O papel de um gestor sustentável no Facilities Management (FM)

Por Léa Lobo

Ultimamente, profissionais que atuam como gerentes de facilidades têm percorrido caminhos e proposto ações para alcançar resultados positivos, que proporcionaram a eles o título de Gestor Sustentável em FM. Para conhecer os processos utilizados e o que foi preciso para superar os desafios da sustentabilidade, vale analisar a rotina de um FM e entender como ele se posiciona no mercado.

Na gestão do ambiente construído, inicialmente, é fundamental que o FM conheça a infraestrutura e seus sistemas visando seu bom funcionamento. O básico é atender à legislação, pois todo edifício deve estar de acordo com as questões de segurança, obter os autos de vistoria do Corpo de Bombeiros e as documentações junto às normas das prefeituras, e assim por diante. Esse é o mínimo obrigatório para que o gestor comece a falar sobre sustentabilidade.

Na sequência, o profissional deve compreender que para ser sustentável é preciso atender a três pilares principais: o ambiental, o social e o econômico, que precisam coexistir e interagir harmoniosamente. E para que isso aconteça é necessário obter conhecimento sobre o assunto, realizar treinamentos e atualizar-se sobre a adoção de novas normas e o uso de novas tecnologias.

Eficiência energética: apenas um exemplo

Um exemplo que podemos mencionar é a questão de eficiência energética que faz parte da rotina do gestor de facility e que deve ser acompanhada e aplicada em empreendimentos corporativos. Afinal, é preciso transformar as ações de eficiência energética em ações diárias das organizações. Mas como se colocar a frente destas situações e gerenciar as questões energéticas de um empreendimento de forma sustentável? Seja através de medidores ou redes inteligentes, sistemas de monitoramento e gestão eficiente, é possível gerenciar a demanda, o que se consome e quanto se consome. Por isso, é preciso trabalhar com desempenho energético operacional.

Nós temos um grande número de edifícios construídos no Brasil, com edifícios comerciais cada vez mais complexos, que integram uma série de tecnologias e sistemas de automação. Mas, em muitos casos não se tem um profissional capacitado gerenciando esses sistemas, que são utilizados apenas para atender reclamações em vez de buscar melhor a eficiência energética. Há exemplos inclusive que se desliga o sistema de automação por sua complexidade, pois o operador acaba não sendo preparado para entendê-lo. Isso gera um número relevante de prédios modernos, que não funcionam.

Na parte de construção de um edifício, por exemplo, é possível escolher a localização e definir os sistemas prediais que possuem mais eficiência energética com antecedência, como sistemas de iluminação e/ou ventilação natural, porcentagem de abertura das fachadas etc. Mas na operação, é o gestor quem define uma série de características sobre o desempenho daquele edifício.

Quando se pensa em conservação de água ou energia, é fundamental começar por estudos detalhados, que apontem onde é possível reduzir o consumo, analisar o custo/benefício de cada estratégia em curto, médio e longo prazo. A simples instalação de novas tecnologias, ou a adoção de medidas restritivas, não garante a redução no consumo, e, na maioria das vezes, não são as opções que trarão mais resultados, ou seja, podemos ter uma gestão insustentável.

Passo a passo

Para ser uma adoção sustentável (edição 40+ sustentáveis 2016) é preciso realizar primeiramente a coleta de dados estatísticos, benchmarking para saber o que é mais eficiente e o porquê do aumento do consumo. Será que a população do edifício aumentou? É preciso comparar seu desempenho com tipologias, tecnologias e usos semelhantes.

O segundo passo é realizar um diagnóstico, um levantamento detalhado feito por engenheiros e auditores que analisam o potencial energético. Terceiro, realizar simulações de consumo. Quarto, correções climáticas, afinal não adianta ser muito eficiente se a temperatura interna do edifício está na faixa de 30 graus. A quinta etapa é a comunicação, sendo o poder da transparência muito forte, é fundamental comunicar os benefícios desses potenciais de economia de forma adequada, por meio de sistemas de etiquetagem e/ou certificação das edificações.

