Por Léa Lobo
A Siemens Brasil, com o apoio do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), realizou em 03/10 o evento de lançamento do relatório "Pictures of Transformation - Um retrato do Brasil em 2035". O encontro, exclusivo para executivos de instituições públicas e privadas, além de organizações internacionais, visou apresentar cenários futuros para o Brasil nas próximas décadas, com foco em quatro pilares principais: descarbonização, circularidade, sociedade e tecnologia com propósito.
Pablo Fava, CEO da Siemens Brasil, abriu o evento destacando o objetivo do relatório, que visa traçar um futuro promissor para o país por meio da tecnologia. Ele afirmou que "a tecnologia é a melhor ferramenta que a humanidade tem para provocar transformações", salientando a importância de pensar adiante em como o Brasil pode se preparar para os desafios da próxima década. Fava explicou que o relatório foi desenvolvido por equipes internas da Siemens, em colaboração com parceiros externos, e contou com a curadoria do professor Fabio Scarano, pesquisador e professor titular de Ecologia da UFRJ e curador do Museu do Amanhã.
Léa Reichert, Diretora Adjunta de Projetos do CEBRI, elogiou a parceria histórica entre a Siemens e o CEBRI, que já colaboram há anos em iniciativas voltadas para o desenvolvimento sustentável. Reichert destacou que o Brasil está em um momento crucial no cenário global, com grandes eventos internacionais, como a COP e o G20, colocando o país no centro das atenções. "O Brasil tem uma grande oportunidade de mostrar ao mundo suas iniciativas de sustentabilidade e transformação tecnológica", disse.
A palestra de Dan Ioschpe, Chair do B20 Brasil e Presidente do Conselho de Administração da Ioschpe-Maxion, que tinha como tema “O papel do Brasil na transformação global em direção a um futuro mais sustentável e equitativo”. Ele abordou os princípios orientadores do B20 Brasil, alinhados às prioridades do G20 para 2024. Ioschpe enfatizou a importância de promover o crescimento inclusivo, acelerando a transição para uma economia de emissão zero e melhorando a produtividade por meio da inovação. Ele destacou que o Brasil tem um papel fundamental na descarbonização global, especialmente em setores como agricultura e energia, áreas em que o país pode liderar com soluções sustentáveis.
O relatório "Pictures of Transformation" apresenta uma visão otimista, mas realista, dos desafios e oportunidades que o Brasil enfrentará até 2035. Através de tecnologias emergentes e de um compromisso com a sustentabilidade, o país pode se tornar um exemplo global de transformação industrial, energética e social.
Mensagem 2035: O Brasil em Transformação – Reflexões sobre Sustentabilidade e Inovação
Esta sessão contou com as contribuições de Luis Mosquera, Vice-presidente Jurídico, Relações Governamentais e Sustentabilidade da Siemens Brasil, e do professor Fabio Scarano, curador do Museu do Amanhã e responsável pela revisão técnica do relatório.
Luis Mosquera iniciou a conversa destacando que o Brasil está em um momento estratégico para capturar um crescimento significativo nos próximos anos, mencionando eventos globais como o G20 e a COP30. Além disso, ele enfatizou a importância da participação do Brasil na Feira de Hannover em 2026, um marco que reverte a tendência histórica de o país importar tecnologia da Alemanha, oferecendo agora uma oportunidade para exportar sua própria inovação. Ele também delineou os quatro vetores principais identificados no relatório: descarbonização, circularidade, sociedade e tecnologia. Essas tendências serão fundamentais para moldar o futuro do país, focando em energia limpa, infraestrutura eficiente e indústrias sustentáveis.
Em seguida, o professor Fabio Scarano elogiou a abordagem do relatório, referindo-se a ele como um exemplo de "realismo esperançoso". Scarano destacou a importância da transformação para lidar com os desafios climáticos e sociais, observando que o relatório foi embasado em uma vasta consulta a especialistas, além de dados primários e secundários. Ele salientou que, embora mitigação e adaptação sejam essenciais, a transformação é a única solução viável a longo prazo, especialmente frente às previsões climáticas mais alarmantes.
