Por Léa Lobo
Discutir a eficácia do trabalho remoto já está ficando obsoleto. As empresas entenderam o recado dos funcionários e agora buscam formas de garantir a produtividade dentro da nova realidade, que promove principalmente mais qualidade de vida. Para empreendimentos que absorveram os benefícios e optaram pelo remote-first, conceito que assume o trabalho remoto como a principal opção para os funcionários, meios saudáveis de garantir rapidez nos processos estão no uso de ferramentas de comunicação assíncronas.
A BigDataCorp, maior empresa de dados da América Latina, já nasceu remota. Quando veio a pandemia, além de manter o home office, a empresa de tecnologia ampliou o quadro de funcionários por competência e não localização geográfica. Completando 10 anos em 2023, e com mais de 150 colaboradores espalhados pelo mundo, a experiência permitiu que desenvolvessem meios para garantir produtividade entre os colaboradores. Segundo o CEO da empresa, Thoran Rodrigues, “acompanhamos as dúvidas da cultura do presencial, com trocas de ideias e contrapontos, mas a discussão já seguiu para um novo patamar e estimamos que a comunicação assíncrona é parte fundamental das soluções. Muito do que fazemos no remoto, começamos a falar em 2016, por isso observamos e já vivemos as mudanças”, destaca.
Durante o pico da pandemia, em que milhões de trabalhadores ficaram em home office, o uso de vídeo chamadas por aplicativos aumentou em até 70%. Thoran acredita que após um primeiro impacto das emergências, as transformações já viraram parte da normalidade. “Não só acredito que o modelo de trabalho remoto veio para ficar, mas vejo hoje uma pauta de mudanças na cultura empresarial, um processo e um discurso que vai culminar na ampla adoção dessa forma de trabalhar”, pontua.
Entre as vantagens apontadas da comunicação assíncrona, seja através de emails, whatsapp ou ferramentas internas, está a produtividade, afinal, sem pausas o profissional terá mais foco com menos interrupções “Com os processos organizados, os funcionários, na verdade, se tornaram ainda mais produtivos e a utilização das ferramentas assíncronas fizeram parte dessas mudanças”, conclui.
Em encontros com outras empresas, o CEO observa ainda algumas resistências ao modelo remoto e preocupações com o quiet quitting ou mesmo com funcionários que trabalham em dois empregos. O jovem empreendedor explica que sempre utilizaram a estratégia de gestão por tarefas. “No final das contas é uma questão de confiança e entregas e não de controle. Cheguei a ouvir soluções como, monitorar o trabalho através de um software que tiraria fotos, em horários aleatórios, para saber se a pessoa estaria em frente ao computador e, até mesmo, se está feliz. Tenho certeza que, se colocasse isso na BigDataCorp, boa parte das pessoas trocaria de emprego. No fundo, é sobre tratar as pessoas como adultos funcionais. Partimos do pressuposto de que todos são responsáveis e comprometidos. Mostramos que se a pessoa não realizar as entregas, haverá consequências para ela e para a empresa como um todo. Se uma pessoa consegue fazer todas as entregas com qualidade e ainda tem tempo para ter um segundo emprego, quem sou eu para dizer que ela não pode?”, ressalta.
A empresa de dados, que sempre optou por gerenciar o trabalho com um foco em entregas, foge dos modelos e metodologias tradicionais, buscando alocar tarefas de acordo com a realidade e com expectativas reais. “Não temos a pretensão de controlar ninguém. O objetivo da gestão por tarefas é que as pessoas aprendam quanto tempo elas levam para fazer as coisas e, desta forma, possam estimar de forma efetiva os prazos.” E acrescenta que na BigDataCorp o próprio funcionário sugere quanto tempo vai levar para finalizar suas tarefas.
“Sempre tivemos também a disciplina de entender que as pessoas não passam 100% do tempo trabalhando, isso é impossível. Alocamos no máximo 60 ou 70% do tempo. Se eu preciso de 200 horas de trabalho, não são cinco pessoas trabalhando 40 horas por semana, na verdade são sete ou oito pessoas, porque levamos em consideração interrupções, tarefas que “furam a fila”, e outras coisas que acontecem no dia-a-dia”, explica.
O CEO destaca que hoje a empresa conta com funcionários trabalhando em todos os lugares do mundo. No início da pandemia, a maioria estava no Rio de Janeiro, e alguns em São Paulo - já em um modelo remoto. “Nosso CTO, por exemplo, sempre esteve em São Paulo. Uma vez a cada dois meses estava no Rio de Janeiro. Outros colaboradores já apresentavam essa característica. Durante a pandemia alguns se mudaram para outros Estados e países. Hoje temos pessoas na Europa, nos EUA e passamos a contratar pessoas independentemente de onde moram”, conta.
Thoran destaca que não há fórmula certa. Por isso, cada empresa deve se adequar à sua própria realidade. “Aqui na BigDataCorp, sempre pensamos no equilíbrio da operação. A busca por qualidade de vida aos colaboradores implica na divisão de responsabilidades por todas as partes. Para nós, tem dado certo e os colaboradores se sentem parte e reconhecem e respeitam nossos valores, mesmo que à distância”, pontua.
Para os colaboradores, sem dúvida, o trabalho remoto é a preferência da maioria. Muitos apontam, entre os benefícios, mais tempo com animais de estimação e para se exercitar, reforçando a ideia de qualidade de vida que impacta naturalmente na produtividade. Há 7 meses efetivada na BigDataCorp, Gabriela Cunha, analista de parcerias, conta que a seleção aconteceu durante o processo de mudança para os Estados Unidos.
“Fiquei receosa de que isso poderia ser um ponto negativo. Mas fui contratada por uma empresa que é remote-first e que me proporciona usufruir de benefícios, mesmo que à distância. Que se preocupa com o meu bem-estar, assim como de qualquer outra pessoa colaboradora que esteja no Brasil. Fico confortável em ajustar minha agenda quando necessário, devido ao fuso horário ou algum evento específico, e assim consigo organizar minha vida para ter produtividade e entregar valor no trabalho e, também, alcançar minhas metas pessoais”, finaliza.