Black Friday - Congresso 2025
 

Por que a Lei da Individualização de Água não vingou?

Estima-se que dos 34 mil condomínios existentes na região metropolitana de São Paulo, apenas 8,8% tenham de fato implantado o sistema

Em março completaram-se oito meses em que foi sancionada pelo presidente Michel Temer a Lei 13.312/2016, que obriga novos edifícios a adotarem hidrômetros individuais para medir o consumo de água por apartamento no prazo de cinco anos. A lei tem origem no projeto de lei (PLS) 444/2011, de autoria do senador Antonio Carlos Valadares. Na justificativa do projeto, ele explicou que o atual modelo de rateio do serviço é injusto para moradores com consumo baixo de água. Ele também destacava que a adoção dos hidrômetros individuais poderia gerar economia de recursos hídricos, a exemplo do que ocorre na França, que tem obtido reduções no consumo da ordem de 25%.

A Lei é indiscutivelmente um avanço na esfera da gestão de recursos hídricos, já que ao individualizar o consumo, estimula-se uma maior conscientização sobre o quanto se gasta e como se utiliza a água no dia a dia, dado que escapa da maioria das pessoas no caso do rateio coletivo. Contudo, percebe-se claramente que pouca coisa mudou nesse quase um ano desde sua sanção. Estima-se, por exemplo, que dos 34 mil condomínios existentes na região metropolitana de São Paulo, apenas 3 mil, ou 8,8%, tenham de fato implantado medidores individuais, ou seja, a adesão média de 350 condomínios por ano que havia antes da Lei, na prática, se manteve.

A bem da verdade, a situação pós-Lei da individualização da água piorou. Se nos detivermos apenas na questão financeira, veremos que a conta da água nos condomínios está pesando mais. De novo usando como exemplo a maior cidade do país, com o fim da sobretaxa e do bônus nas contas de água e esgoto da Sabesp, além do reajuste nas tarifas em 2016, as despesas dos condomínios da capital paulista aumentaram 25,35% em 12 meses. Segundo dados da AABIC (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo), em novembro passado, o gasto médio por prédio chegou a R$ 3.296, ante R$ 2.629 em igual mês de 2015. A participação dessa despesa na conta total passou de 6,53% para 7,35% em 12 meses.

Mas, afinal, por que a Lei tem se mostrado pouco útil para promover mudanças no comportamento das concessionárias, das construtoras e dos próprios consumidores? O simples fato de não deixar claro quem vai pagar a conta e quem deve se responsabilizar pela individualização ou mesmo como deverá ser implementada já é um grande desmotivador. Não bastante essa ausência de 'donos' e 'ônus' para os atores envolvidos (necessário inclusive definir quem são os atores), a Lei não discrimina sequer um padrão para a individualização, não há um critério definido para os tipos de medidores que podem ser aceitos ou mesmo para o local onde esses medidores devem ser instalados, se dentro ou fora dos apartamentos.

Uma outra questão que fica no ar é como deve ser a entrega dos dados de consumo para os moradores. O ideal é que as leituras sejam horárias ou, pelo menos, diárias, de modo que as pessoas possam tomar providências na ocorrência de vazamentos a tempo, por exemplo. 

O que se percebe, enfim, é que há uma necessidade urgente de complementariedade à Lei 13.312/2016 para que, de fato, ela surta os efeitos que se espera dela. É preciso harmonizar as necessidades tanto das concessionárias, quanto das construtoras e consumidores. É fundamental ter como norte a necessidade urgente de fazer frente a uma questão que afeta a vida no planeta, a despeito de todo e qualquer interesse individual.


Mauricio Catelli, sócio da CAS Tecnologia, empresa do mercado de utilities presente em mais de 300 condomínios com a sua tecnologia de medição individualizada, somando mais de 50 mil pontos em São Paulo e no Rio de Janeiro. www.castecnologia.com.br

Envie os nossos conteúdos por e-mail. Utilize o formulário abaixo e compartilhe os link deste conteúdo com outros profissionais. Aproveite e escreve uma mensagem bacana.

Faça uma busca

Mais lidas da semana

Workplace

Para coordenadora de Workplace da Blip, escritório materializa cultura

Conheça nova sede da empresa, que busca centralizar encontros e valorizar identidade da marca.

Carreira

Crescimento desordenado de FM: quais são as consequências?

Nos últimos 20 anos, formalização da área avançou, mas existe baixo investimento em qualificação profissional. Robson Quinello, especialista em Facility Management, fala sobre precarização e oportunidades do mercado.

Mercado

Entenda todos os benefícios de prédios com certificação LEED

Selo internacional pode fazer uma grande diferença.

UrbanFM

Inversão da pirâmide etária: nossas cidades estão preparadas?

Especialista em Gestão Urbana comenta aumento da longevidade e a queda das taxas de natalidade em artigo.

Sugestões da Redação

Revista InfraFM

Repensar a gestão das instalações de trabalho

Tendências inovadoras e sustentáveis se destacam na pesquisa da Aramark, que traz as transformações no Gerenciamento de Facilities em 2024.

Revista InfraFM

Maior encontro de FM da América Latina: do invisível ao indispensável

InfraFM realizou quatro encontros em evento único, com mais de 5,5 mil participantes.

Revista InfraFM

Insights das palestras do 19º Congresso InfraFM

Acompanhe um resumo das palestras e explore as inovações sustentáveis e estratégias avançadas no campo do Facilities Management.

Revista InfraFM

Inovações que transformam foram cases de sucesso dos expositores

Nas Arenas Soluções para FM, foram apresentados conteúdos com cases de sucesso dos expositores, que destacaram serviços, tecnologias e pessoas.

 
Dúvidas sobre os EVENTOS?
Fale com a nossa equipe pelo WhatsAPP