De forma inédita entre os bancos de desenvolvimento do mundo, o BNDES divulgou na COP27 um documento com seus compromissos para o clima. Em alinhamento com a Nationally Determined Contributions (NDC - em português Contribuição Nacionalmente Determinada) brasileira, o BNDES assume o compromisso de ser neutro em carbono até 2050, considerando os escopos 1, 2 e 3 de seu inventário de emissões. O Banco é o primeiro a fazê-lo entre os bancos de desenvolvimento internacionais e de forma abrangente a todas as operações.
Para assumir este compromisso, o BNDES está divulgando o documento "Clima e desenvolvimento - A contribuição do BNDES para uma transição justa", no qual o Banco organiza as ações, aprovadas no planejamento estratégico do banco, que estão sendo e serão tomadas para alcançar, além da neutralidade em carbono até 2050, o banco se compromete a neutralizar as emissões nos escopos 1, 2 e as relacionadas a viagens a negócios e deslocamento de funcionários (casa-trabalho) a partir de 2025; finalizar o inventário das emissões financiadas do escopo 3 para as demais carteiras do BNDES; definir, em 2023, metas de neutralidade para as carteiras de crédito direto, indireto e renda variável; definir, em 2023, metas de engajamento para acelerar a transição dos seus clientes para a neutralidade em carbono; e incorporar, em 2023, a contabilização de carbono nos processos de aprovação de apoio a novos projetos.
"O mais importante é a abrangência destes compromissos. Eles serão contabilizados para todos os negócios do banco, incluindo a carteira de crédito direto, indireto e participações acionárias. O BNDES será neutro em carbono em todas suas operações até 2050. Além disso, até o fim de 2023, todos os novos projetos terão seus inventários de emissões detalhados e oportunamente serão neutralizados", explica Bruno Aranha, diretor de Crédito Produtivo e Sociambiental.
As contribuições do BNDES para clima e desenvolvimento são alinhadas à estratégia climática nacional. O Banco atua na mitigação, já com resultado nos mais diversos setores, como energia, logística e mobilidade urbana, mudanças de uso da terra e florestas (MUTF), agropecuária, indústria e saneamento, além de também estimular o crédito à adaptação.
O documento contou com o apoio técnico da WayCarbon, empresa de base tecnológica e consultoria estratégica com foco exclusivo em sustentabilidade e mudança do clima, apoio esse viabilizado por meio de uma parceria do BNDES com o UK Pact (Governo Britânico). "As instituições financeiras possuem responsabilidade de contribuir com a justiça climática, analisando também quais os riscos climáticos dos projetos financiados e, consequentemente, seu impacto no respectivo território", avalia Laura Albuquerque, gerente sênior de Consultoria na WayCarbon. "Esse projeto com BNDES deve se tornar referência mundial em transição climática justa pelo engajamento das empresas da carteira de crédito direta e definição de metas e estratégias de transição para o net-zero, além da mobilização de agentes financeiros, públicos e privados, para apresentação de inventário de emissões de GEE e promoção de práticas de mitigação e adaptação dos efeitos das mudanças climáticas, com produtos que incentivem investimentos associados", complementa a executiva.
Segundo o documento "para alcançar esses compromissos de transição climática, foram traçadas ainda estratégias transversais e estratégias específicas aos setores-chave. As estratégias transversais incluem a busca do engajamento das empresas e instituições financeiras repassadoras dos recursos do BNDES, tanto em relação à elaboração de inventários de emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE), quanto à definição de metas e estratégias de transição para neutralidade de emissões e incorporação de boas práticas relativas a clima. Preveem ainda a oferta de produtos financeiros que promovam investimentos em transição e resiliência climática e o avanço na incorporação de inventariado de emissões e de aspectos climáticos na estruturação de projetos de infraestrutura e desestatização. O Banco pretende ainda trabalhar com outros parceiros para promover práticas de adaptação aos efeitos da mudança do clima e contribuir para a estruturação do mercado de carbono brasileiro, de projetos de prevenção do desmatamento e de soluções baseadas na natureza.
