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O caminho de 20 anos para avançar em uma infraestrutura de saúde

Bruno Amorim, gestor de Projetos e Inovações na Fundação Oswaldo Cruz, compartilha sete lições da carreira.

Por Bruno Amorin

O caminho de 20 anos para avançar em uma infraestrutura de saúde

Sabe quando você ganha um presente, mas, por um momento, não percebe o quão valioso e interessante pode ser? Talvez tenha sido mal embrulhado, é verdade, mas devo admitir que, diferente de muitos profissionais de FM, minha vontade, ao receber o desafio que hoje se tornou minha profissão (e paixão), foi de negar e devolver.

Muito prazer, ocupo o cargo de gestão de inovações na Coordenação de Engenharia de Manutenção, da Coordenação-Geral de Infraestrutura dos Campi (Cogic), na Fiocruz. Engenheiro Civil de formação, tornei-me especialista e apaixonado em Gestão de Facilities, mas não fomos apresentados de forma direta. Deixe-me contar como foi.

Como técnico em edificações, aos 19 anos, ingressei no mercado, trabalhando com manutenções corretivas em agências bancárias. Como todo profissional motivado em busca de seu espaço no mercado, consegui me recolocar para atuar no departamento de manutenção na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), onde tive a necessidade de aprofundar os conhecimentos de manutenção em áreas classificadas como laboratoriais, de ensino, assistência, administrativas, entre outras.

Com o intuito de mais qualificação, em 2006 ingressei na faculdade de engenharia civil. Após seis anos conciliando trabalho e estudo acadêmico, concluí minha graduação, porém as disciplinas da faculdade não somaram mais experiências em manutenção, além das que já possuía profissionalmente. Uma das coisas que bem aprendi nos tempos de universidade ao demonstrar interesse e dedicação a um tema, sempre haverá especialistas capazes de auxiliar-nos e aconselhar quanto a oportunidades e dificuldades aparecerem.

Em 2015, após cerca de 15 anos de atuação diária em gestão da manutenção, houve a convocação para compor outra equipe, mas ainda na diretoria de infraestrutura. A princípio, um pouco mais distante da operação, mas próximo da gestão central ao assumir um papel no assessoramento técnico.

Ainda que, de algum modo, aquilo fosse uma ascensão na carreira, do “alto” dos meus 33 anos de maturidade, não foi dessa forma que enxerguei de início. Primeiro porque estava me afastando daquilo que sabia fazer, programar e coordenar manutenção. O segundo pensamento é que seria preciso deixar a equipe formada ao longo dos anos. Porém, a mudança permitiu comprovar aquela que talvez seja a maior conquista de um bom gestor, verificar com os próprios olhos o desenvolvimento de suas equipes e saber que elas são capazes de rodar os processos sozinhas.

Já no papel de assessor, recebi aquelas que certamente foram as missões mais desafiadoras da minha carreira e, que talvez, tenham sido a mudança de chave. A primeira delas tratava-se da coordenação para elaboração de projetos e o acompanhamento de obra de construção, no continente africano, em Maputo-MZ. E mais do que conhecimento em engenharia para entrega do produto, o projeto de construção do 1º Banco de Leite Humano naquele país me desafiou e trouxe muito aprendizado. Nessa fase, além das habilidades técnicas, os pessoais também foram significativos para a gestão, como a ausculta ativa, empatia e enxergar as igualdades e diferenças culturais que podem existir entre as pessoas e suas formas de lidar com o trabalho em parceria.

A segunda, foi aquele tal presente que comentei no início, quando descrevi como ‘mal embrulhado’ e que inicialmente não me pareceu tão interessante, mas que apresentaria todo seu potencial, o de obter conhecimento holístico sobre todos os processos e ciclo de vida dos serviços. O aprendizado e crescimento em Facilities me fez apaixonar, me especializar e não mais sair da nova área de atuação, me reconhecendo como um Facility Manager. A metáfora utilizada serve bem para descrever como a missão foi inicialmente apresentada e como nós, os FM, podemos (e devemos) ressignificá-las.

Diante da iminente inauguração de nova unidade regional no Estado do Ceará, a Fiocruz precisava apresentar soluções para a contratação dos serviços de suporte, operação e manutenção às atividades centrais da instituição. Aos que já trabalharam com desenvolvimento de documentos na administração pública e, mais especificamente, licitação, pode ter uma ideia de quão trabalhoso e detalhado isso pode ser. Essa solução abrangia fazer isso para cerca de 30 contratos ao mesmo tempo, envolvendo disciplinas que possuía pouquíssima experiência e vivência.

Conhecer cada uma delas, no detalhe, ao mesmo tempo, era mais que desafiador, o que muitas vezes parecia inviável e até uma tarefa impossível de ser cumprida e assim conheci o FM.

Embora a gestão de Facilities fosse uma realidade na Petrobras ou na Caixa, as de direito público ainda não havia experiências nesse sentido. Talvez por essa razão, a primeira defesa da proposta feita ao coordenador-geral à época foi rejeitada.

Após reflexão, lembrei do aprendizado da graduação: ‘sempre há alguém trilhando o mesmo caminho e dividir experiências’. Com isso, destaco o papel dos amigos e servidores da Fiocruz Hélio Silveira, Sonali Mota e Fabiane Fonseca, além dos colegas Luis Fernando Fernandes, do Sebrae, e Leila Cótica, então no DNIT. A partir da troca de experiências e conhecimento nas áreas técnica, administrativa e jurídica, o processo amadureceu, ganhou consistência e seguiu para a segunda defesa junto à coordenação.

Destaco que em 2016, ainda não havia qualquer legislação tal qual a Lei nº 14.011/2020 que pudesse dar total tranquilidade jurídica à equipe de planejamento e ao ordenador de despesas. Porém, à medida que aprofundamos os estudos técnicos, ficou mais evidente a necessidade de realizar a contratação dos serviços de infraestrutura de maneira integrada.
 
Assim, finalizamos os documentos de licitação e conseguimos contratar um bom parceiro capaz de operacionalizar nossas ações de infraestrutura no escritório regional do Ceará. Essa experiência foi muito significativa, uma vez que foi a partir dela que realizamos a terceira, a quarta e estudamos a realização de outras contratações de gestão integrada da infraestrutura de unidades Fiocruz, já que a modalidade permite centralizar esforços em sua missão institucional, ao mesmo tempo em que lida com infraestrutura de maneira estratégica e qualificada.

Posso dizer que, passado o ‘susto inicial’, pude de fato me conectar e me apaixonar pelo FM, buscando fazer o básico bem-feito e aprimorando continuamente. Assim, em pouco tempo, conseguimos incluir ações de eficiência energética, migrar ao mercado livre de energia e adotar ações de eficiência e gestão hídrica.

Assim, finalizo esse relato resumido de mais de 20 anos de experiência na área de engenharia e Facilities Management. Concluo, compartilhando lições da minha caminhada:

- Independentemente de sua posição atual, dedique-se sempre a entregar o seu melhor;
- Tudo na vida é aprendizado;
- Planeje suas ações, mas comece;
- Torne o conhecimento em ação;
- Faça o básico bem-feito e procure melhorar dia a dia;
- Com muito esforço, dedicação e humildade, tudo é possível.

E por fim, mas não menos importante, goste de pessoas. Um grande abraço.


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