Por Marco Barone
Ao que parece, enfim, a maré ruim está indo embora. O que indicam os prognósticos, depois de quase cinco anos, a luz ao final do túnel está cada vez mais visível para o mercado imobiliário. Pelo menos é o que acreditam os representantes da indústria que se reuniram para debater os caminhos para o segmento durante o Summit Imobiliário Brasil 2017. O evento, promovido pelo Estadão e pelo Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), dia 4 de abril – que repetiu o tema no ano anterior, As Ideias de quem mora no futuro –, contou com a presença de autoridades do poder público, principais associações do setor e importantes empresários da construção civil.
Flavio Amary, Presidente do Secovi-SP, afirmou em seu discurso, que o setor aposta na volta dos bons momentos, mas que somente a viabilidade econômica no País fará com que a produção de novos empreendimentos volte ao normal. Ele também destacou que, no Plano Diretor da Cidade de São Paulo, aprovado no ano passado, ainda na gestão anterior do município, existem pontuais e necessárias mudanças. “É preciso que o plano tenha pequenos ajustes, mas não o seu conceito. Alguns pontos precisam ser alterados para que fiquem adequados à realidade”, afirmou.
Convidado para abrir o evento, o governador Geraldo Alckmin aproveitou a oportunidade para lançar o edital de concorrência internacional da Parceria Público-Privada (PPP) Nova Cidade Albor, que visa a urbanizar 1,7 milhões de metros quadrados da antiga Fazenda Albor, que envolve os municípios de Guarulhos, Arujá e Itaquaquecetuba. Nessa área, serão construídas mais 13,1 mil moradias populares, além de creches, escolas, unidades básicas de saúde e áreas verdes, atendendo mais de 39 mil pessoas.
“Foi feito um projeto de uma verdadeira cidade, chamada Cidade Albor, que não terá apenas apartamentos. Por estar muito próximo ao aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, e também às margens do Rodoanel, contará com uma área de comércio, logística, indústrias e equipamentos públicos. Uma cidade de 40 mil habitantes estrategicamente no envolvimento da Região Metropolitana de São Paulo”, explicou o Governador.
Com o tema “A São Paulo que queremos”, o Prefeito João Dória também palestrou na abertura. Ele listou pontos importantes para a transformação da cidade e garantiu que pretende criar um fundo imobiliário municipal com base na venda ou no leilão de mais de mil imóveis públicos atualmente sem uso, entre terrenos vagos, residências, prédios e apartamentos, cuja arrecadação será totalmente destinada ao fundo. Dirigindo-se ao setor e respondendo pedido feito pelo Secovi-SP, ele admitiu que pode reavaliar as regras do Plano Diretor de São Paulo. “Se for necessário mudar a lei para proteger a vida e gerar empresas, mude-se a lei”, garantiu.
O evento foi dividido em painéis. A seguir, um resumo de cada um deles e um pouco do que cada convidado falou:
• Abertura: Convidado desta edição foi Dr. Liu Thai-Ker, Diretor da RSP Architects Planners & Engineers, de Cingapura, foi o Keynote Speaker na abertura do evento. Considerado o pai do projeto que transformou o país em referência internacional de sustentabilidade, Liu entende que as melhores cidades são aquelas que funcionam. “Além da questão da moradia, elas precisam resolver questões de mobilidade, que passam pelo conceito de oferecer opções de trabalho mais próximas dessas moradias. Morar em uma cidade preocupada com o meio ambiente é outra forma de se conservar a beleza. De diferentes maneiras, as pessoas querem se sentir parte da cidade”, avaliou.
• Os caminhos para a retomada: o painel falou sobre a volta dos investidores e compradores e o que eles esperam do mercado. Fizeram parte do debate Rubens Menin Teixeira de Souza, Presidente do Conselho de Administração da MRV Engenharia; Gilberto Magalhães Occhi, Presidente da Caixa Econômica Federal; Ricardo Yazbek, Presidente da R. Yazbek; e Bruno Laskowsky, Diretor da Credit Suisse Hedging-Griffo. Em resumo, os participantes entendem que há perspectivas positivas para o futuro próximo do setor, ainda mais com as medidas aprovadas recentemente pelo governo, como o limite dos gastos públicos e a terceirização.