Já as estratégias setoriais complementam as abordagens transversais. As ações com foco no setor de energia incluem: o apoio à descarbonização da matriz energética brasileira por meio de projetos de eficiência energética, a produção e aproveitamento de biogás e biometano, a geração por fontes renováveis, incluindo a estruturação de projetos de hidrogênio verde para consumo doméstico e internacional, além da promoção de tecnologias de captura e estocagem de carbono (CCUS) nas atividades de biogás/biometano. O tema de eletrificação e uso de fontes renováveis na logística ferroviária e mobilidade urbana será um dos tópicos centrais da atuação do BNDES no setor de logística e mobilidade urbana, assim como o incentivo ao transporte urbano de alta capacidade e baixa emissão, incluindo infraestrutura cicloviária, e o apoio a logística de baixo carbono.
As estratégias para atividades de mudança e uso da terra e florestas incluem investimentos para prevenção, combate e monitoramento do desmatamento ilegal e atividades de recuperação de áreas degradadas. Além disso, soluções de uso sustentável da floresta e da biodiversidade, em especial a bioeconomia, serão incentivadas. Com foco na agropecuária, o BNDES pretende fomentar a sustentabilidade na cadeia de valor do setor, financiando o uso de bioinsumos e biofertilizantes, e impulsionar a redução do desmatamento por meio da integração lavoura- pecuária-floresta. Nas operações diretas do setor, irá investir na produção e uso de biocombustíveis e na redução de emissões de carbono e metano associadas à pecuária bovina, além de apoiar o aumento de produtividade por meio da adoção de novas tecnologias, reduzindo a pressão pela abertura de novas áreas produtivas.
Entre as diferentes atividades da indústria, o Banco atuará para promover a descarbonização a partir de eficiência energética e uso de energias renováveis, substituição de matérias-primas por alternativas de menor intensidade de emissões de GEE, assim como iniciativas de captura de carbono e economia circular. O Banco também fomentará a mineração de insumos essenciais para as tecnologias da economia verde, como cobre, lítio, níquel e outros, monitorando e induzindo o cumprimento de altos níveis de proteção ambiental e contrapartidas sociais. No setor de saneamento, serão incentivados projetos que ampliem o acesso aos serviços e contribuam para reduzir desigualdades sociais e regionais, investir em ações de captura e uso de metano, aproveitamento de biogás, e em iniciativas de geração zero de resíduos e compostagem em macro escala.
Na temática de adaptação, o BNDES atuará em linha ao Plano Nacional de Adaptação (PNA), direcionando capital para setores e tecnologias de adaptação prioritários, incluindo ações com municípios e estados em projetos de infraestrutura e desenvolvimento urbano resiliente. Também pretende ampliar suas linhas de financiamento para adaptação e incluir mitigantes em projetos de infraestrutura, minimizando efeitos de impactos físicos da mudança do clima como enchentes, inundações e deslizamentos. A estratégia climática do BNDES está amparada na oferta de ampla gama de soluções financeiras e não financeiras, para todos os setores-alvo e abrangendo produtos de crédito, fundos garantidores setoriais, serviços e recursos não reembolsáveis.
As iniciativas para medir o impacto do BNDES já começaram na COP 26, realizada em Glasgow na Escócia. Lá, o BNDES lançou seu Painel NDC, com foco em clima, que mostra os desembolsos para os setores de energia, florestas, mobilidade urbana, biocombustíveis e resíduos sólidos que contribuem para as metas de redução de emissão de GEE do Brasil. Somente nos setores de energia, mobilidade urbana, florestas, biocombustíveis, iluminação pública, resíduos sólidos e transportes, para os quais já temos uma metodologia de cálculo, prevemos que nossos projetos aprovados desde 2015 estão contribuindo para evitar a emissão de 86,6 milhões de toneladas de CO2 ao longo de suas vidas úteis, o que equivale a 32 anos das emissões da frota atual de carros da cidade de São Paulo (SP).
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