Por Érica Marcondes
Apesar das perspectivas positivas para 2018 – com a recuperação ainda tímida da economia e a expectativa de retomada do emprego –, a percepção é de que as dificuldades nos últimos dois anos ainda deixam os profissionais receosos.
O que esperar do mercado de trabalho? Quais são as médias salariais para cargos que envolvem as atividades de Gerenciamento de Facilidades e Propriedades? Quais são as competências mais bem avaliadas pelos recrutadores? E ainda: como posso me manter atrativo profissionalmente em um mercado em constante transformação?
Para responder essas e outras perguntas, conversamos com dois especialistas em recrutamento e seleção de executivos de média e alta gerência, que compartilham dicas valiosas para alçar posições mais promissoras no mercado, ou mesmo retornar a ele.
Algumas coisas mudaram
Se a crise e a recessão econômica tornam mais difícil a busca por novas oportunidades no mercado de trabalho, pois há menos vagas disponíveis e, claro, mais candidatos, é verdade também que outros fatores entraram nessa equação, desafiando os profissionais a promover uma mudança de visão e atitude ao buscar novas oportunidades.
A inteligência artificial é um deles. Há pelo menos dois anos empresas já utilizam a tecnologia para tornar mais eficiente o processo de recrutamento e seleção. É o caso do laboratório anglo-sueco AstraZeneca, conforme divulgou a Você RH. Com 1.200 funcionários no Brasil, muitos da área comercial, a companhia começou a usar um sistema de reconhecimento facial em entrevistas por vídeo. Durante essa fase, algoritmos permitem que as emoções do candidato sejam mapeadas. Após essa etapa, os selecionados seguem para um processo de gamificação, que testa várias habilidades, incluindo a capacidade de interação.
“A área de Recrutamento e Seleção vem sendo beneficiada com o avanço tecnológico, como mais eficiência no processo, otimização de tempo, redução de custos. Porém, o contato pessoal neste processo ainda é muito importante, por meio de entrevistas por competências técnica e comportamental. A tecnologia não trará a química necessária para a escolha do candidato e essa expertise humana é essencial. A empatia na escolha tem um peso primordial durante o processo”, destaca Fernanda Andrade, gerente de Hunting e Outplacement da NVH Human Intelligence.
O currículo tradicional vai assumir?
Outra dúvida do mercado diz respeito ao surgimento do currículo cego – um modelo sem informações pessoais como nome, endereço, idade, nacionalidade, gênero ou foto. Até mesmo o endereço de e-mail utilizado deve ser impessoal, contendo iniciais, indica a gerente. “Seu objetivo é evitar preconceitos. Um modelo que está sendo utilizado em países de primeiro mundo através de tecnologia. É urgente reduzir a discriminação nos processos seletivos, mas a proposta do ‘currículo cego’ se aplica ao contexto europeu, e não ao brasileiro. Esse tipo de currículo não é utilizado no Brasil. Utilizamos os currículos tradicionais. No Brasil, o preconceito é mais visível na etapa presencial (entrevistas) e não tanto na fase de análise do currículo. O importante é investir em mudanças culturais”, garante Fernanda Andrade.
Segundo ela, já existem outras opções de se candidatar a vagas, como vídeos, links para redes sociais profissionais e outras plataformas digitais. Porém, no Brasil, o currículo tradicional continua sendo o mais utilizado com algumas atualizações. Por exemplo, atualmente não se utiliza foto em currículo e para substituí-la, inserir link de rede social profissional é bem atrativo. Além disso, citar mais resultados e menos atribuições torna o currículo mais atrativo.
Eduardo Mardegan, Consultor Sênior da Divisão de Construção e Propriedades da Michael Page, também destaca o uso mais intenso das redes sociais, que têm servido como uma “vitrine”, tanto para recrutadores que buscam potenciais executivos quanto para os candidatos que desejam ser vistos. Para ele, o LinkedIn é o canal mais indicado. A orientação é manter o perfil sempre atualizado (e apenas com informações profissionais) e, ainda, aproveitar a ferramenta para participar de grupos de discussão na área. “Mas lembre-se: o virtual não substitui o contato olho no olho. Isso significa que o networking continua sendo obrigatório tanto para o empregado quanto para o desempregado. É preciso sair da zona de conforto, manter a motivação acesa”.
