Notícia publicada em 6 de junho de 2019
Por Jorge Arduh
O uso de novas tecnologias tem despertado um lado maniqueísta em grande parte das pessoas: amor ou ódio, fim ou começo, avanço ou retrocesso, desespero ou salvação. Discussões a respeito do papel das pessoas em uma sociedade cada vez mais centrada em dados também são levantadas: afinal, todos teremos empregos? Como viverão as sociedades do futuro?
Não há resposta concreta e única para esses questionamentos. Trabalhar em um ambiente dominado pela tecnologia fornece apenas a visão do impacto final que cada produto desenvolvido traz. Um aspecto é óbvio: cada vez mais, as tarefas burocráticas e repetitivas são automatizadas, dando lugar (e voz) para que as pessoas sejam alocadas em tarefas estratégicas.
Essa relação aparentemente invisível entre humanos e robôs pode nos levar a pensar que terá impacto apenas às funções de produção. Isso está longe de ser verdade. Até 2025, robôs devem estar presentes no conselho administrativo de quase metade das empresas analisadas em pesquisa pelo Fórum Econômico Mundial.
No futuro, gerenciar um robô ou ter uma máquina como colega de trabalho pode até causar estranhamento. Mas é ainda mais complicado pensar que ainda poderemos ser liderados por sistemas de inteligência artificial.
Embora a ideia pareça distante, é necessário considerar as principais atividades de um gestor: usar dados para analisar problemas e tomar decisões, monitorar a performance da equipe, determinar metas, dar feedback. Todas essas atividades já podem ser desempenhadas de maneira individual por sistemas em operação. E com alguns pontos positivos: evitam-se confrontos de personalidade, e os feedbacks são mais objetivos e imparciais.
Do lado humano, a chegada da geração nascida nos anos 80 aos cargos de chefia e a entrada nos nativos digitais no mercado de trabalho exigem um novo olhar para a atração, retenção e desenvolvimento de talentos. Enquanto isso, do lado tecnológico, a inteligência artificial e a escolha das áreas a serem robotizadas já começam a tirar o sono desses executivos.
Para solucionar essas questões, é necessário pensar de maneira estratégica. Pessoas querem cada vez mais agilidade e menos burocracia para resolver questões e isso passa tanto pelo fator tecnológico quanto pelo fator humano. Para isso, é necessário combinar da melhor forma o que ambos os lados têm a oferecer, desenvolvendo a ambos de maneira igual.
Um exemplo claro de como isso pode acontecer está no recrutamento e seleção. Hoje, a tecnologia pode ajudar as lideranças a reunirem dados que tracem o perfil dos funcionários e os comportamentos que melhor se adaptem à organização. Isso traz agilidade na hora de selecionar candidatos e direcionar treinamentos específicos para as necessidades individuais desses jovens.
Os robôs colaborativos, também conhecidos como Cobots, são cada vez mais utilizados para aumentar a eficiência e produtividade. Eles são desenvolvidos para trabalhar com seus correspondentes humanos, com técnicas de segurança que eliminam a necessidade de barreiras entre os trabalhadores e o robô.
Cabe destacar que, amparados na tecnologia, também surgirão novos perfis, mercados e negócios onde os profissionais poderão se desenvolver e que nos levarão, a longo prazo, a uma redefinição ou até mesmo ampliação de postos de trabalho, mostrando que a robotização não implica na redução ou desaparecimento da oferta de emprego.
Mesmo com todos esses benefícios, é necessário lembrar que a convivência profissional entre máquinas e seres humanos poderá trazer desafios. Estudos no campo da computação afetiva, setor da robótica que analisa os estados emocionais dos seres humanos para que as máquinas respondam adequadamente a eles, demonstram que a relação entre humanos e robôs será mais complexa do que aquela que temos com nossos computadores.
Em suma, o momento pede dedicação e cautela ao adotar a robotização no ambiente de trabalho. Ainda há muitos benefícios e desafios a serem explorados. Para além de uma visão de “certo” e “errado”, é necessário pensar que essa convivência vai existir e descobrir como viver nesse novo ambiente é uma tarefa essencial para os profissionais dos próximos anos – especialmente os líderes.
Jorge Arduh é CEO da Indra no Brasil
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