Por Léa Lobo
Sabemos que a qualidade do ensino está lastreada por valores pedagógicos, dos professores e de alunos. Mas a pergunta que fazemos é: transformar os prédios e espaços comuns de uma unidade educacional em ambientes que melhorem a aprendizagem é também um dos valores que preocupam a governança das instituições de ensino?
Transformar os milhares de metros quadrados, onde há uma circulação diária de centenas de alunos, às vezes em três períodos do dia, necessita de uma gestão especializada em Facilities Management, que passa por vários setores da infraestrutura: da lucrativa disponibilidade de assentos na sala de aula, mas também pela manutenção do mobiliário, manutenção predial, limpeza e lixo, a loja de uniformes, a gráfica e a frota de ônibus rastreados por satélite, ar-condicionado, alimentação, laboratórios, bibliotecas, quadras esportivas, piscinas, espaços para reuniões e encontros de confraternização, entre muitos outros espaços, onde acontecem atividades que permitem empoderar ainda mais o dinamismo entre alunos, professores, funcionários, fornecedores e visitantes.
O desafio principal para manter o negócio do ensino particular é aumentar a capacidade das salas de aula. Para tanto, são necessários também um amplo conjunto de utilidades, que podem incluir de um poço artesiano, geradores de energia para contingências, climatização de conforto, redução do consumo de água com equipamentos economizadores de água, e todos os atributos que podem tornar o equipamento de ensino sustentável. Ao mesmo tempo, a transformação digital está mudando a forma de ensinar e as estruturas que sustentam o ensino.
Segundo Tyler Tingley, um dos mais conceituados educadores americanos hoje e parte da equipe da Avenues – The World School, em Nova York, o currículo das escolas tradicionais foi elaborado em uma época que não havia internet nem os avanços científicos e tecnológicos que conhecemos hoje. Alunos eram preparados para empregos em fábricas e escritórios e para viver em um mundo muito diferente do atual. Para assegurar que estudantes estão sendo preparados para uma realidade muito mais complexa, onde tudo se interconecta, onde as questões a serem enfrentadas envolvem um número muito maior de elementos que se interconectam, é necessário que a escola tenha um currículo inovador.
Pensando nisso, dentro do contexto editorial da Revista INFRA, essa matéria traz dois cases e entrevistas com os gestores da Avenues São Paulo e do Instituto Mauá, dois estudos de pesquisadores europeus, que foram apresentadas na European Facility Management Conference 2018 (EFMC2018) e ainda um pensar diferente sobre a arquitetura de espaços e como o tema da limpeza e conservação tem um contexto diferenciado de valor. Acompanhe tudo neste caderno especial sobre Facility Management Educacional.
AVENUES SÃO PAULO: UMA WORLD SCHOOL INAUGURA SEU CAMPUS NA CAPITAL PAULISTA
A Avenues inaugurou seu primeiro campus em Nova York, em 2012, como parte de um projeto global de uma rede de escolas que recebe alunos da Educação Infantil ao Ensino Médio em diversos países do mundo – todas conectadas por uma missão em comum. Em agosto, a Avenues abrirá seu campus em São Paulo, com área de aproximadamente 30 mil m2.
A Avenues assinou um contrato de locação de longo prazo com a São Carlos, uma das principais empresas de investimento e gestão imobiliária do Brasil, para ocupar o antigo prédio da SulAmerica, localizado no agradável bairro da Cidade Jardim, em São Paulo. Como parte do investimento de 50 milhões de dólares o prédio será completamente renovado e otimizado para se tornar uma instalação escolar com o mais elevado padrão mundial.
