Por Marcos Cardone*
À medida que o paradigma muda constantemente, hospitais e clínicas acompanham os crescentes ciclos de mudança exigindo projetos mais flexíveis e espaços adaptáveis, estimulando a discussão sobre os modelos e matrizes utilizados para projetar edifícios de saúde.
Embora muitas discussões atuais sobre tendências de saúde estão focadas na redução de custos, bem-estar, saúde da população e tecnologia, as projeções do US Census de 2014, indicam que a proporção da população com mais de 65 anos dobrará os níveis atuais até 2050. Diante disso, a saúde comportamental, o autismo e a demência são tendências que acompanharão o crescimento do envelhecimento da população.
Essa tendência terá impacto em muitos tipos de setores e práticas especializadas. Aproximar-se das necessidades dessa população, com compreensão funcional e empatia, abre uma oportunidade expansiva para a criação de projetos responsivos, integrais e intuitivos. O objetivo disso é oferecer suporte às vulnerabilidades e necessidades físicas, cognitivas, sensoriais e emocionais dessa população.
Entre outras, as considerações geriátricas no ambiente de cuidados, incluem desorientação, problemas de mobilidade e equilíbrio, complexidades de medicação e presença de comorbidades que criam necessidades complexas de cuidado.
Novos conceitos prometem tornar tudo mais simplificado e eficiente. Transformar instalações estéreis em lugares mais familiares e acolhedores para pacientes, colaboradores e demais usuários, modificando os espaços para uma ambiência menos institucionalizada. Afinal, é sobre as pessoas que vivenciam seu dia a dia que a arquitetura produz seus efeitos diretos.
A arquitetura deve contribuir na revisão de processos e na modernização de instalações existentes, convertendo velhos espaços em ambientes de serviços integrados. Tudo isso visa a eliminação de desperdícios, economia de recursos, segurança e conforto dos ambientes. Projetar ambientes de saúde que abordem o bem-estar dos usuários e ao mesmo tempo promova a melhora na eficiência dos cuidados é o objetivo de um bom projeto guiado por esses conceitos. Para ser bem-sucedidos, novos projetos dependem de uma compreensão profunda de como as pessoas vivenciam os espaços.
Em vez de confiar exclusivamente em dados rastreáveis, o conceito de “design empático” está ganhando proeminência como um método para projetistas experimentarem o ambiente de assistência exatamente como os pacientes e demais usuários os vivenciam. Na verdade, “design empático” não é um conceito novo, mas sim um conceito evolucionário, à medida que os planejadores da área de saúde criam tendências e implementam, continuamente, diferentes estratégias para melhorar a empatia com o paciente. O que é novo, de fato, é que a tecnologia digital e a realidade virtual possibilitam um mergulho imersivo na experiência do paciente, orientando as melhores práticas.
Ferramentas digitais em evolução, atualmente permitem a construção de uma empatia mais profunda em projetos. Usando software, óculos de projeção e controles manuais, criando uma visão experimental dos layouts e funções espaciais, a Realidade Virtual (RV) permite que designers, clientes e usuários, experimentem virtualmente o funcionamento de um espaço. A inovação trazida ao projeto pela RV, também fornece um feedback imediato do ponto de vista do usuário e pode contribuir para melhorar o efeito dos ambientes de saúde sobre as pessoas, permitindo que os projetistas vivenciem os espaços como usuários.
Uma série de filtros digitais, por exemplo, permite que os projetistas vivenciem fisicamente o processo de envelhecimento, simulando o comprometimento da visão e outras condições relacionadas à idade. Simuladores de realidade virtual podem ser especialmente úteis ao planejar espaços para idosos ou pessoas debilitadas e com limitações físicas, simulando condições semelhantes, que limitam ou impedem movimentos de braços e pernas, por exemplo.
Tudo isso nos parecerá menos estranho quando olharmos para outros exemplos, onde os simuladores são empregados para o treinamento de pilotos, esportistas, profissionais de combate e médicos cirurgiões.
Essas ferramentas estão trazendo uma nova dimensão para o processo de planejamento e projeto empático. Elas estão permitindo que planejadores e projetistas de ambientes de cuidados de saúde obtenham maior percepção de como as pessoas de fato vivenciam os espaços. Serão usadas para demonstrar novas abordagens e descobertas, avaliando suas aplicações e impactos por meio de Avaliação Pós-ocupação (APO). APO em edifícios de saúde certamente será a ferramenta de avaliação que melhor fornecerá respostas sobre a real eficácia de projetos assistidos pelas tecnologias atreladas ao “design empático”.
*Marcos Cardone é arquiteto especialista em urbanismo moderno e contemporâneo com ênfase em “O hospital como componente urbano”, Superintendente da CABE Arquitetos – Arquitetura para o setor de saúde, Fundador do Núcleo de Pesquisas e Estudos Hospital Arquitetura (Nupeha) e Ex-diretor do Departamento de Arquitetura do Instituto de Engenharia.