Por Álvaro Aguiar e Luciano Brunherotto*
Poucos de nós imaginariam que algo invisível aos olhos comuns poderia gerar tamanho impacto em todo planeta Terra. Isolamento social, paralisação de indústrias, comércio, prédios inteiros de escritórios vazios, enfim, negócios de todos os segmentos, famílias, cidades e países em todas as partes do mundo foram afetados pelo novo coronavírus (Covid-19). Um sentimento parece consenso entre todos: um “novo normal” será criado após a pandemia passar.
Gestores de Facilities e Administradores Prediais responsáveis pelos ambientes de trabalho (workplace) que já estão empenhados diuturnamente com planos de enfrentamento desta situação lidarão, muito em breve, com um novo e também desafiador cenário quando do retorno destes colaboradores aos locais de trabalho.
Teletrabalho e home office já são uma realidade na vida de todos durante este processo e, evidente, foram usados de forma impositiva neste cenário de epidemia. No entanto, uma nova dinâmica empresarial deve ser colocada em pauta pelas empresas onde, muito provavelmente, as infraestruturas prediais deverão ser adaptadas, quando não reformuladas totalmente, visando atender aos pré-requisitos destas novas demandas.
Possibilitar uma adequada condição laboral para mais níveis da organização será prioridade no retorno às atividades normais de trabalho e irá muito além daqueles níveis hierárquicos tradicionalmente atendidos com notebook e conexões rápidas de internet em suas residências. A propósito, será que as empresas terão de subsidiar parte destes custos para possibilitar o trabalho de casa?
Há muito tempo sabemos quanto a higiene e saúde ocupacional vêm sendo tratadas com especiais cuidados em grandes companhias e conectadas às suas estratégias de FM. No entanto, este “novo normal”, após o retorno de ocupação de grandes varejos, indústrias, shoppings centers e espaços educacionais, com certeza deverá ser completamente remodelado, seja com o uso de sanitizantes específicos, seja em comportamentos atitudinais dos colaboradores nestes estabelecimentos ou até mesmo inclusão permanente de álcool gel na entrada destes estabelecimentos.
Por enquanto, temos muitas questões e dúvidas sobre o “depois da crise”, mas uma coisa é certa, terão maior sucesso (ou até sobrevivência) as empresas que realmente forem digitais, abandonando as plataformas e/ou softwares provisórios/paliativos por aplicações tecnológicas digitais de verdade, robustas e eficientes, adequadas ao tamanho de cada companhia, é claro.
O varejo deve consolidar o conceito de “omnichannel” através de estratégias integradas entre os seus diversos canais de atendimento, sejam online ou offline, cujo foco será cada vez mais a experiência do cliente. Os gestores de espaços deverão usar toda a experiência de anos adequando os ambientes de trabalho, agora para atender as lojas físicas, redesenhando esses espaços de forma integrada com os gestores de negócios para possibilitar a melhor experimentação da marca.
Precisamos nos preparar também para reduções significativas de espaços (área ocupada) e, com isso, muitas simulações, estudos e consequentes mudanças de layout nos espaços de trabalho deverão ser feitas. Estudos apontam para movimentos relevantes no varejo o que também levará a reduções de custos fixos do pessoal de backoffice, ou seja, reduções dos escritórios administrativos virão com muita força em breve.
Para os gestores de espaços de educação não será diferente, os cursos online já se provaram eficientes durante a crise. Vai haver uma revolução na forma como se aprende em todos os níveis e isso irá gerar mudanças radicais em todas as estruturas de ensino, com oportunidade de uma grande revolução nos sistemas de educação usando o online para atender a população e entregando aos alunos retreinamento contínuo, pois, na sociedade do conhecimento, não existe o “ex-aluno”. Ou você está aprendendo o tempo todo ou você está fora do mercado de trabalho.
Novos hábitos corporativos irão gerar reduções significativas nas viagens de negócios que obviamente serão substituídas por vídeo conferências e assim novamente teremos impacto direto na gestão de espaços, infraestrutura, revisão de políticas. Enfim, os gestores de Facilities terão bastante trabalho pela frente. O modo de viver e de relacionar-se no trabalho vai mudar tanto que nós dividiremos a história em “antes do coronavírus” e “depois do coronavírus”. Alguns efeitos talvez não sejam imediatamente percebidos, mas a mudança de mentalidade há de criar alterações cujos efeitos ganhem escala só mais à frente.
Os gestores de Corporate Real Estate sempre conviveram com o tema de corte de custos, dada, é claro, a natureza dos serviços sob sua gestão que usualmente representam o 2º ou 3º maior conjunto de despesas das companhias. Neste momento de preparo para o pós crise, devemos ser ágeis e estar antenados. Transforme as ações de redução monetizando suas ideias criativas, visando aumentar a rentabilidade dos negócios com inteligência, sem deixar de lado o pragmatismo de entender a cultura, momento e nível de maturidade da organização em que você está inserido. Será importante ter claros os impactos de cada medida. É fundamental avaliar os reflexos das ações sob o aspecto humano e financeiro (curto, médio e longo prazo) que moldam os negócios e a perpetuidade das empresas. Para isso, importante será a busca e o uso adequado de informações, bem como discussões com diversos agentes e decisores envolvidos com o seu negócio. Por isso, torna-se muito relevante que essa discussão integrada e coordenada, se ainda não estiver acontecendo, se inicie agora.
Enfim, acreditamos em um “novo normal” para o bem da humanidade. Neste período de quarentena, tivemos oportunidade de experimentar hábitos diferentes, condições adversas e assim criar ainda mais resiliência para seguir com a gestão dos negócios, das nossas famílias e principalmente de nós mesmos através de reflexões profundas sobre o modo de viver e agir. Com isso, todos pudemos experimentar algo que já era característica marcante de nossas atividades como Gestores de Facilities: SERVIR!
*Álvaro Aguiar e Luciano Brunherotto, sócios-diretores da Facility BR Consultoria - [email protected]
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