Mosquera seguiu detalhando os principais achados do relatório, com ênfase em três áreas: energia, infraestrutura eficiente e indústrias sustentáveis. Na área de energia, ele destacou o papel do Brasil como líder na transição energética, com crescimento das fontes renováveis, como eólica e solar, e avanços na digitalização dos sistemas elétricos para mitigar a intermitência dessas fontes. Já na infraestrutura, a eletrificação de transportes e a digitalização de portos e sistemas urbanos foram apontadas como áreas críticas para o progresso. No campo industrial, a adoção de tecnologias digitais para aumentar a eficiência e reduzir emissões em setores como petroquímica e automotivo foi vista como essencial.
Finalizando, Scarano reafirmou a importância da colaboração entre governo, sociedade civil, academia e setor privado para garantir que o Brasil aproveite plenamente as oportunidades apresentadas. Ele lembrou que, embora a tecnologia seja uma ferramenta poderosa, o verdadeiro avanço depende da disposição para agir, especialmente em áreas como a descarbonização e o uso responsável de recursos naturais.
O evento destacou que o Brasil tem uma janela de oportunidade única para se posicionar como líder global em sustentabilidade e inovação, mas isso exigirá compromisso, planejamento e ação coordenada de todos os setores.
Transformação Sustentável como Modelo de Desenvolvimento e Competitividade da Indústria no Brasil
A terceira sessão do evento foi marcada por discussões profundas sobre a transformação sustentável como modelo de desenvolvimento e competitividade da indústria no Brasil, mediada por Luis Mosquera. Entre os palestrantes estavam Alexandre Valadares Mello, Diretor de Assuntos Associativos e Mudanças Climáticas do IBRAM; Karin Formigoni, Diretora-presidente da Arcadis Brasil; Cláudia Noel, Gerente de Transição Energética e Clima do BNDES; e Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU no Brasil. Eles compartilharam suas perspectivas sobre como o Brasil pode se tornar um líder em soluções verdes e maximizar a visibilidade internacional para atrair investimentos.
Carlo Pereira destacou a visibilidade do Brasil na Climate Week em Nova Iorque, ressaltando que o país tem uma oportunidade única de liderar o cenário global em sustentabilidade, mas alertou sobre desafios internos, como a seca e a dependência de térmicas, que mostram a necessidade de investir em energia renovável. Ele enfatizou que o Brasil deve continuar proativo e unido para captar as oportunidades no mercado global, embora reconheça os retrocessos impostos por algumas políticas internacionais.
Alexandre Mello trouxe uma visão sobre o papel da mineração no Brasil, destacando o potencial de minerais críticos para a transição energética global, especialmente em setores como baterias para veículos elétricos. No entanto, ele apontou a necessidade de um licenciamento ambiental mais ágil e maior investimento em pesquisa mineral. Apesar dos desafios, o setor de mineração brasileiro tem contribuído significativamente para a redução das emissões de carbono e está comprometido com metas sustentáveis.
Karin Formigoni abordou o papel da tecnologia na descarbonização, destacando como a eficiência energética e as soluções tecnológicas, como os gêmeos digitais, podem transformar a operação industrial e reduzir emissões. Ela frisou que a transição para o uso de energias renováveis e a otimização dos processos operacionais são fundamentais para garantir a competitividade global do Brasil.
Cláudia Noel, do BNDES, destacou que a sustentabilidade é agora uma questão de sobrevivência e competitividade para as empresas brasileiras. O banco oferece apoio crucial em linhas de crédito e parcerias para fomentar o desenvolvimento tecnológico e a eficiência energética. Cláudia enfatizou o papel do BNDES em promover o crescimento sustentável da indústria, com foco em garantir que o Brasil atinja suas metas de descarbonização.
Os palestrantes reforçaram a importância da colaboração entre o setor público e privado, a inovação tecnológica e o fortalecimento da governança climática para que o Brasil possa se posicionar como um protagonista global na transformação sustentável.
Infraestrutura como Pilar Estratégico para a Competitividade e o Desenvolvimento do Brasil
A última sessão do evento contou com a mediação de William Pereira, Vice-presidente da Siemens Smart Infrastructure, e a participação de Sandoval Feitosa, Diretor-geral da ANEEL; Rui Chammas, Diretor-presidente da ISA-CTEEP; Marina Grossi, Presidente do CEBDS; e André Clark CEO da Siemens Energy Brasil.