• Segurança jurídica e compliance: nessa parte, Carlos Alberto Borges, CEO da Tarjab; Ronaldo Fragoso, Sócio-líder da área de Risk Advisory da Deloitte; Renato Opice Blum, Coordenador do curso de Direito Digital do Insper; e José Carlos Martins, Presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), discutiram a importância da imagem e da reputação no mercado imobiliário, bem como os mecanismos para fazer frente à burocracia em defesa de investidores e compradores. Segundo eles, é até ambíguo, mas a Operação Lava Jato pode ser responsável por uma nova fase de crescimento do interesse de empresários da construção civil, visto que houve e haverá o aperfeiçoamento das práticas de governança corporativa e a conformidade à legislação. A regulamentação do setor e a obediência às regras contribuem para que irregularidades sejam logo verificadas e extirpadas. Mais, a visão negativa do setor, ocasionada pela operação da Polícia Federal, são casos pontuais, pois a maioria das empresas no Brasil não tem esse comportamento.
• O que muda com o zoneamento?: as novas regras de zoneamento de São Paulo impactam o setor, mas quais são os planos da atual gestão? Para debater esse tema, o painel contou com Claudio Bernardes, Presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP; Heloisa Proença, Secretária de Desenvolvimento Urbano da Cidade de São Paulo; e Rodrigo Garcia, Secretário de Habitação do Estado, que se debruçaram em questões polêmicas. Na visão do mercado, muitos pontos da lei devem ser mais bem definidos, mas o poder público entende que o novo zoneamento pode até ter criado problemas de aplicação para uma cidade concreta, mas teve o mérito de aproximar São Paulo dos conceitos do novo urbanismo. Mas ainda há muita coisa para acontecer, pois a Prefeitura colocou o texto em revisão e espera “calibrar” as regras até maio.
• A força das novas tendências: os participantes Wolf Menke, Fundador do Projeto Draft/House of All; Yeshwant Abhimanyu, Manager da unidade Latin America Research (Automotive & Transportation) da Frost & Sullivan; Renato Meirelles, Presidente da Locomotiva Pesquisa & Estratégia; e Ado Fonseca, CEO do Moving Imóveis, procuraram dar respostas ao setor imobiliário sobre as mudanças no mundo do trabalho e inovações como coworking, cocreation e coliving, por exemplo. De forma quase unânime, eles falaram acreditar que compartilhar é o conceito que deve permear os mercados nos próximos anos, incluindo o imobiliário. As empresas devem entender essa nova realidade e oferecer produtos que atendam os interesses e demandas dos potenciais consumidores, de acordo com o perfil desses potenciais clientes. Mercado propício existe, pois, segundo os convidados, apesar da crise econômica, 4,8 milhões de brasileiros querem comprar imóveis nos próximos 12 meses.
• Um olhar financeiro: o último painel do evento teve a participação de Alex Agostini, Economista-chefe do Austin Rating; Daniel Cherman, Presidente da Tishman Speyer no Brasil; Enrico Trotta, VP de LatAm Real Estate do Itaú; e Gustavo Garcia, Head de Pesquisa e Inteligência de Mercado para América do Sul da Cushman & Wakefield. Eles debateram sobre como o setor pode atrair mais investimentos e fazer com que o investidor estrangeiro volte a ver o mercado imobiliário brasileiro com o mesmo olhar de há alguns anos. O País ainda precisa cumprir algumas etapas, mas tem todo o potencial para atrair novamente o capital estrangeiro. A recuperação da economia, o avanço nos índices de confiança dos consumidores e dos empresários, a queda da inflação e da taxa básica de juros, são fatores que fazem com que os olhos – e o bolso – dos investidores se voltem novamente para o Brasil.
• Encerramento: o Summit contou com o professor Manish Srivastava, da NYU Schack Institute of Real Estate, como Keynote Speaker ao final. Srivastava é um dos mais conceituados especialistas em finanças imobiliárias, que falou sobre a recuperação do mercado americano após a crise de 2008, traçando paralelos com o mercado brasileiro. “O desafio para economias como a do Brasil – que têm grande vantagem mesmo em relação a países mais desenvolvidos – é saber como manejar melhor os recursos e fazer com que trabalhem a favor do próprio país e de seus setores produtivos”, definiu.