O campus planejado da Avenues São Paulo, aos poucos ganha vida, em uma área de 40 mil metros quadrados, com recursos educacionais do mais alto nível. Assinam esse projeto, os premiados escritórios de arquitetura e design de interiores aflalo/gasperini arquitetos e DM/AM Arquitetura – Dante Della Manna Antonio Mantovani, que juntamente com os designers da Avenues: The World School desenvolveram um conceito alinhado aos princípios fundamentais da escola, a saber, a inovação, a sustentabilidade e uma pedagogia centrada no aprendiz. Em sua plena capacidade, o campus terá condições de receber 2.100 alunos e uma equipe de 300 colaboradores, entre gestores, professores e funcionários. O projeto de paisagismo ficou por conta do premiado escritório de Evani Kuperman Franco (EKF). “A visão da Avenues sempre foi a de ser uma única escola com diversos campus, localizados nas principais metrópoles do mundo”, afirma Jeff Clark, Presidente e COO. “Estamos dando um grande passo em direção a essa visão, ao anunciar o nosso campus em São Paulo, o centro cultural e financeiro do Brasil e a maior cidade da América do Sul”.
A unidade de São Paulo, com inauguração prevista para agosto de 2018, é a segunda no mundo e será composta de ambientes sustentáveis, agradáveis e que incentivem a criatividade dos alunos. O desafio do projeto foi transformar uma estrutura existente de um edifício de escritórios em uma escola com programa diversificado, dinâmico e interligado. A solução do escritório foi o retrofit do prédio com a distribuição das diferentes séries do Ensino Fundamental e Médio nos andares, criando espaços internos que permitem a visualização e circulação entre os pavimentos, para incentivar a comunicação e troca de experiências entre os alunos de diferentes idades.
Para áreas de atividades extracurriculares foi acrescentado um novo edifício adjacente com espaços para teatro, ginásio, pátio coberto, quadras e praças descobertas. O diálogo do novo com o existente possibilitou uma maior proximidade e integração entre os andares das salas de aulas e os espaços de uso comum. A sequência de volumes em diferentes alturas cria um acesso direto a áreas externas em diferentes níveis do edifício, enaltecendo a relação interior e exterior na escola. As coberturas do edifício – ocupadas com quadras e terraços – possuem vista magnífica do skyline de São Paulo. “A intenção dos espaços de lazer nas coberturas foi criar uma conexão da criança com a cidade, para que o contato com o ambiente externo seja também usado como espaço lúdico de aprendizado”, explica José Luiz Lemos, Sócio-diretor da aflalo/gasperini.
Nos espaços internos foram feitos locais dinâmicos e qualitativos, com um jardim interno, pés-direitos duplos, cores e interação lúdica com a arquitetura para oferecer uma dinâmica diferenciada ao projeto. Nos refeitórios é possível ver as estruturas do local, pensados de modo a instigar e incentivar a curiosidade das crianças, assim como cada detalhe da escola, que tem sua decoração interna assinada pelo Arquiteto Dante Della Manna. “Os trabalhos paisagísticos, arquitetônicos e de interiores formam um tripé essencial para a escola. Eles se complementam e emolduram um ao outro ao trazer qualidade para os espaços”, complementa Lemos.
A fachada realça o contraste da construção existente com a nova. Nas salas de aula, brises horizontais protegem o edifício de iluminação direta e bandejas de luz internas potencializam a iluminação natural. Nas áreas comuns, chapas de tela metálica perfurada garantem proteção solar e ventilação natural necessária, além de uniformizar a volumetria e conferir um caráter contemporâneo à arquitetura.
Veja no infográfico da página 10 as áreas que integram a infraestrutura deste novo espaço educacional da Avenues.
Na sequência, você acompanha uma entrevista com Luciana D’Angelo, que será responsável pela administração e operações. A Executiva, que é Chief Administrative & Operations Officer da Avenues São Paulo, possui 30 anos de experiência nas áreas financeira e administrativa, controladoria, compras, jurídico, RH, facilities, TI, vendas e administração geral, desenvolvida em diversas empresas de diferentes portes e segmentos de negócios. É Administradora pelo Centro Universitário FEI, com pós-graduação em Controladoria pela mesma instituição e com MBA em Negócios pela Business School São Paulo.
Fale um pouco da sua experiência profissional e educacional.
Comecei minha carreira há mais de 30 anos na área de impostos e continuei aprendendo e me especializando nas áreas financeira, administrativa, RH e de operações. Tenho formação em Contabilidade e Administração, fiz pós-graduação em Controladoria e MBA Executivo. À exceção dos dois anos em que atuei como Diretora de Vendas na Pearson – o que também me ajudou a conhecer mais sobre o outro lado do negócio e o valor do relacionamento com o cliente – sempre mantive o foco nas áreas administrativas.
