Por Léa Lobo e Érica Marcondes
Realizado no Centro de Convenções Rebouças, nos dias 1 e 2 de outubro, o Congresso & Expo Abrafac contou com a participação de especialistas brasileiros e quatro internacionais. Com tradição de mais de dez anos, é um encontro do calendário de Facilities Management brasileiro, um mercado que movimenta em torno de R$ 100 bilhões por ano no universo constituído por diversos e distintos segmentos de negócios, que são operacionalizados em ambientes de edificações comerciais e institucionais.
Na abertura, o Presidente da Associação Brasileira de Facilities (Abrafac) Thiago Santana agradeceu os fundadores da entidade, que neste ano completou 15 anos. Disse que estava feliz com o trabalho que ele e os diretores voluntários vêm realizando nos últimos anos. “Nosso evento sempre demonstra boas práticas em FM: o fazer de forma certa. E começamos esse encontro com o boas-vindas de um grupo de PNEs para recepcionar os congressistas bem como uma grade de palestras com temas abrangentes: Normalização, Sustentabilidade e Engajamento Social, Tecnologia, Globalização e Ambiente de Negócios, sempre focados no âmbito da humanização”. Duas outras entidades, a Central Brasileira do Setor de Serviços (Cebrasse), na pessoa de seu Diretor Percival Maricato; e o Sindicato das Indústrias de Refrigeração, Aquecimento e Tratamento de Ar no Estado de São Paulo (Sindratar-SP), representado pelo Diretor Executivo da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava), Arnaldo Basile, também deram as boas-vindas aos participantes.
A palestra de abertura foi de Tatyane Luncah, CEO do Grupo Projeto Live Creative & Digital, especialista em Marketing Digital, Experience e Empreendedorismo Feminino. A Executiva abordou sete passos para um empreendedorismo de sucesso: ser proativo, ter sempre um objetivo em mente, fazer primeiro o mais importante, fazer parcerias de confiança, comunicar-se com impecabilidade da palavra, ter disposição para superar inseguranças e ter jogo de cintura para lidar com a imprevisibilidade nos negócios e nas relações profissionais. Falou de “sororidade”, trazendo a etimologia da palavra, que vem de sóror, irmandade, ou seja, os profissionais precisam ajudar de verdade e não julgar, já que segundo ela, julgar o outro nos dias de hoje “é brega”.
Já o painel “ISO 41000 – Panoramas da normalização e tendências de adoção da série de Facility Management” abordou as mudanças no cenário brasileiro e mundial e seus reflexos nas legislações e normas aplicáveis ao setor e qual seu impacto na competitividade e na geração de oportunidades de negócio em FM. Os palestrantes foram o Coordenador da Comissão de Estudo Especial de Facility Management 267 (CEE-267) e Membro do Comitê ISO/TC-267 Facilities Management, o Prof. Dr. Moacyr E. A. da Graça, que trouxe um overview da Normalização; e os participantes da comissão: Mauro Campos (Vocabulário), Irimar Palombo (Escopo, Conceitos e Benefícios), Ricardo Crepaldi (Compras Estratégicas e Acordo) e Frederico Behmer (Sistemas de Gestão).
No painel intitulado “Sustentabilidade dentro da Gestão”, o objetivo foi alertar que pesquisas demonstram que a importância da sustentabilidade e do engajamento social nas empresas já são uma realidade entre os consumidores. Dados revelam inclusive que o engajamento dos usuários com as marcas é cada vez mais embasado no propósito e na coerência do discurso e com a realidade. No painel liderado por Fernando Beltrame (Eccaplan Consultoria em Sustentabilidade), os cases apresentados por Camila Weber (WeWork), Silvia Barcik (Renault) e Claudia Leite (Nespresso) apontaram as experiências proporcionadas por suas empresas aos usuários e como estas ações têm impacto no o dia a dia do FM, e como os profissionais podem atuar proativamente nesse sentido. Já no painel “Sustentabilidade e engajamento social” tivemos Ana Cristina Pereira da Silva (Pró-Sangue Hemocentro de São Paulo, convidando os participantes a fazerem doação), Márcio Manoel (Centro Empresarial Mario Henrique Simonsen, sobre gestão de resíduos – ver box) e Le Andrade (Plant Fazendas Urbanas, apresentando hortas em espaços corporativos).