De acordo com um documento recente da International Facility Management Association (IFMA), uma tremenda fonte de conhecimento e informações sobre FM são colegas do setor. Ficar on-line em fóruns de chats ativamente, colocando questões, pode trazer assistência.
Ainda segundo o artigo, voluntariar-se para assumir uma posição de liderança em sua sociedade profissional pode permitir que você ganhe habilidades de liderança e gerenciamento em um ambiente, muitas vezes, indulgente.
Cursos e eventos na área e idiomas
Os cursos também são sempre bem-vindos e o profissional deve buscar aqueles dentro de sua área de atuação. O ingresso em um MBA, por exemplo, possibilita a troca de conhecimentos e informações com profissionais das mais diversas áreas do mercado. Além de proporcionar networking, o estudo em um curso regular amplia seu horizonte e contribui para o surgimento de novas oportunidades.
A busca por cursos de atualização (presencial ou on-line) é outra solução. Hoje em dia, existem universidades e empresas que oferecem aulas a preços bem acessíveis e até gratuitas. Além disso, o mercado brasileiro já dispõe de uma ampla gama de congressos e eventos voltados para o segmento. Veja o Congresso INFRA São Paulo, que em sua 15ª edição reuniu próximo de mil profissionais.
Para fechar, vale falarmos sobre o domínio de mais idiomas (inglês, espanhol e mandarim são os preferidos atualmente) que, conforme os nossos entrevistados, está sendo cada vez mais solicitado pelo mercado de trabalho, principalmente em cargos de gestão.
Remuneração x importância do profissional de FM e PM
Segundo estudo de 2017 da Michael Page, nos últimos dois anos de crise, o mercado de Construção e Propriedades apresentou algumas mudanças drásticas, principalmente em cargos específicos. A instabilidade política e o cenário atual acabam prejudicando a área, pois poucas empresas estão investindo grande quantidade de dinheiro em construções.
A exceção, segundo Mardegan, é a área de Energia. Estagnada nos últimos 15 anos, ela ressurgiu e voltou a contratar. Por outro lado, de uma maneira geral, o executivo da Michael Page aponta para um reaquecimento, pouco a pouco, do mercado como um todo. “Neste cenário, em que as empresas buscam ser cada vez mais competitivas, fazendo mais com menos, os profissionais de Facilidades e Propriedades saem na frente por serem cada vez mais estratégicos. Definitivamente, é uma área que deixou de ser vista como aquela que só gastava para a que reduz custos, capaz de trazer um saving expressivo para as empresas”, resume ele.
Mas como está o “passe” desse profissional no mercado? Apesar de o momento de crise não ser um bom parâmetro para uma avaliação desse tipo, trazemos uma tabela com as remunerações médias praticadas no mercado em 2017, além do tempo médio de recolocação de um profissional dessa área, que tem variado bastante: de três meses a um ano.
Para Eduardo Mardegan vale a pena aceitar propostas inferiores para se manter empregado, desde que essa “juniorização” da mão de obra não signifique reduzir mais que 15% a 25% do salário.
Criatividade, resiliência, experiência, capacitação, valores aderentes à cultura da organização, capacidade de transitar em vários níveis, controle emocional, trabalho em equipe, liderança, análise crítica, proatividade, comprometimento, autoconfiança, autoconhecimento e integridade são algumas das características importantes para quem deseja alçar novas e melhores posições. “Com o avanço das tecnologias, as empresas têm preferido profissionais dispostos a aprender, desaprender e reaprender todos os dias”, completa ele. É o “profissional híbrido”: a “nova cara” do Gerenciamento de Facilidades e Propriedades.
Em resumo, é importante ter em mente que ninguém será tão comprometido com a sua carreira quanto você, por isso reserve um tempo para investir no seu maior patrimônio!
Fonte: Michael Page