Marina Grossi trouxe insights sobre a Climate Week em Nova Iorque, destacando as discussões sobre as oportunidades do Brasil no cenário global, especialmente em relação ao Plano de Transformação Ecológica e o papel do setor privado na revisão da NDC brasileira (Contribuição Nacionalmente Determinada). Marina ressaltou que o Brasil tem uma oportunidade única de assumir uma posição de liderança global em sustentabilidade até 2035, através de investimentos em transição energética e soluções de baixo carbono.
André Clark destacou a necessidade de uma governança robusta para enfrentar os desafios climáticos e energéticos, mencionando a importância de acelerar a mudança no ecossistema econômico global. Ele enfatizou que o setor de ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa) é essencial e deve ser tratado com seriedade, especialmente em termos de governança, para garantir a implementação das mudanças necessárias.
Rui Chammas abordou a necessidade de adaptação da infraestrutura existente para lidar com as mudanças climáticas. Ele descreveu os esforços da ISA-CTEEP em mapear cenários climáticos extremos e adaptar a infraestrutura de transmissão de energia, além de destacar o papel das novas tecnologias, como a Internet das Coisas e baterias, para melhorar o controle e a eficiência da rede elétrica.
Sandoval Feitosa falou sobre o papel da ANEEL em permitir inovações tecnológicas, ressaltando que a governança energética é fundamental para o desenvolvimento sustentável. Ele destacou os desafios em conciliar as necessidades de diferentes setores e a importância de investimentos contínuos em infraestrutura energética para garantir que o Brasil continue sendo um exemplo global em sistemas de energia renovável.
A sessão concluiu que a modernização da infraestrutura energética brasileira é essencial para garantir a competitividade do país no cenário global, e que isso só será possível com uma governança eficaz e investimentos estratégicos em tecnologia e sustentabilidade.
Finalizando o evento, o professor Fabio Scarano fez um encerramento reflexivo, destacando os dois grandes imperativos de nosso tempo: a sustentabilidade e a tecnologia, especialmente a digitalização. Ele lembrou sua época de estudante nos anos 80, quando percebia uma separação entre o mundo natural e o tecnológico, até que foi impactado pelo livro "A Questão da Técnica" de Martin Heidegger. Scarano ressaltou que a tecnologia em si não é boa ou ruim, mas depende de como a utilizamos. O desafio é equilibrar o uso da tecnologia de forma que sirva ao bem do mundo.
Ele também enfatizou a tensão entre dois valores modernos: liberdade e segurança. Scarano explicou que o excesso de liberdade, especialmente no consumo, pode comprometer a segurança de outros, inclusive a nossa. Por outro lado, a busca por segurança contra riscos, como os climáticos, pode interferir na liberdade alheia. Ele argumentou que encontrar um equilíbrio entre esses dois valores é essencial para navegar entre sustentabilidade e tecnologia.
Além disso, Scarano mencionou o conceito de "biotecnosfera", sugerindo que hoje estamos tão integrados às nossas tecnologias — desde uma caneta até um edifício — que elas são inseparáveis da nossa existência. Ele concluiu que se conseguirmos viver de forma harmônica nessa biotecnosfera, seremos capazes de integrar liberdade e segurança, alcançando um futuro de esperança.
Pablo Fava, ao concluir o evento, destacou o tamanho do desafio que temos pela frente, mencionando a metáfora da "vaca no brejo" e a urgência de salvar o mundo de uma catástrofe climática, como mencionado por Marina Grossi. Ele reforçou que, ao longo da história, a tecnologia sempre ajudou a humanidade a enfrentar seus desafios — desde a invenção da roda até as revoluções industriais. Fava apontou que o relatório "Pictures of Transformation" serve como um chamado à ação, não apenas como um documento informativo.
Ele explicou que a página do relatório funciona como um repositório de iniciativas da Siemens, tanto no Brasil quanto globalmente, abordando temas como infraestrutura, cidades inteligentes e descarbonização. Essa página será uma fonte de inspiração, especialmente no contexto da COP30, na qual o Brasil terá um papel central.
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