Na última palestra do dia, o holandês Erik Jasper (Planon Corporation) trouxe o tema de como as tecnologias, incluindo o blockchain, pode ajudar a área de FM. Jasper iniciou dizendo que hoje estamos sendo convidados a pensar sobre as mudanças do futuro e como devemos nos posicionar. Para além disso, devemos ter cuidado sobre as tecnologias que vamos utilizar, uma vez que há muitas opções ofertadas pelo mercado mundial, a exemplo do blockchain e tantas outras. Mas antes de eleger a tecnologia a ser utilizada, é preciso saber que problema será preciso resolver dentro da sua atividade, isso para a escolha da tecnologia ser confiável e resolver, de fato, o seu problema. Isso porque, “o FM precisa de respostas efetivas e fidedignas para decidir”, alertou. Jasper lembrou ainda que algumas tecnologias podem ser onerosas e dependendo das opções precisam de alto investimento. “É importante ressaltar que a automação facilita muito a gestão; e as empresas que não as têm, e que precisam manter os processos manuais, acabam fazendo os profissionais trabalharem muito, sem resultados efetivos”, completou. Para finalizar, o Palestrante deixou um recado: simplicidade é tudo, desde que resolva seus problemas de gestão, e responda o que é necessário para a celeridade nos processos e para a tomada de decisões estratégicas.
O segundo dia do evento teve início com uma palestra da holandesa Ilse Toonders, que destacou os vários aspectos que influenciam como você vê e utiliza o ambiente de trabalho: sua personalidade; sua percepção sensorial, o que inclui se você dormiu bem na noite anterior, de onde você está vindo e qual meio de transporte utilizado; seu trabalho (o tipo de atividade desempenhada); entre outros. Com base nisso, o profissional de gestão de Facilities poderá pensar o workplace mais adequado ao seu público, fazendo uso de diversos tipos de ambientes: abertos; com privacidade física, acústica e visual; de estações de trabalho volantes; de reuniões ao ar livre; que favoreçam a interação etc.
“O barateamento dos sensores de ambientes e novas oportunidades para o profissional de FM” foi outro tema bacana desta edição. Arthur Aikawa, Cofundador da Omni Banco & Financeira, falou da importância de alinhar o planejamento aos indicadores levando em conta a nova dinâmica dos ambientes de trabalho. “Edifícios que não monitoram o uso ficarão para trás quando falamos em eficiência da operação”. Em paralelo, ele apresentou uma plataforma que monitora “a personalidade” de uso de edifícios e espaços por meio de quatro cases: Meeting Rooms, Self Monitoring Hospitals, Varejo e Eficiência Logística Industrial. Em Varejo, por exemplo, é possível, segundo o Palestrante, gerenciar a eficiência do metro quadrado de uma loja ao extremo ao comparar em tempo real os setores mais populares/visitados versus as vendas, além de poder monitorar a qualidade interna do ar, a temperatura, os níveis de ruído etc.
Na sequência, os congressistas puderam ouvir sobre “Urbanismo, cidades inteligentes e oportunidades” com a Profa. Dra. Jane Victal. Ela falou das principais tendências nesta área e como isso afetará a gestão dos serviços, como a ausência de delimitações bem marcadas entre centro, cidades e vizinhança; condomínios e shoppings com acesso direto às rodovias; espaços multiusos que precisam conversar com o entorno e com o restante da cidade etc. Um dos segredos será conjugar as técnicas mais tradicionais às modernas.
