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De volta para o Office? Qual Office?

E os impactos no Real Estate

*Por Ronald Kapaz | Co-Founder, Head Designer and Chief Strategy Officer at Playground Lab Design

A resposta, ou uma luz, pode estar no primeiro iMac e no Aeroporto de Tallin. Paira no ar a pergunta de mais de um milhão de dólares para um grande segmento produtivo, o de Real Estate Corporativo. Mas também para nossas vidas, profissionais e pessoais . Esta indústria complexa e sofisticada vem buscando respostas e "fazendo apostas" que se alternam entre o "wishful thinking" puro - "claro que vai voltar" -, o ponderado - "volta, mas vai precisar de um novo paradigma e um novo conceito" - e o negacionismo radical do tipo "o espaço e o mundo corporativo, como o conhecíamos, acabou!".

Este segmento é ponto pivotal de diversas dimensões da vida contemporânea, interligando questões do espaço da cidade e seu desenho - que como pontuou Churchill, "nos desenha de volta" -, questões de comportamento, organização coletiva e socialização produtiva, e questões simbólicas ligadas ao ato, espaço e tempo do "trabalhar" e "produzir".

A pandemia provocou o distanciamento físico necessário, e também provocou o distanciamento comportamental do que era hábito e do modelo "oficial", o que nos permitiu parar para pensar e refletir sobre ele, seu valor, sua eficiência e sua razão de ser. Tivemos, os que puderam, que levar o trabalho, o "Office", pra casa, e dar à luz ao conceito e à prática do "Home Office".

Nos dois pólos dessa tensão estão o espaço da casa e o espaço do trabalho.

Numa conversa profissional com um agente desta indústria, dentre outros tantos que tivemos oportunidade de atender e continuamos atendendo em demandas estratégicas ao longo dos anos, nos foi colocada essa pergunta, mais uma vez, e me ocorreram duas lembranças. 



Vamos à primeira.

Um case histórico que estudei em profundidade, pela relevância estratégica e de design associado a ele: a revolução da chegada dos computadores a nossas casas, capitaneada brilhantemente pela sensibilidade e percepção da Apple de Steve Jobs e seu time em observar, ler e responder à sutileza e relevância do passo a ser dado para que cada um de nós, naquele momento, considerasse a possibilidade, então absurda, de levar pra casa (home) uma máquina de escritório (Office), um computador.

Até então os computadores, que nasceram como equipamento de trabalho e, portanto ligados ao espaço do trabalho, tinham forma e função de equipamentos de trabalho - quadrados, cinzas e opacos como um armário de escritório - e portanto eram vistos e simbolicamente associados a objetos de escritório.

Intuindo que isso poderia mudar, e pensando sobre como favorecer essa mudança através da leitura cuidadosa do contexto, da vida e dos comportamentos, a Apple usou o design em sua potência máxima, provocando uma revolução cognitiva que virou revolução comportamental, ao lançar, em 1998, a primeira  linha dos iMacs, coloridos, transparentes, redondos e "apetitosos" como uma guloseima, e fáceis de usar ("plug and play" era o moto tecnológico e comportamental). Assim, o objeto frio, opaco e insosso ganharia a simpatia e atenção do usuário, que passou a vê-lo, considerá-lo e desejá-lo a ponto de querer levar pra casa. Outros pequenos e enormes detalhes, todos brilhantes, como por exemplo o de trocar o pulsar no modo "on-off" do led de stand by (código de máquina) para um pulsar de intensidade gradual, como uma respiração de algo que dorme traduzido em luz (código humano) foram estudados e incorporados para produzir a revolução desejada.

Guardemos essa inspiração e avancemos no tempo para 2015, e para outra lembrança marcante:  Aeroporto de Tallin, na Estônia.

Voltando de uma viagem de trabalho que fiz à Estônia em 2015, tive a felicidade de usar o Aeroporto de Tallin na volta pra casa. Uma experiência única e iluminadora que, naquele momento, me tocou pela originalidade conceitual, e que me voltou aqui como memória inspiracional do que pode um espaço provocar, quando pensado em sua potência arquitetônica simbólica e funcional.

Alí, ao invés da ambiência fria, padronizada e exclusivamente funcional, impessoal e massacrante pela escala, de salas de embarque convencionais que todos conhecemos bem, você se vê num ambiente quente, acolhedor, com estantes de livros à disposição de quem queira ler algo para esperar seu voo, poltronas confortáveis de veludo e pequenos ambientes de intimidade (ao invés de saguões "industriais" impessoais), distribuídos sobre tapetes coloridos, ao redor de mesinhas ao estilo coffee-table caseiras, e iluminados pela luz quente indireta vinda de abajures baixos e aconchegantes.

Uma espera de outra qualidade e uma experiência de "voltar pra casa" que antecipava a ideia de casa.

Resumindo, tudo o que um aeroporto nunca foi.até então.

Olhando, por fim, para essas duas inspirações que me voltaram na forma de memórias, poderíamos considerar um caminho e uma resposta para a tal da pergunta importante e valiosa sobre a "volta" ao "office", ainda que de forma híbrida.

Se termos nos deslocado, forçadamente, para o "home office" provocou uma invasão dos códigos de escritório em nosso espaço da casa, a volta poderia ser promovida gentilmente, e não forçada, por uma lógica inversa, que teria o poder de combinar o melhor dos dois mundos: a volta a um "office home", um novo espaço e um novo ambiente, com um novo desenho, em que a frieza, escala, impessoalidade e falta de privacidade dos grandes salões de trabalho pudesse dar lugar ao calor, aconchego, códigos e experiências que passamos a perceber e valorizar estando mais tempo em casa, trabalhando e vivendo.

E, principalmente, recuperando a beleza insubstituível que é estar ao lado de seus colegas, compartilhar tempo e espaço, de trabalho e de vida, trocando ideias, risadas, segredos, dores, temores e inspirações, gestos e gentilezas, valores e rituais que só o mundo real e o encontro podem nos oferecer, e que costumamos chamar de cultura.

"Todo organismo social, não importa quão pequeno ou temporário seja, é uma nova instância de vida lutando por manifestar o seu ser, vestindo-se de uma forma social particular. É a essa vida, a essa totalidade em seu processo de crescer e tornar-se algo, que estamos sendo chamados a atender."

Fotos: Ronald Kapaz / Divulgação.


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