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Da herança húngara humilde à liderança em FM

Cibele Verasto, Regional Facilities Lead na Newmark Brasil, aborda relação entre vida pessoal e profissional.

Por Cibele Verasto

 Da herança húngara humilde à liderança em FM

Minha história começa antes mesmo de eu nascer, assim como minha trajetória profissional está entrelaçada com a pessoal. Tudo começa durante a Segunda Guerra Mundial, quando minha família, de imigrantes húngaros, chegou ao Brasil fugindo dos nazistas. Eram pessoas que chegavam em navios precários e aceitavam empregos por comida.

Meus avós maternos, que não falavam português, desde muito pequenos ajudando os pais trabalhando em lavouras. Com o passar dos anos, migraram para São Paulo, e assim ambos construíram sua vida de maneira muito humilde. Similar foi com minha avó paterna, com empregos singelos e que criou seus filhos em Carapicuíba. Meu início veio daí, de mãe e pai de criação humilde, que travaram suas próprias batalhas assim como meus avós, para conquistar seu espaço e estabelecer uma família. Portanto, cresci em uma casa sem privilégios. Fui estudante de escola pública, e mesmo antes de saber o que eu queria fazer, minha única certeza e sonho era aprender a falar inglês.

Iniciei com o único recurso que tinha: um velho dicionário de inglês da época, decorando palavra por palavra. Aos 17 comecei em um trabalho que me permitiu seguir pagando minha faculdade e meu curso. Nessa época namorava um rapaz que conheci na escola, fizemos faculdade juntos, e eu entendia que tínhamos propósitos iguais, mas com o passar dos anos descobri que os propósitos não eram os mesmos, mas esse relacionamento seguiu adiante mesmo assim.

Aos 19 anos comecei aos poucos na área de FM, como coberturas de férias, bicos etc., e aos 20 fui convidada para trabalhar como assistente na primeira multinacional da minha trajetória, a Cushman & Wakefield. Assim aceitei com o propósito temporário de ficar para “pagar minhas contas” e depois mudar de área (na época estava focada em trabalhar como design gráfico). Iniciei de forma muito tímida naquela operação (e o cliente era um banco, que administrávamos agências em todo território nacional), eu me lembro de não saber diferenciar uma manutenção preventiva de uma corretiva (e dava baixa nas ordens de serviço erradas!). Eu tive muita sorte porque tive um gestor que me desafiou e acreditou no meu potencial.

Aos poucos, conforme eu ia aprendendo e entendendo a operação, começava a criar pequenos relatórios, processos de melhoria, e acabei entendendo que eu tinha um certo talento para tal. O fato de ser uma pessoa criativa  me favorecia para maior organização da operação. Nesse momento eu criei uma nova perspectiva em que poderia empenhar ali meu potencial, e creio que esse momento foi crucial pois ali eu decidi ficar. Após dois anos ao lado desse gestor incrível fui transferida para outro cliente. Dessa vez, para administrar um campus inteiro de uma universidade de elite em São Paulo, que apesar da logística complicada segui ali apoiando a operação.

Aos 22 anos (com  aquele mesmo rapaz da adolescência) fiquei grávida, então fui transferida para outro cliente da área da saúde em uma localização mais próxima. E lá fui transferida para auxiliar no setor de frotas. Novamente com o talento para organizar, pude ajudar a colocar em ordem passivos e dar segmento na área, até minha saída de licença maternidade. Ao retornar, no mesmo cliente, porém ajudando em manutenção e mais tarde assumindo os temas de requisições de compra, notas fiscais, e então expandindo pois pude criar processos de melhorias quanto aos controles de pagamento e controles dos fornecedores, iniciei a dar treinamento do sistema para funcionários, criei manuais, iniciei reuniões de soluções de problemas com fornecedores etc.

Nessa época comecei a refletir sobre estar em um relacionamento que não seguia os mesmos propósitos, e eu tinha muito medo de ficar sozinha com um bebê, sendo que eu mal me sustentava. Decidi, que era hora de dar um próximo passo: eu precisava crescer na carreira para ser capaz de dar um futuro digno para meu filho. Comecei a olhar para o mercado, e em maio de 2012, fui convidada para trabalhar na JLL. Iniciei como analista de um grande banco, com propósito de consolidar processos entre as equipes de todos os prédios que gerenciávamos. Dali, fui transferida para um grande cliente do ramo de bebidas premium, um escritório para pessoas VIP onde o desafio foi novamente a organização de processos e estabelecer controles e relatórios, onde permaneci por dois anos ainda como analista.

Em 2014 tive duas “viradas” na minha vida: primeiramente o relacionamento com o pai do meu filho ficava cada vez mais difícil, e pelas dificuldades financeiras e divergências, perdi tudo que eu tinha, incluindo minha moradia, e sem ter para onde ir com meu filho, voltei a viver com minha mãe. A segunda virada foi a oportunidade de administrar um grande cliente global, sendo promovida para coordenadora. O desafio foi reestruturar toda a área de FM, o que me fazia trabalhar muitas vezes até tarde da noite.

Essa época, apesar de enriquecedora da minha vida, foi a mais dura: tive que tentar equilibrar entre a maternidade e a carreira. Focar tanto no meu trabalho para poder reerguer minha vida e dar um futuro melhor para meu filho, muitas vezes resultou com que eu perdesse alguns momentos da vida dele, que gera um sentimento de culpa até hoje, mas foram escolhas por ele e para ele. Enfim, nada seria de mim sem minha rede de apoio: minha mãe. Foi nessa época de minha carreira que comecei a ter equipes e me tornei gestora, percebi que uma das minhas felicidades e motivações era poder apoiar as pessoas em suas carreiras.

Após 5 anos nesse cliente fui promovida para gerente, iniciei uma implantação de um novo cliente e após concluída, fui enviada para um outro contrato Global. Passei pela pandemia, onde tudo teve que ser reinventado e repensado, e meio a isso cheguei a Gerente Regional Latam.

Após 4 anos nesse cliente, entendi que meu ciclo estava se encerrando, e nesse momento acabei recebendo uma proposta para trabalhar na Newmark, para um grande cliente fintech. Hoje conto com uma equipe de 18 colaboradores pelo mundo, com um portfólio completo de serviços de Facilities.

E onde cheguei, desde ali do nada até aqui, nada disso teria sido possível se meu filho não tivesse me impulsionado e motivado a passar por tantos desafios, e pela minha mãe que foi meu apoio durante anos tão doloridos quando me senti uma mãe incompleta por não estar ao lado do meu filho. Mãe, filho, vocês são tudo que preciso, espero até aqui, ter honrado vocês dois.

Sou muito feliz por ter conquistado esse espaço na Newmark, e tenho comigo uma equipe de profissionais fantásticos que me enchem de orgulho, assim como outras equipes que tive no passado e pude apoiar no crescimento profissional individual. Esse depoimento é dedicado a todos os profissionais de FM: não se esqueçam que tudo vem com muita luta, mas tudo é possível se você acreditar em si mesmo.


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