Após dois anos de pandemia e um longo período de isolamento social, o modelo de trabalho híbrido já deixou de ser uma novidade. Mais do que isso, promete se tornar uma tendência entre as empresas. No segmento de logística, o cenário não é diferente. No entanto, ao mesmo tempo em que os CEOs buscam se adaptar à essa nova realidade, tentam se equilibrar diante de um mercado com funções que não podem ser feitas à distância, e outras cujas atividades podem ser encaixadas dentro ou fora de casa.
O resultado é uma nova fase de transformações, na qual a segurança psicológica dos colaboradores, a formação de habilidades necessárias para o futuro e a capacidade de se atualizar por meio dos novos direcionamentos são consideradas peças-chave. Aos poucos, as companhias começam a entender que o engajamento das pessoas depende também da qualidade de vida e, desse modo, contribui para o compromisso da empresa com a Responsabilidade Social.
As palavras tecnologia, inovação e conectividade continuam sendo os alicerces do planejamento estratégico, cujo objetivo é atender às novas demandas do mercado. No entanto, deixaram de ser os únicos critérios adotados para garantir crescimento. "Os principais desafios das empresas são entender o momento de transformação gerado pelo pós-pandemia, adotar a digitalização e a inovação como drivers de gestão e olhar o tempo inteiro para frente", destacou Luis Rasquilha, especialista no mapeamento de tendências e macrotendências para embasar o planejamento estratégico dos negócios.
Ele reitera que esse momento está diretamente ligado ao atual modelo híbrido de trabalho, já implantado na maioria das organizações. "Andamos no modelo taylorista por 120 anos. Agora, novos modelos se apresentam e mostram outras possibilidades que vão complementar o anterior universalmente aceito", afirmou Rasquilha, que está à frente da Inova Consulting e da Inova Business School.
Iniciativas
No centro do furacão, diretamente impactados pelas sucessivas alterações na conjuntura econômica e social do País, os Operadores Logísticos, empresas que fornecem serviços de transporte, armazenagem e gestão de estoque a clientes diversos (da indústria de base e agronegócio ao e-commerce), caminham em busca de soluções para garantir agilidade e manter a eficiência das operações. Dentro de "casa", treinamentos e programas de aprimoramento foram intensificados. Os processos digitais também foram aperfeiçoados, tornando-os recorrentes, seguros e naturais.
"O nosso recente estudo, 'Perfil do Operador Logístico - 2022', revela algo que já sabíamos: a resiliência inerente do setor em meio aos obstáculos e contextos adversos e de crise. As transformações trazidas pela pandemia têm mostrado, no entanto, que além de resiliência, é importante que os empregadores também compreendam e se adequem ao novo comportamento dos profissionais, em particular daqueles que preferem e irão priorizar vagas em que o trabalho híbrido ou remoto é uma opção. Estamos diante de um novo modelo de gestão e é fundamental entendermos as tendências já postas para o pós-pandemia", apontou a diretora-Presidente da ABOL, Marcella Cunha.
Em contato frequente com os CEOs das associadas à entidade, a executiva observa um comportamento ainda dividido entre as empresas quando se trata do home office. "Fica claro que há um receio, apesar do entendimento sobre os benefícios. Um dos caminhos que enxergo é a implementação de um modelo de trabalho híbrido para áreas dentro de empresas de logística em que isso é possível, tendo os líderes como peça central, sempre incentivando a produtividade, o engajamento e a colaboração entre funcionários e equipes nos dois ambientes. O primeiro passo é mudar a cultura da empresa", mencionou Marcella.
Ela reitera que o trabalho híbrido é uma realidade e as pessoas hoje o encaram como benéfico, pois a maioria depois da pandemia moldou a sua vida nesse modelo, sobretudo aquelas com uma estrutura familiar.
A diretora da ABOL chegou a conversar com gerentes de RH de empresas do setor e percebeu que a quebra disso ao voltar para um presencial full traz uma série de problemas, cabendo à empresa criar motivos e entender o que pode ser feito para que os locais de trabalho sejam atrativos para essa volta.
Não adianta pedir que as pessoas voltem aos escritórios para fazerem reuniões online, cada uma em sua mesa e com o seu fone de ouvido, conforme exemplificou Rasquilha.
Do lado organizacional, as áreas de Recursos Humanos entendem a dificuldade em manter existindo a cultura, produtividade, interação humana e sinergia, pois há diferentes tipos de colaboradores. Além disso, é importante lembrar que na logística há uma operação full e talvez por isso o incômodo do 100% remoto ou do híbrido, pela existência de uma base operacional totalmente presencial e estruturas de apoio que precisam funcionar.
