Por Léa Lobo
Com mais de 40 anos de vida profissional, o atual Head de Tecnologia e Inovação da Manserv, Carlos Augusto Fada, é o convidado da revista INFRA para falar sobre o tema da Inovação. Essa trajetória foi desenvolvida em empresas líderes em seus segmentos como Corning, Philips, Algar, Sanofi, Abbott e General Electric, bem como CEO de sua empresa de consultoria em Desenvolvimento e Gestão de Negócios Industriais, quando adquiriu grande experiência em auditoria e gestão de risco em plantas industriais no Brasil e América Latina, que permitiram ao executivo ganhar ainda mais know-how para aplicar nas áreas de Engenharia e Facilities.
De 2011 a 2017, período em que esteve na General Electric, multinacional norte-americana e líder mundial em inovação nos segmentos de energia, saúde, infraestrutura e transporte, operando com mais de 300 mil colaboradores distribuídos em 100 países, o executivo, que atuava como Gerente de Engenharia e Facilities, fez parte da equipe que implantou o projeto do Centro de Pesquisa da empresa no Rio de Janeiro, experiência que lhe deu atributos para falar sobre o tema da inovação. Acompanhe:
Como esteve na GE, qual foi o seu aprendizado neste quesito, quando focamos no segmento de FM?
Ao estar integrado à equipe do projeto desde seu início, vivenciei amplamente os desafios de um empreendimento deste porte, desde os processos de licenciamento ambiental até a construção, comissionamento e operação do Centro de Pesquisa. Tive a oportunidade de atuar em todas as áreas de conhecimento de gestão de projetos, ressaltando a integração dos requisitos dos usuários junto às empresas de Arquitetura e Engenharia e a Gerenciadora da obra, análise dos riscos, comunicação em todos os níveis, alterações de escopo, interação e negociação com órgãos públicos nas três esferas de poder. Em se tratando de um Centro de Pesquisa e para alcançar a certificação LEED Silver - New Construction, todos os processos construtivos, equipamentos e materiais utilizados na obra foram formalmente documentados e seguiram os padrões determinados pelo certificador.
Quais foram os desafios deste projeto?
Imagine um centro de pesquisa ainda sem pesquisadores. Todas as decisões e detalhamentos para atender os requerimentos do usuário eram baseados em informações dos pesquisadores da GE dos USA. Entretanto, as realidades são distintas e um grande desafio foi especificarmos um projeto flexível o bastante para atender às necessidades dos pesquisadores locais quando chegassem ao Centro de Pesquisa. Traduzir essas necessidades e garantir seu entendimento junto às empresas de projeto e gerenciamento nessas circunstancias foi um desafio significativo. Trabalhamos com o apoio do escritório de arquitetura A|W e com a Racional, como gerenciadora da obra. Por isso, o fato da GE ter contratado todo seu time funcional logo no início do projeto foi, sem dúvida, um fator crítico de sucesso para um empreendimento desta magnitude.
Quando se deu a implantação do processo de Full Service em FM?
Seguindo a estratégia de negócios da GE, definimos que a abordagem mais adequada para operar o Centro de Pesquisa seria o modelo de “ FM full service”. Dessa forma, 18 meses antes do término do projeto, iniciamos a fase de pré-operação dos serviços de Facilities e a empresa Manserv foi contratada para este fim, quando começou então a acompanhar a construção e materializar procedimentos, estrutura de pessoal, planos de manutenção, ente outros para que quando o empreendimento iniciasse a operação, o FM já estivesse implantado. Durante este período, o processo de contratação da empresa de FM para operar o site foi desenvolvido e, após criterioso processo de concorrência, optou-se por ter a Manserv como o parceiro mais adequado para dar continuidade ao trabalho já iniciado e prestar o serviço de “full service” para a operação do empreendimento. Foi durante este projeto desafiador, vivenciando e compartilhando experiências dia a dia, que a Manserv analisou meu perfil e identificou a liderança necessária para ocupar atualmente o cargo de Head de Tecnologia e Inovação na empresa.
O que é inovação para você?
Inovação é o processo de manter relevância perante seus clientes, entender a essência de seus problemas, ajudar a resolvê-los e tornar-se imprescindível para a manutenção de seus negócios. A inovação deve ser guiada por um propósito. O propósito dá vida e energia às pessoas para mudanças positivas e duradouras, gerando crescimento e inovação.
Como os gestores de FM poderiam traduzir o valor gerado por uma inovação implantada?
