso de automação para otimizar o consumo de energia. Sistemas de Building Management Systems (BMS) e Machine Learning (aprendizado de máquina) permitem o monitoramento em tempo real das condições climáticas externas e internas, ajustando o funcionamento dos sistemas de ar-condicionado de acordo com a necessidade. “A integração entre o ar-condicionado e outros sistemas, como iluminação e sensores de presença, também é essencial para otimizar a operação otimizada de um hospital”, afirmou Khoe.
Ele ainda destacou a importância de integrar diferentes fabricantes e tecnologias de forma harmônica. "Um sistema de ar condicionado eficiente precisa ter todos os componentes conversando entre si", observou, referindo-se ao desafio de integrar chillers, bombas, torres de resfriamento e condicionadores de ar de diferentes fornecedores.
A palestra também abordou a importância do zoneamento adequado para a climatização de hospitais. “Não podemos tratar um centro cirúrgico da mesma forma que uma UTI ou uma área de consultórios. O zoneamento permite que cada área seja tratada com as suas necessidades específicas”, explicou. Khoe enfatizou que as cargas térmicas e as ocupações dos ambientes variam ao longo do dia, e que soluções como fancoletes individuais ou sistemas de VAV (Volume de Ar Variável) aplicados a ambientes expostos à mesma fachada, podem ser implementados, desde que sejam considerados os diferentes padrões de uso.
Khoe defende que a concepção do sistema de ar condicionado deve ser feita por profissional que tenha bons conhecimentos, não apenas dos sistemas de ar condicionado hospitalar e sim, de como opera cada área do hospital, através da interação com os gestores e colaboradores do hospital.
Ele destacou ainda que a correta setorização evita desperdícios de energia, como a separação de sistemas com a necessidade de controle de umidade de outros que não tem esse requisito.
Khoe também apresentou tecnologias inovadoras para climatização hospitalar, como as vigas frias e o teto radiante. Essa solução utiliza a capacidade da água de absorver calor de forma muito mais eficiente que o ar, para aumentar a eficiência energética no transporte de calor. No entanto, ele alertou que essas tecnologias têm limitações, como a possibilidade de condensação e a filtragem do ar, e devem ser aplicadas prioritariamente em áreas administrativas e de internação.
Outro exemplo citado foi o sistema DOAS (Dedicated Outdoor Air System), que resfria e desumidifica o ar externo de renovação antes de introduzi-lo nos ambientes climatizados, controlando indiretamente a umidade interna e economizando energia.
A recuperação de calor foi outro ponto importante discutido na palestra. O calor gerado pelos chillers pode ser utilizado para pré-aquecer a água de consumo (chuveiros e cozinha, por exemplo), economizando energia. No entanto, Khoe explicou que essa solução deve ser avaliada em função do tipo de condensação do chiller, e que é necessário avaliar a demanda de água quente do hospital antes de implementar o sistema.
Ao final da palestra, Khoe destacou que a envoltória — a parte física que protege o hospital do ambiente externo — é crucial para a eficiência energética. Ele defendeu a interação com o arquiteto para discussão sobre os tipos de vidro e de sombreamento, com o uso preferencial de brises externos, e a vedação adequada das edificações, citando como exemplo a importância do isolamento de áreas como subsolos e estacionamentos, que muitas vezes são negligenciadas, mas podem trazer umidade e contaminantes para o interior dos hospitais.
A palestra de Raymond Khoe trouxe uma visão abrangente e multidisciplinar sobre como soluções de eficiência energética podem ser aplicadas na climatização de hospitais e clínicas. Ao integrar projeto com novas tecnologias e automação e promover interações com arquiteto e usuários do hospital, é possível não apenas reduzir custos, mas também garantir a segurança e o conforto dos pacientes e profissionais da área médica. “A busca pela eficiência energética não é apenas uma tendência, mas uma necessidade para a sustentabilidade dos sistemas hospitalares”, concluiu.