Por Léa Lobo

Foto: Divulgação

O BH Airport é o único aeroporto internacional de Minas Gerais, com localização estratégica e um dos principais hubs do país que atende a cerca de 50 destinos nacionais e internacionais nos traz os desafios na gestão de um projeto brownfield. Desde 2014, o terminal é administrado por uma concessão, formada pelo Grupo CCR, uma das maiores companhias de concessão de infraestrutura da América Latina, e por Zurich Airport, operador do Aeroporto de Zurich, o principal hub aéreo da Suíça e considerado um dos melhores aeroportos do mundo, além da Infraero, estatal com experiência de mais de 40 anos na gestão de aeroportos no Brasil.  Hoje, o aeroporto conta com 26 pontes de embarque divididas entre os terminais de passageiros 1 e 2. Dos portões 1 ao 16, todos fazem parte do Terminal de Passageiros 1. Do 17 em diante compõem o Terminal de Passageiros 2. Com uma infraestrutura moderna, ele foi concluído em 2016 e oferece conforto e comodidade aos passageiros.

Quem nos conta sobre o projeto brownfield é Emerson Chaves, Coordenador de Desenvolvimento Aeroportuário. Natural de Belo Horizonte, o Engenheiro está atualmente trabalhando em Gerenciamento de Projetos e Utilities no BH Airport. É bacharel em Engenharia Elétrica, com MBA em Gestão de Negócios, MBA em Gestão de Projetos e Especialização em Gestão de Projetos Complexos pela Universidade de Cambridge. O gestor possui larga experiência em gerenciamento de projetos de infraestrutura, obtido nos setores automotivo, de energia, ferroviário e aeroportuário.

Segundo Chaves toda a etapa do projeto desde a fase conceitual, programa de necessidades, estudos de faseamento, demandou aproximadamente 12 meses, sendo que o tempo estimado de obras, considerando todas as fases é de aproximadamente 18 meses. O projeto prevê a reforma e modernização de todo o antigo terminal de passageiros, incluindo saguão, instalações sanitárias, sala de embarque, ampliação de espaços para áreas comerciais etc.

Para a execução dos projetos Multidisciplinares, o sponsor teve a parceria do Consórcio Setec & Fernandes Arquitetos Associados e a execução das obras pela Racional Engenharia.

Equipe Interna e Fornecedores Parceiros
Considerando a existência de uma “engenharia proprietária” responsável pela gestão e condução do projeto, os desafios surgem a partir da composição desta própria equipe do projeto bem como da seleção dos fornecedores e prestadores de serviços especializados de arquitetura e engenharias multidisciplinares. Para a equipe própria de Engenharia Aeroportuária além de conhecimento técnico relacionado às variadas disciplinas, é essencial o desenvolvimento de algumas “soft skills” dentro do próprio time, pois, é preciso estar preparado para um ambiente onde todas as ideias iniciais devem ser consideradas possíveis e exequíveis, saber lidar com expectativas e ter a sapiência para traduzir em termos técnicos as necessidades e desejos externados por todos os stakeholders. Da mesma forma, os fornecedores parceiros precisam além da competência técnica, terem a habilidade para aplicar as soluções de arquitetura e engenharias observadas as particularidades das instalações, uma vez que apesar de serem ambientes altamente regulados, todo aeroporto possui sua particularidade e a forma como quer ser reconhecido pelas pessoas que por ele transitam.

A Importância da Consolidação de um Programa de Necessidades do Projeto
Todo início de projeto passa pela etapa de Coleta de Requisitos Técnicos e Premissas bem como pela consolidação de um Programa de Necessidades. Para este projeto especificamente a consolidação deste programa só foi possível após a entrevista específica com cada um dos stakeholders. Foram centenas de horas de entrevistas buscando entender as expectativas e necessidades de cada uma das partes relacionadas, tais como órgãos públicos, equipes comerciais, equipes de operação e segurança aeroportuária, equipes de manutenção, limpeza e conservação, membros das companhias aéreas, dentre outras várias. E claro, além das expectativas relacionadas às questões técnicas e operacionais, grande parte das expectativas foram coletadas com o público externo, ou seja, os passageiros, acompanhantes e visitantes do Aeroporto Internacional de Belo Horizonte. Todas estas coletas iniciais são fundamentais para que os fornecedores parceiros desenvolvedores dos projetos possam direcionar seus esforços de forma a traduzir para documentação técnica de engenharia e arquitetura tudo o que se espera para o projeto.