"Quando falamos de remoto, nem todo mundo tem a mesma produtividade. É aí que vai entrar o papel da liderança. Quando a gente tem um remoto full ou híbrido tem que haver atuação da liderança próxima do colaborador para também levar a cultura organizacional", completou Marcella, que tem percebido entre as multinacionais uma maior facilidade em lidar com o novo modelo. "São empresas que pelo seu tamanho e dispersão pelo mundo, já estão acostumadas em não ter o controle de todos os passos dos funcionários".
Tecnologia e inovação como aliadas
De um modo geral, quando se fala em reestruturação interna, os Operadores Logísticos ainda estão se adaptando ao formato híbrido. As empresas entendem que se for bem trabalhado, esse modelo traz qualidade de vida às pessoas, que têm mais segurança e menos impacto ambiental por evitarem trânsito, estarem mais próximas às suas famílias e conseguirem ter mais foco. Consequentemente, os resultados melhoram em vários aspectos, já que o engajamento dos colaboradores depende também da qualidade de vida.
Por outro lado, o formato híbrido se torna um pouco mais complexo em um setor no qual muitas empresas operam 7 dias por semana, 24 horas por dia, em turnos variados, afinal são os OLs que respondem pelo abastecimento de cadeias de suprimentos diversas e atendem aos consumidores em todas as pontas do processo. Isso sem contar a transformação dos escritórios em ambientes insólitos. Ou seja, são muitos aspectos a serem analisados, aliando expectativa e realidade.
Para que exista um equilíbrio, muitas organizações já entenderam a necessidade de alguns diferenciais, como comunicação direta por parte das lideranças para estabelecer e ajustar as rotinas. Também é preciso o aprimoramento dos processos digitais, tornando-os cada vez mais recorrentes, seguros e naturais. "A empatia é igualmente importante até para entender o quanto pode ser diferente a percepção de relevância do trabalho híbrido para pessoas que têm necessidades distintas - o que é bom para um não é necessariamente bom para o outro", afirmou o diretor de Gestão de Pessoas da Tegma, Tarcísio Felisardo.
Aliado a essa nova fase, a tecnologia e a inovação se mantêm imprescindíveis para a evolução e a mudança das organizações. A cada instante há uma novidade em termos de tecnologia e inovação é um tema presente no dia a dia dos Operadores Logísticos, que procuram estimular o pensamento das pessoas neste sentido. Diante disso, eles têm buscado uma harmonia para manter os investimentos voltados ao atendimento de novas demandas geradas, por exemplo, pelo e-commerce, enquanto compreendem que colaboradores bem-preparados refletem diretamente na atuação da empresa no mercado.
"E esse dinamismo seguirá, com investimentos estratégicos e direcionados às novas frentes de atuação como o omnichannel, o transporte de cargas na modalidade green - com veículos ecologicamente corretos e, principalmente, estando atenta às inovações esperadas, sempre um passo à frente para atender com total expertise todo tipo de demanda. O conceito de ecossistema na FM Logistic está estruturado em integrar as atividades em um universo que envolva cuidar das pessoas e do meio ambiente", ressaltou o presidente da FM Logistic, Ronaldo Fernandes
As medidas adotadas pelos Operadores Logísticos vão, exatamente, ao encontro do modelo de transformação de gestão mencionada por Luis Rasquilha durante o VI Congresso da ABOL, realizado em agosto, ou seja, mesclar o modelo clássico (hierarquia, processo, cadeia de valor e produto) e futuro (propósito, inovação, agilidade, digitalização e cliente). O CEO da Luft, Gustavo Saraiva, corrobora com o especialista.
"Modificar a forma de operar e interagir com os clientes exige não apenas tecnologia, mas também engajamento. Nunca é fácil convencer um grupo de pessoas de que o jeito de trabalhar que funcionou um dia tem de ser abandonado. É um processo amplo que parte da adaptação dos gestores, colaboradores e dos próprios clientes que, em conjunto, conduzem os processos de mudança. A lógica é a do mundo digital, de respostas rápidas e flexibilidade. Tecnologia, inovação, velocidade e ousadia são essenciais, mas isoladas não bastam".
A ID Logistics Brasil segue o mesmo caminho, olhando diretamente para o pilar estratégico de pessoas. "Programas de desenvolvimento, diversidade, saúde, segurança e engajamento são elementos importantes para uma cultura de inovação e alto desempenho, contribuindo diretamente em nossos compromissos de Responsabilidade Social e Excelência", disse o diretor de Recursos Humanos, Cleiton Jesus.
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