São recorrentes as notícias sobre roubos, furtos e assaltos em shopping centers em todo o Brasil. Se antes o alvo eram as joalherias, hoje são as lojas de telefonia, caixas eletrônicos e clientes em estacionamentos. E, amanhã, outros estabelecimentos ilustrarão as capas dos jornais. Os crimes se modificam e modernizam, principalmente, com o avanço das tecnologias. Da mesma forma, a segurança deve ser testada e revisada continuamente, para combater a violência, assegurar vidas e a saúde dos negócios.
De acordo com levantamento do Instituto de Segurança Pública (ISP), obtido via Lei de Acesso à Informação, somente no Rio de Janeiro foram registrados, entre janeiro e abril do ano passado, 70 roubos em shoppings centers, quase uma ocorrência a cada 40 horas, aproximadamente. A título de comparação, no mesmo período de 2016 ocorreram 36 casos. Em um ano, o índice praticamente dobrou, refletindo uma alta de 94%. Ademais, os shoppings cariocas foram palco de 554 furtos só no primeiro quadrimestre do ano passado, algo em torno de cinco ações por dia.
E não é só nos shoppings do Rio de Janeiro que o número de roubos vêm aumentando. Já se constata crescimento de incidentes também em São Paulo e no Espírito Santo. Engana-se quem pensa que tais fatos não geram impactos nas vendas. Além das perdas com roubos e furtos, é inevitável que muitas pessoas deixem de fazer compras em shoppings, pelo fato de estes não oferecerem mais segurança, um dos principais motivos para a escolha desse tipo de estabelecimento.
Diante desse cenário, que tem tirado a tranquilidade dos lojistas e visitantes, é imprescindível que as soluções e os recursos de segurança em shoppings sejam revisados continuamente, com o intuito de prevenir novos e potenciais riscos. E não basta apenas investir em tecnologia de ponta e na contratação de pessoal, pois um projeto efetivo de segurança prevê mais do que isso. É necessária toda uma estruturada baseada em três pilares fundamentais: (i) Identificação de vulnerabilidades e análise de riscos; (ii) Elaboração e implantação do modelo de segurança; (iii) Gestão e ciclos de auditoria.
Ao longo dessas etapas, são realizadas uma série de ações, que vão desde a criação da política de segurança e avaliação dos profissionais contratados até o posicionamento dos equipamentos eletrônicos, como câmeras e sensores, adequação da central de monitoramento, treinamento da equipe e verificação contínua de tudo o que foi implantado.
Ocorre que, por vezes, o shopping até elabora o projeto, mas continua sendo palco de novos crimes, devido a equívocos durante a implementação e a manutenção dos recursos de segurança, levando à perda de clientes e lojistas. Isso porque para a segurança operar de forma eficiente neste tipo de estabelecimento, em que há alta circulação de pessoas e dinheiro, é imprescindível a realização da melhoria contínua dos processos e soluções, por meio de auditorias especializadas. Isso significa o investimento em atividades periódicas que têm como objetivo verificar constantemente se o projeto de segurança está sendo seguido da maneira como foi concebido, bem como identificar novos riscos às pessoas e ao negócio, e preveni-los.
Em tempos em que a criminalidade vem crescendo exponencialmente e modificando os hábitos dos brasileiros, não há diferenciação entre shoppings de pequeno, médio ou grande porte. Por isso, fazer a gestão efetiva da segurança é uma prática de mercado obrigatória que, mais do que garantir vantagem competitiva, é essencial para proteger as milhares de pessoas que compram diariamente nesses estabelecimentos.
Vale ressaltar que o projeto pode ser estruturado com base no porte e na capacidade de investimento, contudo, independentemente do tamanho, algumas atividades são essenciais para a efetividade do trabalho e, em muitos casos, têm passado desapercebidas pelos gestores ou são realizadas apenas no momento da implantação. São elas:
. Diagnóstico de riscos: de extrema importância, ele deve ser revisado regularmente, com foco nos riscos inerentes aos shoppings e naqueles não identificados anteriormente, que podem vir a surgir, inclusive, com o avanço das tecnologias. Esse é o caso, por exemplo, dos monitoramentos em redes sociais, que permitem verificar a ocorrência de eventos ocasionais, que se não forem tratados de forma eficiente podem se transformar em "crise", como os "rolêzinhos" nos últimos anos.
. Treinamentos das equipes e agentes de segurança: o objetivo é prepará-los para identificar sinais suspeitos e atualizá-los com relação às principais tendências do setor;
. Ciclos de auditoria: verificação in loco do projeto de segurança, por meio de checklist disponível em dispositivos móveis, em que são analisados, entre outros, os procedimentos de rotina, documentação, ações de emergência realizadas pela equipe de vigilância, além de testes de funcionamento das tecnologias. As informações coletadas são consolidadas em um painel de indicadores online, para elaboração de Plano de Ação e adequação das falhas levantadas.
Lembre-se: os projetos de segurança não são estáticos. Na mesma velocidade em que as ações criminosas mudam, é preciso gerir e avaliar constantemente a segurança dos shoppings, preparar os agentes e estar pronto para atuar em qualquer ocasião.
Alexandre Vila Nova é gerente de projetos da ICTS Security, consultoria e gerenciamento de operações em segurança, de origem israelense