Por Emerson Smith (*)
São muitos anos trabalhando com times totalmente distintos, únicos e de diferentes níveis em muitos dos países da América Latina. Inicialmente, além de skills de gerenciamento pessoal e remoto, se faz necessária uma mentalidade totalmente aberta para entender cada cultura e respeitar cada indivíduo como este se apresenta.
Muitos países têm questões, requisições e leis locais que não se refletem na grande maioria das vezes. Isso se dá pela própria maneira de seu surgimento, sua geografia única, características da população e questões culturais que podem variar desde seu idioma, passando pela música, literatura, arte, gastronomia, política, sociedade e, finalmente, sua história.
A América Latina tem como característica, países em desenvolvimento constante, onde se pode encontrar uma riqueza cultural tremendamente importante e diferente entre um país e outro. Com isso dito, sendo brasileiro, falando português, com a cultura que temos, como seria gerenciar times em todos esses países? Não é tarefa fácil.
O primeiro passo é se estabelecer profissionalmente, buscando todos os skills gerenciais para poder estar apto a resolver questões a distância. A pandemia trouxe esse desenvolvimento a quase todos os gerentes, mas não podemos nos esquecer que também gerenciamos edificações, e apenas fisicamente se pode avaliar se estão em boas condições ou qual o status de algum projeto em desenvolvimento.
Se não podemos estar em todos os lugares e se não temos budget para viagens constantes, qual seria a saída? Montar o melhor time de FM localmente em cada país. Eles serão seus olhos e boca (atualmente teclado) e devem estar cientes que todos os problemas, assim como execuções, devem ser comunicados de imediato. Não se deve esperar que os problemas se tornem grandes demais para serem comunicados e a partir daí desenvolver algum plano de ação que poderia ser mais simples e menos urgente que antes. Devemos entender que teremos diferentes times em cada país, com tempos de resolução distintos e com backgrounds únicos.
Temos algumas diferenças culturais, mas respeito é sempre bem-vindo. Da mesma forma que brasileiros não gostam de ouvir que Buenos Aires é nossa capital ou que nossa língua seria o Espanhol, devemos entender que Colombianos não gostam de ouvir que seu país seja chamado de “Columbia”, ou como tratam a origem do drink “Pisco Sour” entre Peru e Chile. Respeito é importante e é admirado por todos.
Ter comunicação frequente com o time, se possível em diferentes níveis. Essa aproximação faz com que se possa ter na fonte, diferentes percepções que possam não vir do FM e ter uma visão mais estratégica e próxima do site. Isso também prepara o manager para que possa desenvolver seus skills considerando outros níveis de seu pessoal, assim como contato com provedores.
Claramente para se ter esse contato mais abrangente, com distintas estruturas e terceiros, se faz necessário o conhecimento da língua espanhola. Obviamente se pode ter um esforço de ambas as partes para que a comunicação seja feita de maneira mais direta e improvisada, mas ter o idioma Espanhol fluente é algo que se mostra essencial para uma função como essa, assim como o Inglês para o lado corporativo.
Estabelecer calls e vídeos chamadas frequentes é uma sugestão que proponho na relação próxima com as equipes. Não apenas chamadas de projetos em andamento, mas sim de revisão de toda a operação. Sugiro contato próximo com os FMers para que tratem de gerenciamento mais high level dos projetos e operações e calls frequentes com a equipe, abrindo espaço para que todos possam se manifestar e mostrar suas atividades.
Sabendo que o budget de viagens tem sido duramente cortado em todas as instituições, o mais indicado é fazer o melhor proveito das que forem aprovadas. Fazer um walkthrough completo nos edifícios, mostrar o que se espera de estandardização de processos e rotinas, divulgar amplamente o nível de qualidade esperado da companhia.
Identificar gap´s na estrutura da equipe é importantíssimo para o bom andamento da operação.
Como implementar projetos simultâneos em toda América Latina
Em base ao objetivo de se ter standards em processos e serviços, é importante se ter em conta, como se implementar projetos em outros países.
Aqui se vai bem além do gerenciamento, mas sim envolvimento completo em outras áreas e segmentos considerando todos os key stakeholders que devam participar. Lidar com áreas jurídicas de cada país, sourcing, provedores externos internacionais ou simplesmente locais, além de comunicação frequente e adequada com os diretores locais é algo muito sensível e crítico.
Antes de mais nada, é preciso apresentar o que se espera, alinhando as expectativas, assim como o time-line do projeto, para que possam confirmar se podem dar o suporte necessário a tempo localmente. Durante projetos, se estabelecem chamadas frequentes, as quais preferencialmente, respeitando fusos horários e delas, revisões intensas que podem eventualmente apontar atrasos em sua implementação. Por isso, é importante informar prazos e estabelecer o contato bem antes de seu início.
Contratos irão apresentar características individuais por país e deveremos ter distintos tipos de documentos elaborados pelas áreas jurídicas a cada um. Ter isso já alinhado com os provedores internacionais, irá salvar um grande período de entendimento, assim como da programação de início.
Entender que prazos de importações são bem diferentes especialmente se falando de América Latina, onde alguns processos são um pouco mais burocráticos. O time-line para países como Argentina tem que estar muito bem alinhado com informações revisadas localmente e não com prazos generalistas de outros projetos.
A proximidade com os provedores externos é essencial. Muitas vezes teremos a quarteirização que poderá trazer falta de qualidade e falta de comprometimento e aí está o espaço para que seu projeto não se desenvolva a tempo ou da forma que necessite. Imaginemos uma subcontratação feita pelo seu provedor local em outro país, onde você não tem nenhum controle da entrega ou do serviço. Imaginemos também provedores que não informam que tiveram algum problema onde diferentes equipes estão trabalhando em datas chaves. O nível de frustação é grandíssimo e difícil de explicar aos stakeholders. Comunicação é chave e para essas situações, tem que ser mais constante e feita de maneira clara.
Levar o projeto a sua conclusão, muitas vezes é um grande desafio. Alcançar os 100% de entrega, com todas as revisões, testes, documentações etc. pode trazer dores de cabeça, especialmente com terceiros em outros países que já estão trabalhando em outros projetos, que não o seu e que sentem o distanciamento. Tratar dessa etapa, com a mesma importância e ânimo do início pode ser complicado para alguns, mas aí está a chave para poder comunicar finalmente que um projeto internacional de alta relevância está encerrado com sucesso.
A América Latina é uma fonte abundante de cultura e conhecimento. Ter a oportunidade de trocar experiências com pessoas desses países é impagável e enriquece o espírito de quem tem essa oportunidade. Como citou Alejo Carpentier em El reino de este mundo, ...“En América Latina, lo maravilloso se encuentra en vuelta de cada esquina, en el desorden, en lo pintoresco de nuestras ciudades...En nuestra naturaleza...Y también en nuestra história”...
(*) Emerson Smith, Profissional de Administração generalista, com foco em Corporate Real Estate
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