Por Francisco Pimenta*
Cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, dentre inúmeras outras no nosso País, possuem histórias longas, pois foram fundadas há muito tempo. Isso faz com que muitas das suas construções sejam bem antigas. Claro que os prédios não são tão velhos quanto a cidade, a maioria data de períodos mais recentes como algo em torno de 40 ou 50 anos, mas o fator histórico mostra uma cultura de preservação dos cidadãos, que é muito positiva para a cidade em termos de turismo, conhecimento e patrimônio cultural.
A questão é quando esses edifícios possuem problemas de saúde que não são imediatamente notados, pois são complicações estruturais, uma “doença” da construção, por assim dizer. Uma delas é a Síndrome do Edifício Doente (SED). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a SED é definida como “um conjunto de doenças causadas ou estimuladas pela poluição do ar em espaços fechados”. Esses espaços fechados, em sua maioria, são as grandes edificações as quais começaram a surgir na década de 1970 e hoje são os lugares onde passamos a maior parte do nosso tempo.
É possível notar as edificações mais antigas pelo estilo arquitetônico da época, pelo tamanho, pela ausência de tecnologias que surgiram depois da sua construção, e que não foram atualizadas. A SED pode ser percebida quando em pelo menos 20% dos usuários dos empreendimentos aparecem com sintomas como dor de cabeça, náuseas, ardor nos olhos ou coriza. A existência da SED só foi reconhecida pela OMS na década de 1980, quando houve uma contaminação coletiva de pneumonia em um hotel na Filadélfia, o que ocasionou a morte de 29 pessoas.
No Brasil, o caso marcante foi no fim da década de 1990, quando morreu o então Ministro das Comunicações, Sérgio Motta, em função do agravamento de seu quadro clínico que, segundo muitos, foi devido à presença de fungos no ar. Segundo especialistas no assunto, a SED não provoca doenças, mas pode colaborar para agravar males em pessoas pré-dispostas ou até mesmo provocar um estado passageiro de intercorrência. Ou seja, quando as pessoas saem das edificações que estão com SED os sintomas desaparecem.
Em uma outra linha de raciocínio, a SED pode provocar alguns males compartilhados. Um exemplo clássico, é o caso da já citada contaminação coletiva no hotel na Filadélfia (EUA) em 1976 pela bactéria assassina Legionella pneumophila a qual causou uma forma rara e grave de pneumonia.
Um dos grandes problemas é que não temos uma ideia de quantos prédios hoje sofrem disso, nas grandes metrópoles. Um dado difícil de se adquirir, talvez por medo dos responsáveis pela administração dos prédios e condomínios em passar a informação. Porém, segundo a própria OMS, pelo menos 30% das edificações em todo o mundo sofrem de SED. No Brasil, este número pode chegar a 50%: números alarmantes, mas que não tocam as autoridades competentes, surpreendentemente.
Talvez a pergunta mais importante nesse momento seja: como combater isso, já que muito está em risco? Uma das primeiras coisas a se fazer é cuidar das instalações de ventilação e climatização, como ar condicionado. Já ouvi dizerem que o ar condicionado é o culpado desse tipo de situação, porém isso é um dado enganoso. O equipamento só é causa quando está mal dimensionado, mal projetado, mal instalado e/ou mal mantido. Podemos citar vários outras causas importantes da SED tais como acúmulo de poeira, grande presença de Compostos Orgânicos Voláteis (COVs) e até mesmo os produtos de limpeza, todos eles responsáveis por alergias e irritações nas vias respiratórias.
Portanto, a melhor forma de combater (ou evitar) a SED é, entre outras, manter o ambiente limpo, ter controle sobre a quantidade de COV dentro dos ambientes, monitorar a quantidade e qualidade dos produtos de limpeza, e conceber um bom sistema de ar condicionado, desde o projeto, instalação, comissionamento, até à manutenção. O próprio ar condicionado é algo necessário, vivemos em um País com altas temperaturas, mas é preciso estar atento aos cuidados pertinentes.
Os cuidados com o prédio fazem muita diferença, tarefa da administração, mas também pode ser motivada por um olhar cuidadoso e proativo dos ocupantes em geral.
*Francisco Pimenta é Engenheiro e membro do Departamento Nacional de Empresas Projetistas e Consultores (DNPC) da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (ABRAVA – http://abrava.com.br).