Por Bruna de Lucca*
Estamos diante de um movimento muito valioso para a convivência e produtividade do ser humano. Estamos repensando, em todas as esferas, como oferecer ambientes mais humanizados, saudáveis e que promovam mais integração e qualidade de vida. Consequentemente buscamos elevar a saúde física e emocional daqueles que utilizam espaços com arquitetura embasada e funcional.
Não menos importante do que a integração entre pessoas, a sinergia entre pessoas e instituições, e com as disciplinas com as quais convivem, é importantíssima. Essa sinergia reflete em nosso subconsciente e traz resultados significativos quanto à produtividade e o engajamento.
Quando falamos de escolas, vemos em larga escala as unidades educacionais do país se reinventando em seu aspecto físico para atender à constante evolução tecnológica e de comunicação. Sabemos que há ainda muito a se fazer, mas o primeiro passo é sempre abrir o horizonte dos agentes de ensino, e mostrar que a arquitetura atua como agente aliado aos resultados que buscam elevar a qualidade de vida, a humanização e o bem-estar de seus alunos.
Nós, arquitetos, projetamos a maior ferramenta que um aluno tem em sua posse quando pisa no ambiente escolar: o espaço físico.
A tecnologia é essencial, mas o espaço precisa estar adaptado a essa tecnologia: uma sala multimídia tem formato diferente na disposição de mesas, um auditório que promova debates precisa ter formato mais parecido com um fórum do que com um teatro, uma sala de aula com diversas ferramentas de comunicação não pode ter cadeiras e mesas fixas. E por aí vai.
Dentre tantos detalhes que pensamos, a qualidade do espaço físico é quase protagonista quando buscamos suprir, em cada criança/adolescente, o que chamamos de suas necessidades fundamentais.
Necessidades essas que vão da esfera fisiológica à esfera social. Hoje o chamado “ambiente de alta performance” deixa de ser aquele que gera as melhores notas e passa a ser aquele que gera a produtividade com qualidade de vida, ou seja, promove satisfação em todos os quesitos necessários à realização de um ser humano, de uma criança (o sucesso curricular é apenas um deste quesitos, mas hoje já sabemos que a plenitude do indivíduo vai além disso).
Como exemplo de uma inserção pensada para complementar a excelência curricular, projetamos para o Ensino Fundamental do Colégio Agostiniano São José, um retrofit de sua área de vivência/pátio voltado à integração da natureza, do ser humano e da arte.
Atrelando as características regionais e históricas, ao estilo de Piet Mondrian, encontramos nesse artista, fonte inspiradora para uma releitura feita exclusivamente para o grande muro do pátio do Colégio Agostiniano. Foram mais de 30 metros desenhados à mão para o cliente. E mais de mil m² de pátio revitalizados e integrados à natureza através do paisagismo.
O interessante da releitura é que com ela podemos aplicar à arte original um pouco de nossa visão sobre a obra e adaptá-la ao cenário/realidade em que esta será inserida. No caso do muro do Colégio Agostiniano pudemos trazer à tona uma paleta de cores mais variada e uma leve interferência na exatidão das linhas retas originais de Mondrian. Mas o importante é que a essência de Piet Mondrian, através de seu neoplasticismo, se manteve ali e foi a origem e inspiração de toda a composição.
Ao inaugurarmos o pátio, em entrevista ao corpo de docentes e pais, reforçamos as informações acerca de Mondrian, que como grande estudioso de sua época e precursor do neoplasticismo, tinha como influências fundamentais em sua obra as teorias e leis de grandes estudiosos que o precederam, buscando sempre aprofundamento no estudo da ciência e da arte.
Essa conexão que começa na arte e ultrapassa suas fronteiras para a ciência, passando pela história da sociedade agostiniana, torna a releitura de Mondrian ainda mais especial para o local projetado. Há embasamento em cada linha projetada.
Em espaços por nós projetados para áreas educacionais, em especial em áreas de integração e encontro, sempre buscamos inserir elementos relevantes e significativos. Acreditamos na aplicação estratégica da arte em nosso cotidiano. O desenvolvimento da percepção artística, o enriquecimento cultural e o despertar de interesses acerca de temas que nos levem ao aprofundamento na arte, na arquitetura, na cultura e na história deve ser fomentado e despertado em nossas crianças, em nossa sociedade. Acreditamos que a arte deve nos ser apresentada de forma mais simples e inusitada, para que se torne leve e agradável. É essencial despertar naturalmente o conforto visual, o olhar crítico e a curiosidade do usuário.
Como arquitetos, precisamos acreditar no propósito e premissa de tudo o que projetamos, e mais: precisamos embasá-los. Desde uma edificação à arte aplicada a um muro. O contato direto com a arte e o despertar dos sentidos naturais causado por essa inserção são essenciais ao desenvolvimento da percepção artística das crianças.
Uma nova era da educação se inicia e, com ela, soluções reais precisam ser pensadas para cada centímetro quadrado dos espaços educacionais.
*Bruna de Lucca é Diretora do Studio BR Arquitetura & Design.