É errado pensar que acessibilidade atende apenas os interesses dos deficientes físicos. Em uma sociedade que envelhece cada vez mais, seria um pouco ingênuo pensarmos que a adaptação dos condomínios e cidades onde vivemos servirá apenas para um número pequeno da população.
Se pensarmos apenas em estatísticas é importante dizer que o Censo do IBGE de 2000 14% da população se declarava ter alguma deficiência física, seja visual, auditiva, motora, mental e/ou intelectual. O mesmo estudo, realizado dez anos depois, aponta que no Brasil existiam cerca de 45 milhões de pessoas com deficiência, ou seja, demonstra que cerca de 24% da população brasileira se declara com alguma deficiência. Observe que o número só aumenta.
Mas a acessibilidade não atende apenas aos deficientes físicos. Acessibilidade vai muito além! Tornar algo acessível é possibilitar o uso democrático do espaço por todas as pessoas. É possibilitar o uso igualitário de ambientes e equipamentos, sendo pessoas com mobilidade reduzida de forma definitiva ou temporária, ou não.
Basta olhar um pouquinho para nosso bairro. Observe a quantidade de crianças, elas precisam alcançar o corrimão para utilizarem a escada com segurança. Os idosos ficam naturalmente com o passo mais lento, eles precisam de uma travessia de pedestre com tempo maior de parada para os veículos. Os obesos também gostam de ir ao cinema, e como todos, eles precisam de cadeiras que lhes dê conforto para apreciarem o filme.
As gestantes querem circular sem ter que ficar se espremendo, elas precisam de circulações mais espaçosas. Isto sem falar naquelas pessoas que fraturaram algum membro e ficam engessadas por algum tempo, estas, com certeza precisam continuar suas tarefas diárias, indo e vindo. Enfim estas são algumas razões que nos obrigam a pensar que um ambiente pode e deve ser vivenciado por todos.
Quanto à mobilidade urbana, cabe aos nossos governantes investirem em políticas públicas que possibilite este vivenciar a cidade por todos, mas cabe a nós tornarmos os nossos espaços privados mais democráticos no direito ao uso. Cabe aos responsáveis legais de um condomínio, por exemplo, preocuparem-se em tornar seus prédios mais seguros e acessíveis para todos os moradores.
Acessibilidade vai além de eliminar ou diminuir obstáculos. Algumas medidas serão bastante simples outras vão necessitar do acompanhamento de um profissional especializado, mas sempre haverá como melhorar. Por exemplo, um capacho colocado na entrada do hall pode ser um grande obstáculo para o cadeirante e, sem dúvida, é o motivo de queda de muitos idosos. Veja, como solução mais simples: remoção do capacho. Mas dentro do coletivo existem pessoas que podem entender que o capacho é indispensável na entrada de um hall. Ainda com solução simples: embutir o capacho no piso. Todos passarão por ele de forma segura e autônoma.
Já para a execução de uma rampa, recomenda-se um profissional especializado, pois não basta "fazer uma rampa em um trecho da escada". Apesar de uma boa intenção, a largura e a inclinação da rampa são fundamentais para poder ser utilizada com autonomia e segurança, e aí, somente o profissional especializado poderá orientar a melhor forma da adaptação. Existem normativas para isso e devem ser respeitadas.
Acessibilidade cada vez mais será um problema de todos nós, comece a pensar nela agora!
Vanessa Pacola é Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Guarulhos (UnG). Pós-graduada em Perícias de Engenharia e Avaliações de Imóveis pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Termografista nível 1. Coordenadora da Câmara de Inspeção Predial do IBAPE/SP Biênios (2012 - 2013) (2014 - 2015). Colaboradora de comissões de certificações de construtoras e da ABNT. Responsável pela coordenação e elaboração das Cartilhas "Inspeção predial: A saúde dos edifícios", "Inspeção predial: Prevenção e combate a incêndios", "Inspeção Predial: Acessibilidade", Inspeção Predial: Mecanização" e "Inspeção Predial: Equipamentos e Espaços de Lazer". Responsável pela coordenação da 3ª. revisão do Livro de Inspeção Predial do IBAPE/SP (2012). Relatora da 3ª. Revisão da Norma de Inspeção Predial do IBAPE/SP (2011). Especialista na área de Patologias e Terapias Básicas das Construções. Especialista em acessibilidade. Especialista em perícias relacionadas a plágio arquitetônico. Ministra cursos e palestras sobre Inspeções Prediais, vistoria de vizinhança e acessibilidade com enfoque em perícias. Sócia da Foco Consultoria.