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FM, um dínamo de produtividade e estratégia

Consultor Sênior Internacional em Facilities Management e Sustentabilidade do IFMA e prestes a assumir a presidência do Grupas, Ricardo Crepaldi defende que o conhecimento é a chave para que o profissional tenha um futuro mais feliz e próspero nessa área.

Por Érica Marcondes

Ricardo Crepaldi é um profissional polivalente. Apesar da formação em Química, foi na área de FM e Sustentabilidade que ele desenvolveu a maior parte de sua carreira. Com forte vivência internacional e atuante por mais de 23 anos em alta gestão em indústrias multinacionais (Boehringer Ingelheim, Brahma [Ambev] e General Motors) e outros sete anos em consultoria e como Professor em ensino médio e superior, o executivo pesquisador, auditor, consultor sênior internacional do IFMA/EUA e o próximo a assumir a presidência do Grupo de Profissionais de Facilities (Grupas) Gestão 2018 tem muito o que compartilhar quando o assunto envolve: oportunidades de mercado, temas potenciais para quem deseja crescer na área, além de capacitação e desafios.

Para o próximo ano, por exemplo, o IFMA em parceria com a Royal Institution of Chartered Surveyors (RICS), maior organização internacional com foco em todo o ciclo imobiliário, planejam trazer para o Brasil cursos voltados para FM e Real Estate, inclusive incentivando a certificação – um assunto já consolidado no exterior. Já como futuro presidente do Grupas, ele adianta algumas diretrizes que nortearão os trabalhos no ano que vem, além de opinar sobre vários aspectos da carreira. Confira os principais trechos da entrevista:

Você poderia nos atualizar sobre a sua trajetória profissional?

Sou Mestre em Ciência e Tecnologia Ambiental, Especialista em Engenharia Ambiental, Extensão em Controladoria e Gestão de Negócios, Bacharel em Química Tecnológica/Industrial e Licenciatura em Ciências com Habilitação em Química. Sempre estive envolvido em planejamento estratégico e execução em todas as etapas do complexo negócio. Atuante por mais de 23 anos em alta gestão em indústrias multinacionais (Boehringer Ingelheim, Brahma/Ambev e General Motors) e outros sete anos em consultoria e em ensino médio e superior. Sou Presidente da Regional Bauru e Coordenador Geral Estadual de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), Vice-presidente do Grupas e Presidente do Stag/FMCC da IFMA. Conselheiro da Associação Brasileira de Facilities (Abrafac). Conselheiro do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade do Sagrado Coração (USC), entre 2015 e 2017. Membro das Comissões Técnicas de Meio Ambiente e de Ensino Superior do Conselho Regional de Química 4ª Região (CRQ4), do CB 177 e 099 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), do grupo Greentech do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), da Associação Brasileira de Química (ABQ), da American Chemical Society (ACS/EUA) e do Químicos sem Fronteiras (CWB/EUA).

Com esse currículo e vivência internacional nas Américas, Europa, África, Oriente Médio, Índia, Coreia, Austrália e China, você deve ter muito o que compartilhar. Qual é a sua visão sobre o atual momento do FM no Brasil?

Felizmente, diferente de quando comecei, hoje vemos que a área está muito bem definida (antes era bem periférica e chamada de zeladoria) e é cada vez mais imprescindível para que as empresas sejam competitivas. Estratégica mesmo, capaz de contribuir para o negócio principal ao reduzir despesas e conquistar significativas melhorias de desempenho e bem-estar/felicidade das pessoas. Acredito que a evolução se deu muito pelas crises que o País atravessou, e que demandaram custos mais competitivos e melhorias de processos etc. Outro momento crucial, na minha visão, foi na década de 2000, após o bug do milênio. As empresas precisaram se preparar para falhas localizadas, para que os sistemas como energia, automação não entrassem em colapso. E o profissional de facilities management teve um papel importante.

Logo em seguida, tivemos um momento de crescimento no Brasil. Isso também teve impactos positivos?

Sem dúvida! Quando falamos de crescimento, boom da infraestrutura e equilíbrio do momento político – novamente o facility manager é peça-chave. Tanto para gastar de maneira correta quanto evitar retrabalho e preparar o plano diretor da empresa. Por outro lado, lá fora os EUA vivenciavam um período de crise, o que acabou favorecendo o Brasil em termos de entrada de novas tecnologias, equipamentos e técnicas mais eficientes. Desde então, nosso mercado vem amadurecendo. Estamos melhores, inclusive, que muitos países da Europa Oriental em se tratando de FM, mas atrás ainda de países como Nigéria, que vem investindo muito em infraestrutura e, consequentemente, em capacitação da mão de obra interna para não ficar refém da importação de profissionais. Como tudo na vida, a educação é o ponto-chave.

Você acha que é isso que falta ao Brasil?

Sim. E estou falando principalmente da educação de base em facilities. São os técnicos – o eletricista, o encanador, o pedreiro. Falta técnica, performance, qualidade no serviço. Esse tipo de educação está inserido no FM, mas o Brasil perdeu a força disso. Veja: não vamos conseguir tocar esse país só com engenheiros, administradores... Precisamos trabalhar com a base. E os profissionais precisam ser mais especializados. É uma discussão que temos tido há algum tempo, nós profissionais do mercado. Tem muita coisa que ainda não se enxerga ainda no Brasil em termos de facilities. Muitos trabalham na área e não sabem. Por isso, o nosso trabalho daqui para frente, enquanto associações e grupos, é disseminar essas informações, seja através de cursos e encontros específicos como palestras em escolas e universidades. O graduando precisa ter acesso a isso, até para enxergar o imenso mar de oportunidades que a profissão poderá oferecer nos próximos anos.

