A muito tempo temos ciência de doenças infectocontagiosas que são transmitidas pelo ar tais como tuberculose, meningite, hanseníase e outras mais. Entretanto, neste momento de pandemia que estamos atravessando por causa do vírus Sars-CoV-2 (COVID-19) tornou esse assunto mais evidente no último ano e resultou em impactos na vida cotidiana como: o uso de máscaras, distanciamento social, maneira de como se relacionar com as pessoas sem cumprimento de mão ou até mesmo um abraço. Tudo isso exigiu novos métodos e adaptação das pessoas ao momento em que estamos vivendo.
Na ocupação das edificações, o impacto não foi menos relevante. Com o desenrolar da pandemia, organizações de referência para o setor de Ar-Condicionado como a ABRAVA, ABNT, ANVISA, ASHRAE, REHVA e SMACNA, desenvolveram diretrizes para o uso adequado de Sistemas de HVAC (do inglês, Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado), visando preservar a saúde dos ocupantes das edificações. As diretrizes que foram desenvolvidas estão em consonância ao conhecimento científico alcançado no período, especialmente sobre a necessidade de renovação de ar adequada dos espaços ocupados, diminuindo os riscos de contaminação pelo vírus.
Nas edificações hospitalares as condições de temperatura, umidade, qualidade do ar e ambientes de pressão controladas, são especificadas para atender a necessidade de cada procedimento e quadro clínico de um paciente, fazendo com que o sistema tenha muita tecnologia atrelada. O conhecimento das instalações, mapear os seus riscos e entender a tecnologia são fundamentais para a implantação do plano de operação, manutenção e controle (PMOC) destas edificações.
A partir do momento que se iniciou a pandemia a preocupação da área médica, assistencial e de setores como SCIH - Serviço de Controle de Infecção Hospitalar e o SESMT - Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho em relação a como seria tratado os pacientes e os próprios colaboradores dos hospitais cresceram. Os riscos para os ocupantes em função da presença da carga viral nos ambientes, que se não tratadas adequadamente pelo sistema de climatização, poderão alcançar altos níveis de concentração viral e resultr em uma ampla contaminação nos ambientes hospitalares.
Neste artigo, a SMACNA – Chapter Brasil apresenta um resumo das principais ações a serem tomadas por gestores e equipes de facilities em ambientes hospitalares relacionadas aos sistemas de HVAC.
É importante lembrar que as normas para sistemas de HVAC em ambientes hospitalares seguem diretrizes diferentes, como as normas: NBR 7256, RE 09 da Anvisa, RDC 50 e outras mais. Já as instalações de cunho comercial, que visam o conforto térmico, seguem outras normas como a NBR 16401 que já possui recomendações voltadas ao ar-condicionado de conforto.
No ambiente hospitalar, precisamos ter instalações que assegurem o processo e a climatização do ambiente e que propicie um ambiente seguro e confiável para que atendam as diretrizes especificas, como:
- Garantir a renovação de ar adequada dos espaços ocupados;
- Garantir o número mínimo de trocas de ar;
- Garantir o fluxo de ar e cascata de pressão (negativa e positiva) para evitar contaminações cruzadas. Como, por exemplo, manter em pressão negativa nos ambientes ocupados por pacientes infectados com Covid-19;
- Filtragem adequada do ar ambiente;
- Manutenção preventiva e corretiva adequada e periódica dos sistemas de Ar-Condicionado, conduzidas por pessoas tecnicamente capacitadas, com conhecimento da tecnologia.
- Monitorar riscos em conjunto com as empresas parceiras de manutenção de sistemas de HVAC ou empresas terceiras, que prestem assessoria na análise completa dos sistemas de Ar-Condicionado, avaliando ações contínuas e provendo recursos adequados para verificar a conformidade com as necessidades, diretrizes e normas.
Dentre todas medidas acima destacadas, a filtragem e a renovação de ar adequada dos espaços ocupados tem sido as mais discutidas onde a contaminação pelo vírus Sars-CoV-2 vem pelo ar, onde já foi apontado por estudos científicos que os surtos de contaminação costumam ocorrer em espaços fechados sem ventilação (renovação do ar).
A filtragem do ar é importante para garantir a qualidade do ar interior, onde temos muito conhecimento técnico aplicado por grandes empresas do segmento que desenvolvem filtros de vários tipos e modelos com maior capacidade de filtragem. Filtros do tipo HEPA por exemplo, que possuem 99,9% de eficiência, são aqueles que conseguem filtrar melhor as partículas que são extremamente pequenas e invisíveis aos olhos humanos. Entretanto, nem todos os sistemas de Ar-Condicionado comportam esse tipo de filtragem, uma vez que a máquina foi projetada para um tipo de filtragem, pois no momento de sua fabricação é feita uma relação entre a sua capacidade e sua perda de carga imposta aos sistemas de Ar-Condicionado. Assim, para qualquer substituição do nível de filtragem dos equipamentos, deve-se considerar as limitações existentes nos Sistemas de HVAC instalados e realizar um estudo de engenharia que avalie o melhor filtro possível para cada caso ou realizando adequações para permitir a adoção destes filtros de maior eficiência.
