Por Léa Lobo
Conversamos com Alessandra Ribeiro, responsável por Facilities & Real Estate Latam na AkzoNobel, para entender como sua vasta experiência em diversas áreas contribuiu para seu novo papel com FM em uma das maiores empresas multinacionais do setor de tintas e revestimentos. Alessandra compartilha conosco sua jornada, desafios enfrentados e superados, e suas perspectivas sobre a gestão de Facilities e o empoderamento feminino no setor.
Você poderia nos contar mais sobre a sua experiência antes de chegar a AkzoNobel?
Minha carreira é bem atípica. Trabalhei como advogada na maior empresa de alimentos do mundo e em um pequeno escritório de advocacia. Migrei para a área hoteleira, onde passei por redes nacionais e internacionais em cargos de liderança por 10 anos e há 8 atuo em Facilities, tendo trabalhado em bancos internacionais de investimento e agora novamente na indústria.
Como foi a sua experiência na hotelaria? Quais desafios você enfrentou e superou durante esse período?
Minha primeira experiência em hotel (Sonesta) foi muito interessante. Fiquei responsável pela comunicação e intermediação com os investidores do empreendimento. Mas o lado operacional me fisgou também e fiquei responsável pelo atendimento aos hóspedes VIPs e relacionamento com parceiros, como teatros e redes de televisão.
A última experiência foi no Quality Faria Lima, onde atuava em sinergia com a gerente geral, com mais foco na operação, procedimentos, respostas às avaliações de satisfação e acompanhamento de reforma. A experiência na hotelaria foi muito importante para mim. Aprender a ser resiliente, a entender que muitas vezes as pessoas estão chateadas com outros problemas e tentam descontar em alguém, bem como a ser mais ágil. O cliente está com o problema ali na sua frente e você precisa dar uma solução rápida e assertiva.
O que te motivou a fazer a transição do direito para a hotelaria, e como essas experiências influenciaram sua abordagem na gestão de FM?
O Direito me encanta, porém a morosidade do Judiciário e a prolixidade me espantaram. Como tive experiência também com contratos, hoje tenho mais facilidade para analisar, adicionar previsões e responsabilidades. A formalização do que é conversado e pensar nos diversos cenários também são importantes em Facilities.
Você mencionou que a hotelaria é uma área muito dinâmica e exigente. Como você conseguiu equilibrar sua vida pessoal, especialmente sendo mãe, com as demandas intensas do trabalho?
Confesso que não foi fácil. A hotelaria é apaixonante porém demanda muita dedicação. Tenho a grande sorte de ter um marido extremamente participativo e um filho muito compreensivo, o que viabilizou a experiência. Mas vi que a balança estava muito desiquilibrada.
Como está sendo sua jornada na AkzoNobel e quais foram os principais aprendizados da carreira que você utiliza como gestora das áreas de Facilities & Real Estate Latam?
Me identifico muito com empresas grandes e a área da indústria, então esses primeiros 6 meses foram muito bons na gestão de projetos, relacionamento com diversos stakeholders e alinhamento de expectativas, dado que vários países e culturas estão envolvidos.
Na sua opinião, quais são as principais semelhanças e diferenças entre trabalhar em hotelaria e em FM?
Sempre achei que Facilities Management é uma hotelaria corporativa, você tem clientes, deve agir de forma rápida e estar calma para enfrentar imprevistos. A diferença é que no hotel, o hóspede fica alguns dias, enquanto no FM o cliente interno está no espaço diariamente, ou seja, o desafio acaba sendo maior.
Como você vê a participação e o empoderamento das mulheres na área de Facilities Management, e o que pode ser feito para aumentar ainda mais essa participação?
A construção de uma carreira para a mulher em inúmeros segmentos é algo desafiador, mesmo nos dias de hoje. Exige dedicação, tempo e pode afetar o mínimo de equilíbrio da sua vida se ela não contar com uma rede de apoio, principalmente quando se é mãe. As empresas podem ajudar muito nesse sentido. A AkzoNobel, por exemplo, tem um comitê que discute assuntos nessa temática, incentivando o debate não são entre as mulheres, mas também trazendo os homens e executivos à essa discussão. Esse é um processo gradual e a curto prazo as mulheres ainda precisarão tomar a frente dessa luta.
Você mencionou seu envolvimento com projetos, poderia nos contar mais sobre eles e os desafios que encontrou ao lidar com múltiplos países e culturas diferentes nesta nova fase da carreira?
É desafiador, pois são realidades diferentes e expectativas diferentes. A comunicação e o relacionamento são fundamentais. As leis e realidades laborais são diferentes e explicar as complexidades do Brasil é um desafio à parte. Tive a sorte de estudar em uma escola alemã e ter trabalhado por algumas vezes com chefes estrangeiros, então a objetividade deles não me assusta, pelo contrário, me agrada por trazer mais clareza aos assuntos.
Conte-nos um pouco sobre seus hobbies e o que faz para manter o equilíbrio e uma vida saudável?
Ações voltadas ao autoconhecimento, como prática espiritual, meditação, terapia, leituras e filmes inspiradores. Além disso, gosto muito de ficar com minha família, brincar com meus cachorros e ler livros. Quanto à prática esportiva, gosto muito de pilates, que respeita a individualidade do aluno, quanto à velocidade e evolução.
Qual sua mensagem para colegas de FM?
Conheça-se, saiba seus pontos fortes e valorize-se por eles. Respeite seu perfil e sua essência, respeite os outros e exija ser respeitado. Trabalhe com organização, paciência, resiliência e propósito. Confie na sua equipe e saiba delegar para não se afundar em demandas. O rico em Facilities é ter profissionais oriundos de diversas formações. É impossível ser especialista em todas as áreas, mas seja curiosa e queira aprender o máximo possível.
Nesta entrevista, Alessandra Ribeiro exemplifica como a diversidade de experiências pode enriquecer a gestão de FM em uma empresa multinacional. Sua trajetória desde o Direito até a Hotelaria, culminando na gestão de FM & RE na AkzoNobel, demonstra resiliência, adaptabilidade e um profundo compromisso com a excelência. Suas reflexões sobre a importância do equilíbrio, a necessidade de empoderamento feminino e a valorização da diversidade de formação são inspirações valiosas para profissionais do setor.