Os Desafios para um Projeto Bronwfield
Um projeto de reforma de um terminal aeroportuário de passageiros, definitivamente não é uma tarefa simples, ainda mais quando falamos de uma edificação de aproximadamente 80.000 metros quadrados projetada e construída há 40 anos. Desde então, muitas modificações normativas técnicas ocorreram, inúmeras evoluções tecnológicas surgiram, novas regulamentações governamentais foram publicadas e tudo isso precisa ser incorporado e integrado de forma harmoniosa a um único projeto.

É possível citar como principais desafios para este projeto a compatibilização multidisciplinar e a alteração de finalidade de uso dos espaços, modificando completamente as características originalmente atribuídas a cada um deles. Questões relacionadas a necessidade de ampliação de espaços de construção para passagem de redes primárias de utilidades, necessidades de reforços estruturais para acomodar as novas cargas exigidas das estruturas de concreto armado existentes e adaptação de antigos espaços para conversão em novas áreas de exploração comercial podem ser destacados como alguns dos principais desafios.

Adicionalmente, todas as soluções de engenharia devem ser pensadas e projetadas para permitir que a etapa de execução ocorra com o menor impacto possível aos ocupantes das edificações, e em algumas ocasiões, faz-se necessário ainda a criação de projetos de estruturas e espaços temporários para que as instalações definitivas possam ser viabilizadas. Para todas estas particularidades, é essencial que a abordagem seja trazida ainda na etapa de projeto e engenharia, que por sua vez é capaz de produzir toda a proposta de sequenciamento da execução e entregá-la de forma mais clara para o fornecedor responsável pela execução das obras.

No caso específico do projeto de reforma e modernização do terminal de passageiros, todas as disciplinas foram desenvolvidas e todas as soluções de engenharia foram pensadas para que nenhuma atividade operacional fosse interrompida. Soluções como construção de shafts, espaços de construção e salas técnicas em redundância permitiram literalmente “trocar a turbina do avião” com ele em pleno voo de cruzeiro.

Auxílio da Tecnologia e Modelagem BIM
A utilização das ferramentas relacionadas a manipulação dos projetos multidisciplinares modelados em BIM, apoiaram consideravelmente na análise de conflitos técnicos com integração de mais de 30 disciplinas bem como na antecipação de soluções que se fizeram necessárias para viabilização técnica do empreendimento. A condução das reuniões de trabalho e a explicação dos projetos para um público “não técnico” foram apoiadas enormemente pelos modelos e pelas possibilidades de navegação na modelagem, conseguindo trazer para este público uma assimilação mais ágil sobre as particularidades das soluções propostas, algo que se tornaria extremamente trabalhoso e demorado com a utilização do método convencional.

Aspectos Relacionados a Sustentabilidade
Como um dos pilares relacionados aos requisitos técnicos e premissas adotadas para este projeto, o Aeroporto Internacional de Belo Horizonte trabalhou fortemente as questões relacionadas a sustentabilidade. Várias tecnologias foram incorporadas a este projeto buscando conforto, eficiência operacional, aliados à sustentabilidade. Enormes fachadas de vidro foram preservadas com a adição de elementos brises para melhoria do conforto térmico sem prejuízo à iluminação natural, instalações sanitárias foram projetadas com a utilização de mictórios “ecológicos” e utilização de água de reuso para sistemas de descargas de bacias sanitárias, sistema de iluminação com tecnologia led e acionamentos remotos aliados a um Building Management System proporcionam o uso racional das instalações, equipamentos de climatização eficientes, dentre outras tecnologias e sistemas foram amplamente aplicadas ao projeto para termos uma edificação ambientalmente correta.

E finalmente, mesmo com todos os documentos técnicos multidisciplinares de engenharia finalizados e consolidados, para um projeto brownfield, a presença das equipes técnicas á postos para qualquer necessidade de ajustes ou novas soluções torna-se indispensável. Por mais detalhada e invasiva que tenha sido a etapa de levantamentos preliminares e coleta de informações, e mesmo com o emprego de alta tecnologia, algumas particularidades e especificidades somente serão evidentemente identificadas na etapa de execução. Obstáculos e desafios assim só serão superados com a construção de uma equipe e fornecedores unidos focados no mesmo objetivo e propósito, ou seja, entregar para os passageiros, acompanhantes e visitantes a melhor experiência em Aeroportos.