Importante ressaltar a atenção que se deve ter na substituição e troca dos filtros principalmente em ambientes hospitalares, como o técnico estar devidamente paramentado para a substituição dos filtros, principalmente em uma área covid, pois no processo de retirada do filtro ele pode se contaminar ou contaminar o ambiente. Após a retirada do filtro, deverá ser colocado em um saco de contaminante e devidamente lacrado para ser transportado para a área de resíduos. Neste processo de substituição, deverá ser observado a integridade do filtro e se não há amassados ou furos que possam acarretar baixa capacidade de filtragem e performance. O ideal é que após a substituição do filtro tenha-se um micro manômetro que monitore a saturação do filtro para saber efetivamente quando o filtro está saturado ou não.
Nos ambientes hospitalares, a renovação de ar deve ser mecânica através de ventiladores que tenham o seu sistema de filtragem e que precisam de atenção redobrada para verificar se os sistemas relacionados estão operando de forma adequada e contínua.
As áreas ocupadas por pacientes com Covid-19 devem ser mantidas em pressão negativa, impedindo que o ar das salas se espalhe para ambientes adjacentes como corredores, halls, espaços vizinhos e principalmente áreas de pacientes não infectados com Covid e que seja descartado a 3 metros da fachada mais alta do edifício acoplado a um filtro HEPA para garantir que não descarte o contaminante para atmosfera.
Já ambientes que possuem pressão positiva são para pessoas que estão imunocomprometidas e que não podem ter contato com o ar vizinho, ou seja, um paciente que acabou de passar por um transplante de medula óssea em sua recuperação está com a imunidade praticamente reduzida a zero. Portanto, é criado um ambiente de proteção a este paciente, pois caso tenha um contato com o vírus Sars-CoV-2 ou quaisquer outros fungos e bactéria, esse paciente possivelmente pode vir a óbito. Para isso, é criado um sistema que capta o ar externamente, passa por um filtro HEPA e é insuflado para dentro do ambiente, fazendo com que a pressão interna seja maior do que as pressões adjacentes, forçando a saída do ar por portas, janelas e frestas existentes.
Nos dois casos mencionados de ambientes com pressão controlada, deve-se ter um acompanhamento contínuo da equipe de manutenção e da área assistencial, que lá estão nos seus postos de enfermagem, em relação ao valor da pressão do leito pois, em caso de uma parada de um equipamento ou até mesmo uma outra falha, pode-se resultar na reversão de pressão do ambiente, ou seja, o ambiente que estaria protegendo o paciente pode se tornar ofensivo sendo que o leito se tornando negativo pegará toda a impureza do corredor e levará para dentro do leito quando um leito de covid ao invés de exaurir o ar contaminado pode simplesmente se tornar positivo e jogar esse ar no corredor e nas pessoas que por lá circulam. Nestes casos, como alternativas de gerenciar esses riscos, são utilizados sistemas mais simples de monitoramento que são fixados na entrada do ambiente até sistemas de automação que monitoram 24h os ambientes e avisam em caso de falha no software do programa e até por SMS.
Com a pandemia, outras tecnologias que buscam a desinfecção do ar ganharam notoriedade como a adoção de lâmpadas UV-C, porém, lembramos que adotar de forma exclusiva essas soluções até o momento não têm sido comprovadamente suficientes e sim complementares. Hospitais que adotam tecnologias desse tipo costumam ter projetos de sistemas de HVAC de alta complexidade e, por exemplo, a lâmpada UV-C está associada ao uso de filtros especiais em baterias, alta taxa de renovação de ar, sendo a lâmpada UV-C um adendo e nunca a principal fonte de descontaminação dos espaços, assim como outras tecnologias disponíveis.
Por último, um ponto fundamental e nem sempre cuidado com a devida atenção é a manutenção preventiva e corretiva adequada dos sistemas de Ar-Condicionado. Como já explicado neste artigo, de nada adianta a correta implantação pois o sistema de climatização está vivo como o hospital e, se não for tratado adequadamente, pode ficar doente e vir a morrer. É fundamental a contratação de pessoas especializadas que desenvolvam um PMOC adequado e que adotem as diretrizes e normas estabelecidas pelas normas e boas práticas de engenharia.
O gerenciamento adequado do sistema de HVAC com empresas especializadas possibilita não apenas o bom funcionamento, economia de energia e maior vida útil , mas também redução de custos com manutenções corretivas inesperadas que costumam ser mais onerosas e segurança a saúde das edificações e dos ocupantes, favorecendo a qualidade do ar interior, assunto que ganhou tanto destaque em função do momento que estamos passando, mas que será uma herança positiva de todo esse período difícil que vivemos.
Empresas associadas a SMACNA são referência no setor e estão sempre à disposição para contribuir com o mercado, garantindo bom atendimento e qualidade nas ações adotadas, sempre com segurança e conhecimento sólido.
Foto: Divulgação
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