Por Alexandre Abdo Agamme
Paciente desde a infância, quando o Hospital Edmundo Vasconcelos (HEV) ainda era conhecido como Hospital Gastroclínica, as minhas lembranças afetivas desse local surgiram durante toda a minha vida. Hoje, acredito que o fato da área externa do Hospital sempre ter sido repleta de jardins permitiu a elaboração de uma imagem mais leve do ambiente hospitalar.
Curiosamente, anos depois de entrar no Hospital como paciente, entrei como funcionário. Após atuar no segmento de grandes obras do Banco Bradesco, fui convidado a trabalhar na Fundação Bradesco. Em 1998, quando ainda não era uma tendência no mercado, iniciei minha carreira no Hospital no gerenciamento de Facilities, que buscava uma prática de gestão mais inteligente e mais efetiva. Á época, não dispúnhamos de ferramentas tecnológicas que permitissem o planejamento e a execução dos processos operacionais de forma eficiente e nem mesmo os setores estavam integrados.
Meu primeiro grande desafio no Hospital foi instalar aparelhos de TV com serviços de canais de transmissão por assinatura, em todos os leitos da UTI adulto, para que os pacientes internados assistissem aos jogos da Copa de 98. O trabalho foi realizado com sucesso e, apesar do ato de ligar a TV ser corriqueiro, arrancou elogios daqueles clientes, pois teriam um momento de distração e acolhimento. Desde então, compreendi não só o impacto direto no cotidiano dos envolvidos, mas entendi que o trabalho de gerenciamento de facilidades de uma organização demandava planejamento, rapidez e efetividade na execução e cuidado redobrado com o bem-estar dos pacientes. Comecei a gerenciar os espaços críticos, com o objetivo de melhorar as entregas dos serviços de manutenção com planejamento, eficiência operacional e estratégica.
De fato, a gestão dos serviços terceirizados é desafiadora para qualquer gestor de Facilities, afinal, depende de um trabalho diligente para assegurar a qualidade da execução e dos processos. Podemos adicionar à complexidade da gestão da prestação de serviços operacionais terceirizados a orientação para que esses profissionais externos atuem em consonância com a visão, missão e valores do Hospital.
Sou Engenheiro Elétrico e como amo a profissão que escolhi, também desde muito jovem, procuro sempre acompanhar os acontecimentos da área e aperfeiçoar meus conhecimentos. Em 2014, tive a oportunidade de cursar o MBA da Escola Politécnica da USP de Gerenciamento de Facilidades e, além de conhecer professores e colegas altamente qualificados, pude compreender a importância do Facilities Management (FM), nas grandes organizações como forma de melhorar a atuação do setor de manutenção e gerar valor para os clientes internos e externos.
Há quase 26 anos atuo no HEV, atualmente como gerente de Infraestrutura das áreas de Manutenção Predial, ESG, Projetos/Obras, Engenharia Clínica e assuntos regulatórios e normativos, sendo responsável pelas questões operacionais e resultados estratégicos. É neste contexto que reconheço que, nestes últimos anos, a FM tem se tornado cada vez mais importante para o sucesso das operações em grandes instituições com as equipes multidisciplinares. No ambiente hospitalar, a gestão de Facilities ganha amplitude redobrada ao tratar da prestação serviços de alta complexidade destinada ao suporte técnico especializado para o apoio aos profissionais da saúde.
Um exemplo prático da aplicação da FM no Hospital foi manejar as crises hídricas e de crises de energias elétrica na cidade de São Paulo. Foi necessária a conscientização de todos os colaboradores sobre a importância do uso racional da água, a correção de eventuais desperdícios e o estabelecimento de metas a serem atingidas nas medições diária dos volumes disponíveis e distribuição de sistemas de geração seguros e eficientes, com o objetivo de manter o funcionamento ininterrupto de todos os departamentos do Hospital. É importante ressaltar que, como profissionais da área de FM, atuamos nos bastidores para que as operações e as condições de segurança das instalações, dos processos e o uso correto dos recursos materiais operem da forma mais eficiente possível e de acordo com a regulamentação obrigatória.
O Hospital Edmundo Vasconcelos passou por grandes avanços tecnológicos, sempre investindo em equipamentos médicos e modernas instalações. Em abril de 2024, o sistema de cirurgias robóticas Da Vinci XI, adquirido pelo Hospital, completou 100 cirurgias realizadas. O equipamento para a realização das cirurgias robóticas colocou o HEV entre os 40 hospitais brasileiros com a mais moderna estrutura para esses procedimentos. A atuação da área de FM foi essencial para a adequação da infraestrutura necessária para a instalação do equipamento, a qual demandou especificações elétricas, civil, novas tecnologias de monitoramento e climatização e ambientais, dimensões físicas e configurações dentro do centro cirúrgico, dimensões da embalagem e movimentação e conexões de áudio e vídeo, conforme as orientações internacionais do fabricante de um equipamento estratégico para nossa instituição. Todos esses foram fatores muito relevantes para o FM desempenhar a gestão de um sistema inovador e com grandes tendências presentes e para o futuro.
Sou muito grato ao hospital pelo grande aprendizado, pois em 26 anos de profissão no setor de Facilities, pude acompanhar a evolução de minha carreira profissional e pessoal, além, é claro, de conhecer a revista Infra FM, uma publicação tão respeitada e que sempre valorizou o Facility Manager, no primeiro congresso de Facilities hospitalar realizado em 2008. Outra conquista importante foi o fato de, finalmente o cargo de Gerente de Facility Management ser reconhecido na CBO (Conselho Brasileiro de Ocupação) no ano passado, e de haver a criação de importante associações como a ABRAFAC (Associação Brasileira de Facility Management, Property & Workplace).