Vale ressaltar que as certificações auxiliam o gestor a cumprir as demandas do edifício de modo sustentável. Para conquistar uma certificação, com selos como os do LEED (USGBC), AQUA-HQE (Fundação Vanzolini) ou PBE Edifica (Procel) é preciso atender a requisitos que visam evitar e eliminar os desperdícios, otimizar a eficiência dos sistemas, aproveitar os recursos naturais disponíveis e recuperar insumos e fontes, fatores que juntos, reduzem os impactos ambientais.

Aliás, para ser um FM sustentável, tendo uma gestão estruturada, uma das alternativas deste gestor é estudar e colocar em prática as normas das certificações, mesmo que a certificação ainda não seja seu alvo, mas lá é possível encontrar rotinas, processos e know-how que o farão ampliar sua expertise como gestor.

FM: um olhar sustentável

Ter consciência social e ambientalmente responsável tem se tornado uma vantagem altamente competitiva para as empresas não apenas pela visibilidade, credibilidade e reputação, mas uma vez que elas enfrentam grandes problemas como o aumento do custo de água e energia, e percebem que investir em alternativas sustentáveis, além da vantagem para o meio ambiente e para a sociedade, traz vantagem econômica.

Gerentes de Facilidades têm um mundo de oportunidades devido a quantidade de atividades que integram uma área de FM. Muitos profissionais questionam: “Qual é o formato ideal para uma estrutura de Facility Management?” Digo que não há uma resposta padrão, pois, é necessário entender qual a estratégia de negócios de cada organização, a partir da sua missão, visão e valores. Para cada tipo de negócio, temos estruturas físicas e de gestão diferentes, sendo que em muitas não há nem a integração das atividades especializadas e/ou terceirizadas de FM, em uma única diretoria. Além disso, há, ainda, um grande desafio, pois, a maioria das empresas não possui um sistema/software que integre as atividades para seu planejamento e sua gestão.

Normalmente, o FM, terceirizado ou não, é o ponto de contato com diversas atividades relacionadas com Sustentabilidade, Operação & Manutenção, Finanças e Negócios, Recursos Humanos, Real Estate, Property Management, Liderança e Estratégia, Comunicação, Qualidade, Project Management, Tecnologia, Emergências e Riscos, além de Workplace e soluções diversas para o dia a dia das corporações.

Quando pensamos em um escritório corporativo, por exemplo, temos demandas como viagens, frotas, alimentação, controle de documentos, gestão de impressoras, correspondências, táxi, limpeza, manutenção, segurança, layouts, workplace, mobiliários etc. Quando pensamos em uma instalação industrial/predial, temos que considerar demandas de utilidades como energia, tratamento de águas e efluentes, poços artesianos, projetos de reúso, caldeiras, elevadores, climatização, automação etc.

Enfim, Facility Management existe também para ajudar, de forma sustentável, as pessoas a executarem com produtividade suas atividades dentro de qualquer tipo de organização, considerando que há sinergia entre todas as áreas das empresas para atender às demandas dos negócios.

Para manter um equipamento predial eficiente, garantindo o conforto dos usuários dentro de um contexto sistêmico, é responsabilidade do gestor de facilities sustentável controlar diariamente sua operação e, mais do que isso propiciar bem-estar aos usuários do ambiente de trabalho.

Vale lembrar que na contextualização de Barret (2003) considera-se que um sistema de gerenciamento de facilidades deve ser orientado para a satisfação dos usuários, pontuando que os sistemas são vulneráveis pela maneira como a informação evolui no ciclo do feedback, positivo ou negativo e, portanto, deve ser constantemente ajustado. A partir da interação entre a operação e a estratégia organizacional, um FM tem de estar constantemente atento às mudanças de paradigmas relacionadas ao edifício, ao trabalho, aos negócios, avanço tecnológico, ambiental, legislação, entre outros. 

Enfim, para Robersoon (2003), para ser um vencedor em um período de rápidas mudanças é preciso ser proativo, sendo necessário entender onde estamos, para onde vamos, aonde gostaríamos de ir e como as coisas que nos dizem respeito estão mudando a nossa volta. E claro, a questão da sustentabilidade é apenas uma das muitas que estão em transformação. Uma organização é um sistema que integra um conjunto de coisas – vivas e inanimadas – e suas variáveis, enquanto o gerenciamento de facilidades é um subsistema da organização, onde o FM tem o papel de calibrar as mudanças para atender às necessidades dos usuários da organização, através de uma postura sempre proativa.

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