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Expansão de data centers no Brasil expõe dilema entre oportunidade global e stress test do FM

Com matriz renovável competitiva e ambiente regulatório favorável, o Brasil atrai investimentos em data centers. Mas custos de energia e riscos climáticos colocam o Facilities Management no centro do desafio

Por Redação

Brasil, energia e data centers: oportunidade global ou stress test para o FM?

Foto: Canva.com/baranozdemir


A recente declaração de André Clark, vice-presidente da Siemens Energy, de que o Brasil reúne condições para se tornar um protagonista global no mercado de data centers, sintetiza um movimento que vem ganhando força. O país conta com uma matriz elétrica que impressiona. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), 85% da geração nacional vem de fontes renováveis, enquanto a média global é de apenas 29%.

Esse diferencial não é apenas reputacional. Ele reduz a dependência de combustíveis fósseis voláteis e posiciona o Brasil como polo estratégico para empresas que buscam diminuir suas emissões. Além disso, o Sistema Interligado Nacional (SIN) é um dos maiores e mais complexos do mundo, com capacidade de transferir energia entre diferentes regiões de forma integrada. A parceria anunciada entre a Eletrobras e a C3.ai, que aplica inteligência artificial no monitoramento da rede, reforça a confiabilidade do sistema, algo essencial para setores críticos como data centers, que exigem disponibilidade contínua.


Contradições do modelo energético

Se a matriz renovável é um ativo de peso, o custo final da energia no Brasil revela uma contradição importante. Embora o país consiga gerar eólica e solar a preços mais competitivos que a média mundial — US$ 0,03/kWh na eólica onshore contra US$ 0,034/kWh global, e US$ 0,036/kWh na solar fotovoltaica contra US$ 0,049/kWh mundial, segundo a IRENA — a tarifa paga por indústrias e consumidores finais está entre as mais altas do planeta.

Outro ponto crítico é a dependência das hidrelétricas. Em períodos de estiagem, como o de 2021, os reservatórios chegaram a níveis alarmantes. Isso exigiu o acionamento de termelétricas caras e poluentes. Para data centers, que precisam operar sem interrupções, esse é um risco estratégico.


Regulação e atração de investimentos

No campo regulatório, os sinais são animadores. Segundo a International Bar Association (IBA), o Brasil trata data centers e serviços de cloud computing como atividades de livre iniciativa, sem a obrigatoriedade de classificação como serviço público. Essa abordagem garante previsibilidade e segurança jurídica, fatores que explicam o apetite crescente de gigantes da tecnologia por instalar operações no país.

No entanto, nem tudo é simples. Questões tributárias e ambientais em âmbito local ainda criam barreiras para a expansão de novos empreendimentos, gerando prazos incertos e custos adicionais. Em um setor em que escala e velocidade são determinantes, esses entraves podem comprometer a competitividade.


Facilities Management no centro da equação

Se a infraestrutura energética e a regulação estabelecem o pano de fundo, é na operação diária que os riscos se tornam reais. O gestor de Facilities Management assume papel crítico na continuidade dos ambientes digitais. Cabe a ele garantir eficiência no controle de temperatura e umidade, operar sistemas de cooling de alta performance, assegurar redundância elétrica com no-breaks e geradores, integrar segurança física e cibernética e aplicar rotinas de manutenção preditiva para antecipar falhas.

A chegada de mais data centers ao Brasil, portanto, não deve ser vista apenas como expansão de infraestrutura. Ela representa o maior teste de resiliência já enfrentado pelo FM. O setor terá de equilibrar custos elevados de energia, metas de sustentabilidade cada vez mais exigentes e padrões globais de confiabilidade.


Eficiência como diferencial competitivo

A questão central não é apenas se o Brasil tem energia para atrair data centers. O verdadeiro desafio será entregar eficiência, estabilidade e competitividade em longo prazo. Nesse contexto, o Facilities Management deixa de ser coadjuvante e se consolida como protagonista da economia digital.

O futuro dos data centers no Brasil dependerá menos da disponibilidade de megawatts e mais da capacidade de gestores de transformar essa energia em operações seguras, resilientes e sustentáveis. A gestão predial e operacional estará diretamente conectada à estratégia das grandes corporações digitais, definindo se o país será de fato protagonista global ou apenas um campo de prova de alto risco.


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