LGPD em pauta
Já a “A Lei Geral de Proteção de Dados e os desafios para o FM” foi abordada por Thiago Silva, da Novye. O Executivo lembrou que a Lei Geral de Proteção de Dados n. 13.709/2018, em vigor a partir de agosto de 2020, vai cobrar responsabilidades a qualquer atividade que envolva a utilização de dados pessoais. Os principais desafios para o FM estão relacionados ao uso de dados obtidos por meio de recursos tecnológicos, uma vez que muitas informações utilizadas são sigilosas. Se a empresa classifica e armazena dados, é preciso avaliar o impacto de mantê-los e o que aconteceria caso houvesse um vazamento. “É uma oportunidade de repensar os modelos de negócios à luz da segurança e da privacidade”, destaca ele, que ainda listou métodos para criptografar e proteger o que está sendo armazenado pelas companhias. Pensar a LGPD pelas camadas Jurídico, Tecnologia e (principalmente) Pessoas (mudança de cultura) é um bom caminho.
Transformação digital
Global Chair do International Facility Management Association (IFMA) e Diretor de CRE da AT&T West Region, John Carrillo, também marcou presença importante no Congresso ao falar sobre os desafios e oportunidades para o FM decorrentes da transformação da telecom. Ele destacou exemplos que mostram que a Internet das Coisas vai mudar para sempre os negócios na área de Facility Management e no mercado imobiliário. Isso porque, as empresas precisarão recorrer à tecnologia para garantir vantagens competitivas.
Com sistemas inteligentes, é possível reduzir o custo de manutenção, o consumo de energia, a pegada de carbono, além de diminuir ordens de serviço e otimizar processos, de modo geral, entre outros benefícios para as empresas.
Smart World for FMs
O tema foi destaque nas palavras de Neil Shah, da Royal Institution of Chartered Surveyors (RICS). O Especialista frisou que as tendências socioeconômicas atualmente resultam no crescimento das cidades e, ao mesmo tempo, em mudanças demográficas, desigualdade social, escassez de recursos e mudança do poder econômico.
O cenário dos novos negócios, por sua vez, explicou ele, abrange novas tecnologias, modelos de negócio, Big Data e mercado imobiliário como uma classe de ativos. Com base nesse panorama, o Palestrante apresentou o papel importante do desenvolvimento tecnológico para melhorias no mercado de Facility Management e os consequentes impactos disso no mercado de trabalho. “Agilidade e flexibilidade são itens importantes para a profissão. É mais sobre promover a inovação e a experiência de valor para as pessoas dentro das instalações e menos sobre ‘colocar tijolos’ no lugar certo”.
Ambiente de negócios
O ambiente de negócios no Brasil e as oportunidades para a cadeia de Serviços e Facilities foram os temas do terceiro painel. Apesar de otimistas com o mercado brasileiro, principalmente para Gestão de Facilities e Serviços, os Painelistas Raphael Fraga, da ITA Capital M&A and Investments; Sandra Gioffi, da área de RH da GSC Integradora de Saúde; e Julio Pina, da Gulf, foram unânimes sobre a necessidade do mercado se manter em constante evolução.
Em resumo, eles destacaram que segurança jurídica é essencial para atrairmos investidores; explanaram que o conceito de protagonismo é um ponto forte do Brasil, tendo em vista que as startups vêm promovendo uma série de transformações; e falaram também da relevância econômica e potencial de desenvolvimento humano no País. Por último, mas não menos importante: o apetite (atratividade) de investimento de capitais em FM no Brasil será tanto maior quanto a capacidade desse setor mostrar escalabilidade no longo prazo.
Empreendedorismo em FM
Mediado pela Diretora de Marketing da Abrafac, Andrea Cerqueira, o último painel do evento abordou o tema “Empreendedorismo em FM: a experiência das startups na criação de oportunidades de negócios”.
Roberta Vasconcelos, da Beer or Coffee, falou sobre como sua plataforma conecta profissionais e grandes empresas aos melhores espaços de trabalho do mundo. Presente em 160 cidades do Brasil, seu objetivo é otimizar a mobilidade dos colaboradores, que podem trabalhar de qualquer unidade.
