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Crescimento desordenado de FM: quais são as consequências?

Nos últimos 20 anos, formalização da área avançou, mas existe baixo investimento em qualificação profissional. Robson Quinello, especialista em Facility Management, fala sobre precarização e oportunidades do mercado.

Por Natalia Gonçalves

Crescimento desordenado de FM: quais são as consequências?


Se houvesse uma régua para medir o avanço de Facility Management (FM) em termos de regularização, reconhecimento e consolidação, pouco mais da metade do caminho foi percorrido nos últimos 20 anos. No entanto, o desafio aumentou. De acordo com Robson Quinello, professor de pós-graduação na MBA - Gestão de Facilities do SENAI - Vila Mariana, “a subida agora ficou mais íngreme”.

O processo para formalizar uma profissão, como explica Quinello, é complexo. No Brasil, um país continental, a formalização envolve a academia, as associações, o mercado, as normas, os comitês, os congressos, o governo e os profissionais. Apesar da nova CBO 1421-40, Quinello observa que o mercado ainda precisa ajustar melhor as descrições de cargos, funções e salários.

Por outro lado, existe espaço para a academia intensificar o desenvolvimento de cursos e pesquisas sobre o setor. “No Brasil, temos uma situação peculiar na formação em FM: como não existem cursos técnicos ou graduações específicas, o mercado acabou se “ajeitando”’, destaca Quinello. Assim, existem cursos livres de curta duração e pós-graduações, mas a área de FM necessita da união da teoria e da prática.

Outro ponto importante, segundo o professor, é a baixa contribuição bibliográfica sobre vivências e experiências em Facility Management. As publicações acadêmicas nacionais na área ainda são raras. No entanto, Quinello acredita que o futuro é promissor, com graduações, mestrados e até doutorados para Facility Managers no Brasil.


Pesquisa sobre formalização do Facilities Management no Brasil

Como professor de MBA em Gestão de Facilities no Senai São Paulo, Robson Quinello organizou uma pesquisa intitulada “Formalização do Facilities Management no Brasil”. Embora o estudo esteja em fase de processamento dos dados, ele foi respondido por 92 profissionais com experiência no mercado. A taxa de respostas neutras, contudo, causaram estranhamento a Quinello.

A falta de assertividade, para o professor, pode ser uma consequência do momento de incerteza sobre a força e a velocidade com que FM vai ser consolidar nos próximos anos. “Estamos diante de duas opções: ou continuamos ignorando esses sinais, ou quebramos esse ciclo e partimos para algo verdadeiramente disruptivo. Eu, pessoalmente, aposto na ruptura! Porém, para que isso ocorra, precisamos de uma massa crítica maior. Talvez estejamos justamente no meio desse processo de mudança”, supõe Quinello.

Nos últimos 30 anos, entre a sala de aula e o mundo corporativo, ele entende “que as duas dimensões” complementam-se. A teoria ensina os processos, enquanto a prática valida. No mundo corporativo, existe uma pressão para resultados imediatos. Na academia, as ideias precisam de tempo para amadurecer.

Segundo Quinello, para o profissional de Facility Management entrar na academia é necessário “furar a bolha”, pois o espaço ainda é pequeno e não existem incentivos para esse outro caminho. “Eu, por exemplo, na MBA SENAI de FM, onde leciono, sempre faço uma pergunta para os alunos: ‘Quem aqui pensa em dar aula no futuro?’ Quase ninguém levanta a mão, no máximo um ou dois!”, ressalta.


Conselhos para quem está começando em FM

Apesar de não acreditar em uma receita sobre carreiras, pois existem diferentes labirintos a percorrer profissionalmente, Quinello compartilha duas estratégias para quem está começando na área de Facility Management:

- Carreira lateral: No mundo corporativo de FM, o professor acredita na “carreira lateral”. Isto é, nem sempre existe espaço para todo mundo no topo, então o foco não precisa ser “chegar lá”. Afinal, para Quinello, o preço do topo pode não valer a pena: “Sucesso, na minha visão, é mais sobre reputação do que posição. Por isso, é bom sempre se perguntar se você está transitando entre as dimensões hard e soft, porque FM é a combinação dessas duas. E, se perceber que a empresa onde está não reflete seus valores, não se force a ficar”.

- Mundo acadêmico: “Ninguém vai te dizer que você também pode fazer parte desse mundo [acadêmico]”, afirma o professor. Durante a graduação, em uma conversa informal com um professor de estatística, ele recebeu o primeiro incentivo para ser mestre. A perspectiva de doutorado também surgiu a partir de uma conversa na faculdade.

“Se você tiver interesse, vale a pena explorar não só pós-graduações lato sensu, mas também mestrados e doutorados que façam sentido para você. Dá até para começar como aluno ouvinte ou especial, sempre tem vagas assim. E o mais importante: faça a conexão entre os dois mundos! Não se prenda ao corporativo, nem se deslumbre com o acadêmico. Equilibrar esses dois lados é fundamental!”, completa Quinello.


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