Black Friday - Congresso 2025
 

Engenharia civil tem abismo entre graduação e mercado

Artigo defende a necessidade de capacitar os profissionais, produzir conhecimento científico e enfocar pesquisas nesse segmento

O Brasil vive uma recessão econômica há alguns anos e finalmente vemos sinais de que ela está próxima do fim. O setor da construção civil também esboça uma recuperação - ainda que discreta. Segundo o IBGE, o setor registrou crescimento de 0,5% entre o 4º trimestre de 2016 e o 1º trimestre de 2017. Nos últimos anos, a construção evoluiu consideravelmente em sua capacidade produtiva e os canteiros de obras se espalharam por todo território nacional, também impulsionado por programas federais e estaduais de habitação popular. Em 2014, a mão de obra na construção chegou a nove milhões de trabalhadores - um aumento de 2,5% em comparação a 2013, diz o Instituto.

Além da alta demanda profissional, o número de matrículas nos cursos de graduação em Engenharia no país também aumentou. Segundo dados do último Censo da Educação Superior, divulgado pelo MEC em setembro do ano passado, o curso de Engenharia Civil figurou como o quinto mais procurado - considerando o número de matrículas. Os dados referem-se ao ano de 2014, quando foram registradas mais de 317 mil matrículas para essa graduação.

Contrapondo a boa repercussão no âmbito acadêmico, construtoras e outras empresas do segmento recebem profissionais demasiadamente "crus" para a realidade das obras. Ainda que possuam boa formação, em geral, se tornam engenheiros abaixo das expectativas.

Trata-se de uma carência de conhecimento prático que deveria ser suprida pelos estágios durante o curso. O fato é que a crise gerou demissões em grande escala e nesse escopo incluem-se os estagiários. Embora eles sejam a primeira opção nas demissões - em razão dos encargos trabalhistas - a essência do trabalho do engenheiro está diretamente ligada ao aprendizado em campo e na absorção de conhecimento com profissionais mais experientes.

Em uma observação simples e informal, analisando meus alunos de engenharia em 2010, cerca de 80% estagiavam em alguma empresa do setor. Hoje, esse número caiu para 15% e são esses que se destacam em desempenho e comportamento. Parece clichê afirmar que aquele que faz estágio durante a graduação se torna um profissional melhor, porém, quando se trata de engenheiros, isso é latente e impacta diretamente na qualidade do que esses profissionais têm produzido no mercado depois de formados.

Além da carência de estágios no setor, outro ponto conflitante é a qualidade dos cursos e das universidades de engenharia. Segundo o ranking da QS Top Universities, das 50 melhores faculdades de engenharia do mundo em 2016, nenhuma está no Brasil. Há uma necessidade de produzirmos conhecimento científico e enfocar pesquisas nesse segmento. Avançamos em áreas como a exploração de Petróleo em águas profundas, porém, ainda engatinhamos em outras - principalmente na construção civil.

Segundo o Conceito Preliminar de Curso (CPC), escala de 1 a 5 aferida pelo INEP, no ano de 2014, apenas duas universidades brasileiras atingiram o conceito máximo de qualidade (conceito 5) em engenharia civil e isso é preocupante.

Precisamos pensar nesse abismo entre o que se aprende nas faculdades e no que realmente o mercado busca. Se a intenção é preparar profissionais capacitados e alinhados com empreendimentos de portes variados e com visão global do projeto, é fundamental que existam projetos que permitam a integração das esferas acadêmica e profissional, com recorte mais prático e de vivência - assim como são as residências médicas.

Também é fato que o estágio no curso de engenharia é obrigatório, porém, com a redução das vagas no mercado de trabalho, fica a dúvida: como estes profissionais estão se formando sem os estágios obrigatórios? Será o famoso "jeitinho brasileiro" o responsável pelos relatórios de estágios que corroboram para a aprovação destes profissionais? Aliado a estes fatores temos a evasão após início do curso, já que cerca de 40% dos estudantes de engenharia não concluem o curso.

A realidade é essa, mas precisa mudar. O Brasil carece de mão de obra em número e qualidade e precisamos assumir isso. O SindusCon-SP tem se comprometido com o fomento dessa interação entre os dois mundos, incentivando a participação de universidades em eventos que reúnem o mercado da construção civil. Além disso, o sindicato está sempre aberto para novas parcerias e projetos que fomentem a inserção do estudante de engenharia no mercado de trabalho, durante a sua vida acadêmica.

Márcio Benvenutti é engenheiro civil e empresário do setor da construção. Professor universitário com mestrado em geotecnia, também é diretor da regional do SindusCon-SP em Campinas, São Paulo

Envie os nossos conteúdos por e-mail. Utilize o formulário abaixo e compartilhe os link deste conteúdo com outros profissionais. Aproveite e escreve uma mensagem bacana.

Faça uma busca

Mais lidas da semana

Workplace

Para coordenadora de Workplace da Blip, escritório materializa cultura

Conheça nova sede da empresa, que busca centralizar encontros e valorizar identidade da marca.

Carreira

Crescimento desordenado de FM: quais são as consequências?

Nos últimos 20 anos, formalização da área avançou, mas existe baixo investimento em qualificação profissional. Robson Quinello, especialista em Facility Management, fala sobre precarização e oportunidades do mercado.

Mercado

Entenda todos os benefícios de prédios com certificação LEED

Selo internacional pode fazer uma grande diferença.

UrbanFM

Inversão da pirâmide etária: nossas cidades estão preparadas?

Especialista em Gestão Urbana comenta aumento da longevidade e a queda das taxas de natalidade em artigo.

Sugestões da Redação

Revista InfraFM

Repensar a gestão das instalações de trabalho

Tendências inovadoras e sustentáveis se destacam na pesquisa da Aramark, que traz as transformações no Gerenciamento de Facilities em 2024.

Revista InfraFM

Maior encontro de FM da América Latina: do invisível ao indispensável

InfraFM realizou quatro encontros em evento único, com mais de 5,5 mil participantes.

Revista InfraFM

Insights das palestras do 19º Congresso InfraFM

Acompanhe um resumo das palestras e explore as inovações sustentáveis e estratégias avançadas no campo do Facilities Management.

Revista InfraFM

Inovações que transformam foram cases de sucesso dos expositores

Nas Arenas Soluções para FM, foram apresentados conteúdos com cases de sucesso dos expositores, que destacaram serviços, tecnologias e pessoas.

 
Dúvidas sobre os EVENTOS?
Fale com a nossa equipe pelo WhatsAPP