Inovação é quando uma ideia atende às necessidades e expectativas do mercado. Ela necessita ser viável do ponto de vista econômico, sustentável e oferecer retorno financeiro às empresas. Ou seja, toda inovação precisa gerar resultados, quer ela seja incremental, disruptiva ou transformacional. Alguns exemplos: a implantação de um retrofit no sistema de iluminação utilizando lâmpadas LED em substituição às lâmpadas fluorescentes convencionais, e a instalação de arejadores em torneiras para reduzir o consumo de água potável no ponto de uso em torno de 80%.
Como Head de Inovação em uma prestadora de serviços, quais são os principais desafios para pensar um projeto/solução inovadora?
No nosso caso, o principal desafio é desenvolver e implementar uma estratégia de cultura em inovação na companhia e transformar o “mindset” de nossos 25.000 colaboradores de forma que a inovação seja fomentada como parte integrante de qualquer tomada de decisão em nossos negócios. A inovação precisa fluir naturalmente em tudo e em todos, e esse é o desafio. Somos um time de especialistas atuando nos mais diversos segmentos da economia e praticamente em todas as regiões deste “continente” chamado Brasil. Claro que para chegarmos até aqui, muita inovação já foi desenvolvida pela Manserv.
A questão passa em como manter um crescimento sustentável nos negócios em meio a tantas variáveis e cenários. Ao criar seu Centro de Inovação no Parque Tecnológico do Rio de Janeiro, a Manserv deu um passo estratégico decisivo para equacionar este problema, ou através do ecossistema de inovação lá instalado, quer através da disponibilidade dos especialistas da UFRJ e da rede de Universidades e Centros de Pesquisas as quais a UFRJ está conectada. Apesar de todos estes recursos, nosso sucesso depende de quão eficaz será essa transformação cultural dentro de nossa organização. É um longo caminho, e não é simples percorrê-lo. A única escolha possível é decidir em ser protagonista ou coadjuvante neste cenário.
Os clientes estão abertos a inovações?
Primeiro precisamos entender nossos clientes, seus propósitos e para onde eles estão indo. As novas tecnologias estão redirecionando seus negócios e percepção destas tendências é vital para definir como melhor definir nosso caminho de inovação para suportar as necessidades e propósitos de nossos clientes. Existem clientes mais reticentes em relação à inovação. Por outro lado, existem aqueles que são ávidos pelo novo e querem experimentar novas tecnologias e processos. O nosso papel para aqueles mais reticentes é encontrar caminhos que os estimulem a experimentar o novo e sentir os benefícios e resultados efetivos para a sua empresa. Necessitamos ser um agente transformador para os nossos clientes.
E o que vem por aí?
Muita inovação e tecnologia que estão mudando drasticamente nossas relações humanas. E os profissionais de FM precisam estar atentos.
Tecnologias em redes de comunicação de dados: entender como as coisas estão conectadas e integradas de forma que as respostas nos permitam tomar decisões rapidamente. Os manuais de instruções convencionais estão cada vez mais sendo esquecidos pelos Milleniuns, Geração Z, que buscam as informações de forma fácil e direta. O intuitivo e o interativo são os meios. Ninguém quer mais um controle remoto cheio de botões, mas algo prático, que responda aos comandos do usuário da forma mais direta possível.
Internet das Coisas: o mundo está se conectando exponencialmente em todos os aspectos e o FM deve estar atento às tendências de sistemas de monitoramento inteligentes, atualizados em tempo real, cada vez mais presentes nos processos corporativos.
Nanotecnologia: entendo que haverá muitas mudanças disruptivas nesta área. Com o desenvolvimento de tecidos inteligentes, capazes de absorver suor ou hidratar a pele, cria-se uma enorme possibilidade de criar roupas que poderão regular a temperatura e transpiração do corpo. Imagine o impacto que isto trará na forma como climatizamos os ambientes. A roupa vai entender que você está com frio - o processo de aquecimento será acionado.
Computação cognição: a tendência é de que não existam mais processos repetitivos sendo realizados por humanos. Hoje a computação cognitiva já afeta muitas áreas, entre elas RH e Jurídico. Na área jurídica já existem processos robotizados, capazes de interpretar, com relevante grau de assertividade e muita rapidez, por exemplo, tendências de decisões sobre processos encaminhados aos tribunais.
Esperamos o mesmo tipo de experiência intuitiva e tátil no local de trabalho através de nossos smartphones, tablets e sistemas corporativos. Os sistemas cognitivos mudarão o local de trabalho de maneiras que ainda não imaginamos. O local de trabalho poderá, em breve, incorporar ferramentas de realidade virtual e dispositivos portáteis, todos conectados a uma plataforma cognitiva.
Enfim, estamos imersos em um mundo de transformações, mudanças radicais e ao mesmo tempo repleto de oportunidades onde o FM pode e deve explorar para tornar-se cada vez mais protagonista e relevante no mundo dos negócios.