Por Alexandre Raith
Quem imaginaria que um projeto cultural e educativo, criado em 1940, se tornaria referência em transformação social? Que a ideia de criar centros de ensino, cultura, esporte e saúde seria desenvolvida em dezenas de unidades espalhadas pelo Estado?
Essa breve trajetória resume a história do Sesc São Paulo, que surgiu em um escritório no centro da cidade e, hoje, possui uma rede de 40 unidades. E vem muito mais por aí.
O programa de expansão prevê a abertura até o ano que vem de quatro unidades do Sesc na capital (Avenida Paulista, 24 de Maio, Campo Limpo e Parque Dom Pedro), e outras quatro nos municípios de Guarulhos, Franca, Osasco e Birigui. E a entidade iniciará projetos em Limeira e Marilia ainda em 2017.
Relevância arquitetônica
Uma marca dos projetos do Sesc é a arquitetura, cujos projetos saíram das mãos e das mentes de grandes nomes, como Lina Bo Bardi (Sesc Pompeia) e Icaro de Castro Mello e Alfredo Paesani (Sesc Consolação). Agora chegou a vez de Paulo Mendes da Rocha.
O arquiteto, em parceria com o escritório MMBB, está a cargo do projeto do Sesc 24 de Maio, em pleno centro de São Paulo. Com entrega prevista para o primeiro semestre e área construída em torno de 28 mil m2, a unidade ocupará um edifício onde funcionou uma loja departamento, e terá ícones da cidade como vizinhos – Theatro Municipal, Praça das Artes, Galeria do Rock e Biblioteca Mário de Andrade.
A estrutura do Sesc 24 de Maio será dividia em dois edifícios. Um deles, formado por subsolo, térreo e 13 lajes, abrigará as atividades voltadas ao público. O outro será destinado às áreas técnicas e de apoio, com 19 pavimentos.
O complexo cultural contará com teatro de 246 assentos, auditório de 79 lugares, espaço de exposições, biblioteca, sala equipada com 36 terminais com acesso à Internet, 14 consultórios, comedoria e áreas para a prática de atividades físico-esportivas. Na cobertura, cafeteria, solário, vestiários e uma piscina de mais de 600 m2.
“A piscina é impactante, de 25 por 25 metros, naquele lugar da cidade, a cem metros do Theatro Municipal, a céu aberto, no meio do centro de São Paulo”, afirma Marta Moreira, Arquiteta do escritório MMBB. A instalação dessa área de lazer exigiu adaptações estruturais.
No edifício original, havia um espaço central com uma cúpula, que foi removida, além de um vazio central, por onde agora sobem quatro colunas que sustentam o tanque da piscina.
“A nova carga jamais poderia ter sido apoiada no prédio existente. São estratégias muito interessantes e que agregam valor e beleza ao projeto. Essa estratégia também viabilizou a existência do teatro no andar de baixo, além da piscina e da circulação em rampa, que não é muito comum em um edifício verticalizado”, explica a arquiteta.
Convivência
Por ser um empreendimento de uso público e recreativo, todo o sistema de circulação do Sesc 24 de Maio será em rampa, a fim de estimular a vivência tanto entre os espaços como entre as pessoas. “Os programas do edifício se organizam por blocos. Tem um bloco programático, por exemplo, que liga a sala de leitura, a biblioteca e o restaurante. Essas características fazem a diferença na dinâmica das atividades e da vivência do prédio”, explica Marta Moreira.
A integração será estimulada por uma escadaria de seis metros de largura, que desce do teatro diretamente ao foyer, à cafeteria e à calçada da cidade. O programa também criou áreas de estar, e a fachada com movimentação e variações revela essa condição. O andar da convivência, por exemplo, não tem caixilho. É um andar aberto, como uma varanda ligada ao solário da piscina.
“A condição primeira do empreendimento é o endereço. Estar em um lugar muito vivo, com muita circulação de gente e com diversidade de público, é muito estimulante e instigante. Será bonito de ver. É uma unidade com intensidade e potencial, com o apelo de ter um uso intenso e um público diverso”, acredita a Arquiteta Marta Moreira.
Racionalidade
A localização do Sesc 24 de Maio, em pleno centro da capital paulista, também exigiu um planejamento logístico, que levou em conta horários, dimensionamento exato de equipamentos de transporte e o descarregamento, respeitando a legislação de acesso e do silêncio, além da implantação de um sistema de exaustão de fumaça e de acionamento automático de abertura de caixilhos.
A nova unidade foi projetada para empregar o uso racional de água e de energia elétrica, dotada de sistemas de supervisão predial. Já o aquecimento solar utiliza placas solares instaladas na vertical, na empena da fachada do edifício de serviços, fornecendo água quente para os vestiários. Os tanques de armazenamento terão apoio elétrico, que será acionado automaticamente. Já a piscina é utilizada como reservatório para o sistema de chuveiros automáticos.
“O projeto foi um desafio desde o começo, por partir da proposta de requalificação de edifícios já existentes e construídos inicialmente para outros fins. A falta de documentação técnica também representou um desafio”, afirma Danilo Santos de Miranda, Diretor Regional do Sesc no Estado de São Paulo.
“Para garantir a realização das obras em completa segurança, foi adotado o processo jet grounting para contenção do subsolo para, de forma monitorada, executar as fundações e as escavações do subsolo para o teatro, sem oferecer qualquer risco às edificações vizinhas”, completa Miranda.
Gestão educativa
Habituado a receber grandes públicos, nos mais diversos eventos e manifestações culturais, o Sesc continuará a aplicar uma ação educativa permanente para receber as cinco mil pessoas que são esperadas, por dia, na nova unidade. Para isso, Miranda explica que a entidade se utilizará de métodos, processos e referências de gestão de entidades privadas.
“Os benefícios na escolha deste modelo de gestão estão na utilização de mecanismos de racionalidade administrativa próprios das entidades privadas, a partir dos quais se busca atingir os objetivos centrais estabelecidos, tendo a educação permanente como conceito norteador de todas as ações”, afirma o Diretor Regional do Sesc.
Já a prestação dos serviços, como em todas as unidades da entidade, ficará a cargo de equipes interna e externa. Segundo Miranda, limpeza, segurança, manutenção, obras e projetos serão realizados por empresas terceirizadas, sendo a contratação firmada através de processos licitatórios. Apenas pequenos reparos emergenciais serão executados pelo Sesc, que se responsabiliza pelo planejamento, supervisão e gerenciamento desses contratos.