Como foi chegar a sua atual posição de Diretora de Operações e Administração na Avenues?
Há dois anos, eu fui contratada para todo o processo de startup financeiro, administrativo e de RH, já prestes a começar uma obra imensa, cuidadosamente planejada. Depois de mais de 30 anos de carreira, eu buscava uma missão de verdade, não somente um desafio, e encontrei isso na Avenues.
Na atual posição, quais são suas principais responsabilidades?
Garantir que tudo funcione com perfeição. Ter a segurança como prioridade, excelência na alimentação, visar toda a operação da escola para que nossos professores possam fazer seu trabalho sem qualquer preocupação com a operação. Além disso, manter nossos controles financeiros e legais.
Na sua visão, qual é a importância de você ter estado presente desde o início da construção da escola?
É uma experiência única, que não se pode explicar em detalhes para quem não estava presente... Simplesmente você faz parte da história. Cada decisão, cada contratação, cada tijolinho desse projeto tem uma história única. Por mais que se tenha documentos e processos, estar presente desde o início traz um conhecimento genuíno e gratificante.
A partir de agosto, com obra inaugurada, como será estruturada a área de Facilities Management dentro da Avenues? A gestão das instalações, workplace, serviços (estacionamento, alimentação, limpeza, manutenção, etc.) serão terceirizados ou não? Quais são as particularidades de cada serviço para atender à demanda da Avenues?
Boa parte da operação de facilities é terceirizada, mas com gestores internos: gerentes e diretores experientes para administrar cada área. A parceria com os terceirizados é grande, somos todos Avenues!
A principal particularidade de cada serviço é sempre baseada na escola, toda a estratégia de operações é desenhada tendo como fundamento o bem-estar e segurança do aluno, horários, produtos, pessoas etc.
Na sua opinião, quais serão os principais desafios para se ter um alto nível do serviço em facilities management, de modo a atender todos os stakeholders?
Posso resumir isso a partir de nossos valores: Welcome, Safety and Respect. Tendo essa base para desenvolver nosso trabalho, mas também ouvindo nossos stakeholders, trabalhando sempre para melhorar, manteremos o alto nível de nosso serviço. O planejamento dos processos, o desenvolvimento dos planos de ação para as áreas de operações, teve contribuição dos nossos líderes com a experiência que acumulam em escolas de alto nível. Ouvir e aprender, ajuda em muito todo e qualquer processo independente do negócio ou desafio.
Poderia pontuar quais são os projetos de maior relevância dentro da nova escola, considerando questões de tecnologia, automação e sustentabilidade?
Dentro de operações, temos a segurança, em que utilizamos tecnologia como apoio para a equipe, tanto para entrada de veículos ou pessoas quanto para organizar com segurança a saída de alunos ao final do dia, seja “entregando” o aluno ao responsável ou administrando a utilização do ônibus escolar, por exemplo. A comunicação entre a equipe e terceiros em caso de emergência também ocorre via tecnologia.
Com relação à alimentação, mudamos todo o projeto de nossa cozinha para termos economia de água, óleo, energia e ainda manter altos padrões nutritivos, sabor e qualidade. Nosso projeto conta com uma composteira que nos ajudará a transformar parte do orgânico descartado em adubo bruto. Não utilizamos descartáveis e teremos um programa de redução de desperdício de comida. Ainda assim, temos projetos de sustentabilidade para toda a escola, com separação de lixo, conscientização de nossas equipes, o que potencializará a aprendizagem de nossos alunos.
Na área de manutenção, especificamente, tecnologia e automação são fundamentais para a correta utilização de recursos, administração de projetos, bem como comunicação com fornecedores e controle de qualidade. Essa equipe está também muito envolvida com os projetos de sustentabilidade.
Contribua/complemente as questões com o que desejar.
O mais importante de tudo são as pessoas, novamente Welcome, Safety and Respect. Essa é a base para qualquer processo funcionar, ser bem administrado e aprimorado. Nada fazemos sem pessoas.