O trabalho é 100% remoto, portanto, existem colaboradores em vários países trabalhando para a Beer or Coffee. Esse é o chamado anywhere office. Lembrando que atualmente, o escritório costuma ser o segundo maior custo de uma empresa.
Abel Costa, da Infraspeak, contou sobre a plataforma, que nasceu no “Vale do Silício” Europeu e hoje é uma solução que permite aos gestores de facilities supervisionar operações em tempo real e ter acesso a indicadores, evitando falhas e com a possibilidade de armazenamento das informações em apenas um local, fazendo com que colaboradores e clientes possam utilizar a mesma plataforma.
Marcelo Sakai, da Mobicity, explicou melhor sobre a solução que integra transportes de forma multimodal, como Uber, 99, Cabify, companhias de aluguéis de carro, patinete, fretado, caronas, entre outros. Segundo ele, a economia com a plataforma pode chegar a 6%, além de identificar gargalos e oportunidades etc.
Tatyane Luncah, CEO do Grupo Projeto Live Creative & Digital
TRATANDO E DESTINANDO RESÍDUOS EM UM COMPLEXO CORPORATIVO
O case apresentado por Márcio Manoel, Gestor de Operações do CEMHS, foi sobre o tratamento de resíduos no site do complexo formado por oito blocos (sete corporativos e um técnico administrativo), dentro de um terreno de 78.400 m2, com 12% de área construída, onde há 107 empresas usuárias, sete restaurantes e um centro de eventos no Rio de Janeiro.
Seguindo a política de cumprir os requisitos legais (Política Nacional de Resíduos Sólidos [PNRS] n. 12.305/10) e o Certificado Sistema de Gestão Integrado (SGI), o Gestor desenvolve ações de educação ambiental para destinar corretamente:
• 85% dos resíduos orgânicos produzidos pelos restaurantes, que geram 235 toneladas por ano para o Centro de Tratamento de Resíduos (CTR) da Ciclus Alta Performance na Gestão de Resíduos.
• 32.600 litros/ano de resíduos de saúde destinados a Resíduo All Esterilizações, onde passam pelo processo de autoclave.
• Resíduos homogêneos (restos de pequenas obras e materiais brutos de manutenção de jardins), que geram 52 toneladas por ano e são destinados para cooperativa de catadores cadastrados na Comlurb/ Instituto Estadual do Ambiente (Inea).
Com a política interna de reduzir e reutilizar, o Gestor selecionou 60% dos resíduos oriundos da manutenção de jardim, que ocupavam as caçambas de entulhos, transformando-os em adubo totalmente orgânico para uso na horta e nos jardins do complexo, reduzindo assim o custo e a quantidade de resíduos homogêneos a serem destinados. Em 2014, destinavam 150 toneladas de resíduos homogêneos (126 caçambas de 5 m3 ao custo de R$ 196,00/cada). Em 2018, reduziram para 58 caçambas de 5 m3, economizando R$ 28.595,00/ano, com a reutilização dos resíduos, além da economia na aquisição de adubos que somam mais R$ 3.000/ano.
Outros cuidados e exemplos:
• Cápsulas de café Nespresso (em 2018 foram destinados 322 kg para o processo de logística reversa do próprio fornecedor, resíduo que antes era descartado na caixa compactadora junto aos orgânicos).
• Reciclagem de papel e papelão/CRR de 12,7 toneladas por ano, o que em nove anos faz poupar o corte de 3.600 árvores.
• Alumínio/RCC2 de 360 kg, representou a contribuição na produção de 26.600 novas latinhas.
• As lâmpadas fluorescentes têm em seu interior vapor de mercúrio e pó de fósforo que são nocivos ao meio ambiente quando descartadas incorretamente. Em sete anos, o CEMHS descontaminou 30 mil lâmpadas antes do descarte.
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