Por Diego Barbosa
Depois de quase dois anos de uma mudança brusca e repentina no formato de trabalho, muitas empresas estão retomando as atividades presenciais. As expectativas são muito positivas para essa volta, mas é preciso deixar claro que as coisas não devem simplesmente voltar a ser como eram antes. A pandemia trouxe impactos para todos e, não podemos simplesmente ignorar o quanto tudo isso nos modificou.
De fato, muitos se adaptaram facilmente ao home-office, mas também vimos quem reclamou da dificuldade em estabelecer um equilíbrio entre as responsabilidades profissionais e pessoais. Nesse contexto, as pessoas foram transformadas, assim como as suas preferências de trabalho. São essas questões que devem ser consideradas agora, quando muitas vislumbram a reabertura de seus escritórios.
Como há inúmeras dúvidas sobre como o processo se dará na prática, listei aqui os principais pontos que acredito serem fundamentais nesse momento. As empresas que não se atentarem a essas questões, certamente terão mais dificuldade para atrair e reter os colaboradores. Confira:
1 Engajamento social: a conexão com as pessoas foi seriamente prejudicada durante o isolamento social. Muitos colegas de trabalho sequer se conhecem pessoalmente. Os relacionamentos foram mantidos única e exclusivamente por meio de telas. Os pontos de interação perderam uma significativa profundidade. Com a retomada, esse aspecto será favorecido, mas as empresas precisarão cuidar dessa reaproximação. Nem todos se sentirão plenamente confortáveis para um contato físico mais próximo, por exemplo.
2 Criar uma nova rotina: tenho visto muitas empresas simplesmente ordenando a volta com as mesmas regras de antes da pandemia. Esse é um erro brutal que, reforço, não tem a mínima possibilidade de sucesso. O isolamento social impactou toda a dinâmica de trabalho. As companhias que não oferecerem um novo formato, mais flexível em todos os níveis, terão problemas. Recomendo também a adequação dos espaços. Escritório frios, que pouco lembrem o aconchego das nossas casas, não serão atrativos. Temos que preparar o local para um cenário de recomeço.
3 Nova política de horário: uma das maiores reclamações da pandemia foi o excesso de trabalho. Ficamos conectados praticamente 24 horas por dia, sete dias na semana. Esse excesso deve ser um dos pontos a serem mais cuidados nesse planejamento de retomada, a fim de proporcionar o tão desejado equilíbrio entre questões profissionais e pessoais. Recomendo fortemente a criação de uma nova política de horários, além de programas de bem-estar que ajudem os colaboradores nesse processo.
4 Novas estratégias de salários e benefícios: em meus anos de experiência como recrutador, conheci muitas empresas que ofereciam planos de benefícios engessados, com diferenças enormes de acordo com os cargos. A aposta agora é outra. Tenho notado muitos players recém-chegados no mercado que adotam políticas inspiradoras, como a concessão de bônus de faixas igualitárias dentre todos os membros da empresa, além da permissão para que os benefícios sejam utilizados de acordo com a preferência de cada um, e não mais como "vales". A tendência é a adoção de um cartão com todos os benefícios integrados e o colaborador com autonomia para usá-los como quiser.
5 Trilhas de carreira: o desenvolvimento profissional também não será mais como antes. Com o conceito de trabalho "anywhere", as empresas precisarão entender os perfis e preferências de cada colaborador e desenvolver trilhas de carreira remotas, presenciais e híbridas tanto para os níveis operacionais quanto táticos e estratégicos. A jornada de cada um dentro da empresa será muito particular e olharemos para o individual em prol do coletivo.
Na prática, o grande segredo dessa volta será o equilíbrio. Algumas pessoas foram mais impactadas pela pandemia do que outras e as empresas precisarão ter sabedoria para lidar com essas particularidades. A comunicação clara será fundamental para esse recomeço. O melhor para todo mundo será sempre o que é melhor para cada um.
Diego Barbosa é gerente da Yoctoo e formado em Administração de Empresas. Possui sete anos de experiência no recrutamento para áreas de tecnologia. Além disso, tem vasto conhecimento na contratação de talentos em toda a América Latina.
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