Estamos falando somente do mercado privado?

Não. Apesar de o mercado privado ter uma maior aderência para a carreira, o público é um setor com muitas possibilidades para o facility manager nos próximos cinco anos, e onde ele ainda não atua como poderia.

Por que você acha que isso acontece?

Primeiro porque estamos vivendo um momento de crise política. Mas com a perspectiva de uma mudança em termos de administração pública, tenho esperança que impactará positivamente para o FM por conta de uma gestão mais eficiente e transparente. Até mesmo o fim da estabilidade para o servidor público é um ponto bom; quem não produz dará lugar para aquele que produz. Um outro exemplo é a forte visibilidade da área de zeladoria nas grandes cidades. É o sentimento das pessoas: “Puxa, minha rua está esburacada, postes quebrados geram insegurança”. Porque um trabalho de manutenção bem executado das áreas verdes, economia de energia, e coleta e tratamento de resíduos é sempre bem visto pela população e deixa o caixa no azul. Isso é facilities, e a maioria dos cidadãos ainda não enxerga.

O que você diria ao profissional que deseja ingressar na carreira? De que maneira ele precisa se preparar?

No campo privado, o que deve alavancar mais a área diz respeito à sustentabilidade de fato. Não é só separar corretamente o lixo. É buscar inovação, tecnologia. No ramo da energia, a mesma coisa. Precisamos olhar com atenção para a energia eólica e a fotovoltaica. Elas chegarão nas nossas casas e nos nossos empreendimentos pela própria questão dos efeitos climáticos extremos. Soluções inteligentes e ambientalmente corretas serão imprescindíveis na agenda daqueles que gerenciam espaços prediais e corporativos. E não há outra maneira de se preparar que estudando e conhecendo o que já está sendo feito. O gerenciamento de crises (que lá fora chamamos de plano de continuidade dos negócios) deverá ser uma matéria crescente no currículo do facility manager. Ele precisa ser mais especialista em tudo.

Ser especialista, mas também ter um olhar abrangente, não?

Sim. Veja: o facility manager tem o dinheiro na mão. Tem obrigação de cuidar bem desses valores, saber onde, quanto e como gastar. Para isso, precisa acompanhar periodicamente o mercado financeiro. Muitas das tecnologias prediais são importadas; com a variação das moedas, o custo de um equipamento pode chegar a dobrar, triplicar. Esse é um dos pontos estratégicos e a alta administração espera que ele olhe para isso. O profissional que só atua para apagar incêndio vai estar fora do mercado. O profissionalismo e o nível de multidisciplinaridade inerente a sua atuação devem aumentar nos próximos anos.

Em 2018 você assume a gestão do Grupas. Teremos novidades?

O nosso objetivo é continuar trabalhando com temas emergentes, mas levar aos nossos cerca de 1.300 associados mais informação: do mercado econômico, tendências... Em princípio utilizando ferramentas como o e-mail. Informações voláteis que sejam úteis no dia a dia do profissional – do analista ao diretor. Também estamos firmando parcerias para oferecer serviços gratuitos de formatação de currículo e utilizar cada vez mais as pesquisas para entender as necessidades desse público. A ideia é ampliar essa interatividade e atingir também profissionais de outras praças, inclusive eventos embrionários em Campinas, Sorocaba, Curitiba... Em São Paulo, continuaremos com as reuniões mensais, além de outras iniciativas que eu ainda não posso abrir.

A primeira reunião do ano já tem local definido?

Sim. Será no Edifício Pátio Victor Malzoni, em fevereiro, para falar de sustentabilidade. Além do conteúdo técnico, faremos uma visita guiada pelo empreendimento, que venceu o Prêmio Abrafac Melhores do Ano 2017, categoria Pessoa Jurídica, Responsabilidade Social, e tem a primeira horta subterrânea da América Latina.

Você é membro do conselho do IFMA. Quais são as ações da entidade para o Brasil?

A missão do IFMA é a transferência de conhecimento para seus membros. Com base nisso, a associação em parceria com a RICS pretende oferecer uma programação de peso em cursos aqui no Brasil. A ideia é ter na grade diversos temas inerentes a facilities, properties management e real estate. E trabalhar também a conscientização acerca das certificações – que são bastante fortes nos EUA e na Europa, em geral. Além do profissional, o contratante também precisa enxergar o valor do certificado, que é válido globalmente. Lá fora, a grande maioria das empresas exige o certificado para concorrer à vaga. E o Brasil ainda tem resistência quanto a isso, talvez por conta do custo de investimento.

De quanto estamos falando? Já estão pensando em como equalizar esses valores para o perfil brasileiro?

Existem cursos de vários níveis e cargas horárias, mas na média um profissional investe aproximadamente US$ 2.500 ao adquirir o curso e o certificado. É importante lembrar que o nível é diferenciado e que o corpo docente é formado por profissionais também certificados e aptos a ministrar determinada disciplina. Mas, sim, estamos estudando estratégias para adequar esses valores à realidade do País. 

Você comentou que o IFMA trabalha com 11 vertentes em termos de certificação. Já sabem quais terão vez aqui no Brasil, num primeiro momento?

Tem que ser da sustentabilidade. Assim como a tecnologia, por conta de a Internet das Coisas ser a grande tendência no gerenciamento de edifícios. E isso me lembra outro ponto relevante: de que o trabalho será desempenhado com cada vez menos mão de obra, e mais mecanização, equipamentos mais adequados àquele determinado serviço, processos e materiais mais eficientes para elevar a performance – o que também demandará capacitação e especialização do facility manager. Em resumo: o conhecimento é a chave para que o profissional tenha um futuro mais feliz e próspero nessa área.

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